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Brittany Kaiser, ex-diretora de estratégia de negócio da Cambridge Analytica, era um dos nomes mais esperados para o WebSummit 2019. Antes vamos só relembrar: Brittany Kaiser denunciou o escândalo Cambridge Analytica quando em 2016 a empresa de consultoria política usou dados de milhões de perfis do Facebook para fins políticos na campanha de Donald Trump nos Estados Unidos.

De lá para cá virou uma ativista pela proteção de dados, mas diz que pouca coisa mudou no mundo.

Neste segundo dia de Web Summit em Portugal, Kaiser falou em táticas da empresa que têm especialmente como alvos “mulheres e minorias” e sugeriu algumas medidas que podem ser tomadas nos níveis legislativos e também em âmbito digital. No entanto, o grande atalho para que este tipo de campanha e de surto de “fake news” diminua está nas mãos das grandes empresas de tecnologia, e Kaiser não acredita que as grandes empresas tecnológicas deem o primeiro passo para prevenir e combater a desinformação em grande escala. Porém, diz que, se quisessem, poderiam resolver o problema com nova tecnologia.

“Os Estados Unidos e o Reino Unido, por exemplo, usam táticas para suprimir votantes, desincentivá-los e desinformá-los, tanto como em 2016. Trabalhei durante três anos e meio na empresa, fiz a campanha que levou Trump à presidência. Continuamos incrivelmente desprotegidos”, garantiu nesta terça-feira, na Altice Arena, em Lisboa.

Para ela “a maior ameaça à democracia não é a interferência externa nas eleições, é a doméstica”. E ainda complementa: “Infelizmente, não aprendemos nada com as eleições de 2016, porque Mark Zuckerberg ainda permite que isso aconteça”. “O que eu vi em 2016 foram casos avançados de instrumentalização dos dados das pessoas”. “Mas em 2020 os cidadãos de todo o mundo ainda estarão desprotegidos”, acrescenta.

A ativista não defende uma limitação restritiva dos dados que podem ser captados, mas pede 100% de transparência. Uma de suas soluções é que os dados possam ser monetizados pelos seus consumidores, assegurando que já existem empresas desenvolvendo modelos de negócio sustentáveis nesse sentido.

“Se me derem 25% de desconto no almoço não me importo de compartilhar os meus dados”. Ainda complementa “Não é justo que seja o único produto do qual os consumidores não podem retirar qualquer lucro. Devemos ter a posse da nossa informação. Não podemos fazer muito em relação ao passado, mas é importante que possamos proteger o nosso futuro e o dos nossos filhos e netos”, frisou.

Portanto, há outros caminhos para proteger a privacidade e prevenir a desinformação, frisa Brittany Kaiser. Dois deles é a educação e a sensibilização desde a infância para questões desse tipo. A outra passa pela tecnologia.

“Se o Facebook investisse, poderia resolver o problema. Sou uma grande defensora do uso de “blockchain” e de encriptação avançada. Mas quem opta por uma transparência radical, como eu, deve ser remunerada por isso”, esclareceu.

Quanto ao Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD), Kaiser considera que deve ser mais simples e provoca “Quem aqui já leu os termos e condições antes de instalar um app ou aceitar cookies? As pessoas não percebem o que leem, não há um consentimento informado”, assinalou. Na sala ninguém se manifestou.

“Os termos e condições devem ser simples. Se uma empresa vende dados a outra isso tem que estar escrito de forma simples, explícita e com o propósito bem definido.”

 

Por Giselle Malvezzi Mendes

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