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A Amarello, uma revista em expansão que vive e celebra a cultura em brasileiro, inaugurou neste fim de 2021, a sua primeira loja temporária e itinerante. O espaço traz uma experiência 360 graus que unifica todos os campos de atuação da marca. Em uma espécie de cenografia efêmera, a arquitetura e a direção de arte dialogam com os códigos de cada local. Em São Paulo, o ambiente fica aberto para visitação até o dia 10 de janeiro apresentando para os leitores o seu universo expandido. Com a proposta de ter um ponto fixo a cada duas coleções de sua feira online, a Amarello pretende chegar a outros estados brasileiros em breve.

O movimento pode ser considerado ousado, principalmente em um momento de tantas dificuldades para quem vive de cultura no Brasil. Todas as iniciativas são pensadas pelo fundador da revista, Tomas Biagi Carvalho. Formado em publicidade e pós graduado em design editorial, ele divide seu tempo entre o mundo editorial e seu estúdio de criação. Saiba mais sobre a Amarello pelas palavras do Tomas:

Foto: Divulgação/Revista Amarello

– Como surgiu a ideia de expandir o projeto para múltiplas plataformas?

TBC: Logo que começou a pandemia, tivemos todos os contratos de publicidade cancelados. Isso desencadeou em mim a necessidade de repensar todo o modelo de negócio da revista e o primeiro passo foi uma radicalização do digital, que até então só trabalhávamos organicamente. Sendo assim, criamos um site novo, onde disponibilizamos online, pela primeira vez, todo o conteúdo dos 11 anos de vida da revista até então, com assinaturas digitais, newsletter, etc… Como o investimento em uma plataforma de venda online é alto e tínhamos apenas um produto sendo lançado a cada três meses, que é a periodicidade da revista, a conta não fecharia. Sendo assim, resolvi tocar a iniciativa da feira – um projeto antigo que eu tinha de lançar coleções de produtos em colaboração com marcas, designers e artesãos que gosto, em uma periodicidade que fosse intercalada com a da revista, para ganharmos ritmo de lançamento de produtos na loja online. Depois de duas coleções de produtos lançadas no digital, senti uma necessidade muito grande de ter um ponto de venda físico que retroalimentasse o site. Está cada vez mais desafiador levantar e comunicar um negócio na internet, e nada substitui o contato físico das pessoas com os produtos.

– Fale um pouco sobre a presença da Amarello em outros campos – digital, feira, loja e Prêmio da Canção.

TBC: A Amarello é uma revista física e digital, que acredita no poder e na capacidade de transformação individual do ser humano, além de enxergar o mundo através dos olhos da “cultura em brasileiro”. Um ecossistema que se materializa na revista impressa, no site, nas coleções da feira, nas lojas temporárias e em breve no Prêmio da Canção, que é uma evolução natural de um projeto nosso chamado Febre Amarella, que fazíamos na Casa de Francisca, em São Paulo, onde um músico da nova geração fazia um show em homenagem a um ídolo, criando um diálogo entre os dois corpos de trabalhos musicais. Sobre o prêmio, já que debatemos e defendemos tanto a “cultura em brasileiro”, queremos transformá-lo em um agente cultural que valide e dê luz para essa nova geração de músicos que tem um trabalho excelente, lança seus discos nas plataformas de streaming e sente muita dificuldade em se destacar perto dos gigantes da indústria.

– O que significa para a Amarello esse movimento ousado de expansão em um momento tão difícil para a cultura brasileira?

TBC: Eu acredito que a única maneira de sairmos desse buraco em que estamos, de tentar estancar minimamente o processo de precarização, devido ao neoliberalismo e ao domínio do Vale do Silício, sob o que compramos, o que desejamos e quem somos, é a cultura. Como somos um país altamente regido pelo estrangeiro há séculos, ou olhamos agora para quem somos e para o que podemos oferecer para o  mundo, ou não haverá mais jeito de resistir e tudo vai virar uma coisa só, pasteurizada. Vejo um movimento forte de valorização do que é nosso acontecendo nos últimos anos, mas precisamos mais. Muito mais.

– Quais os próximos passos da loja itinerante? Quais cidades brasileiras devem receber o espaço?

TBC: Os planos são abrir, em 2022, uma loja no Rio de Janeiro e outra em Belo Horizonte. Cada espaço respeitando as tradições e os códigos locais, para propor novidades a partir deles. Nossa missão com os centros físicos da revista é colocar o Brasil de frente com o Brasil, abrindo espaços temporários em cidades por todas as regiões do país, entendendo e nos adequando ao que faz sentido para cada lugar. Por isso, na loja de São Paulo, partimos da ideia de repensar um armazém paulista do século XIX, que é uma coisa muito daqui, e, em cima dos produtos tradicionais e clássicos daquela época que ainda existem, propor um novo olhar e uma nova maneira de consumo. Contemporânea. Que de fato não é nova, mas foi perdida.

– Você acredita que essa experiência deve gerar trocas ainda mais profundas com criativos locais?

TBC: Não tenho dúvida. Essa ideia nasceu dos contatos que faço com pessoas, instituições e lugares quando viajo pelo Brasil. Como começamos durante a pandemia, não tive muito como viajar, e estou criando com pessoas que já conhecia ou que me foram apresentadas remotamente devido ao isolamento social. Quando as coisas se normalizarem, ganharemos fôlego e abrangência maiores.

– Em quais publicações você se inspirou para levar a Amarello para além da revista, contemplando um espaço físico?

TBC: Já há mais de 10 anos que as revistas de nicho, internacionais principalmente, onde o mercado leitor é infinitamente maior do que no Brasil – pelo fato de eles terem um sistema educacional efetivo e, consequentemente, cultura e hábito de leitura – têm um modelo de negócio que não é mais uma grande redação com muitos funcionários e custo fixo alto. Várias publicações vem fazendo esse movimento de buscar uma segunda fonte de renda além da revista e seus canais. Esses títulos cada vez estão mais específicos em seus assuntos e, consequentemente, falam mais diretamente com o seu público leitor: A Kinfolk, que causou uma revolução estética no mercado editorial, tinha um serviço de catering e uma loja de roupas; A Holiday, que é uma revista de turismo francesa dos anos 60, foi reativada pelo Franck Durand, diretor de arte, e abriram uma marca de roupas que desfila em Paris, além de um café muito legal perto da loja/estúdio deles; A Monocle tem lojas em várias cidades, com cafés super gostosos e produtos que criam com marcas do mundo todo; A Gentlewoman tem produtos também, mas só no site. Eles promovem encontros em galerias, museus, jantares e almoços para os assinantes, além de produzir uma revista de literatura em colaboração com a Penguin, e fazer a revista da marca COS; Por fim, o site Goop, da Gwyneth Paltrow, para mim é o maior case de sucesso. Ele começou como uma newsletter onde ela dava dicas de viagem e gastronomia para amigos. Fez tanto sucesso que essa newsletter virou um site, que depois de um tempo começou a lançar produtos de lifestyle, até virar uma revista impressa que é vendida nos Estados Unidos inteiro. Hoje eles têm lojas temporárias em lugares de veraneio, encontros culinários, aulas,  etc…

Loja Amarello:

Endereço: Rua Joaquim Antunes, 392, Pinheiros, São Paulo – SP

Horários de funcionamento:
Dom – 13 às 19h
Seg a qua – 10h às 19h

Qui a sáb – 10h às 21h

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