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Todos já perceberam que a crise do mercado é inevitável, seja para qualquer área do primeiro, segundo ou terceiro setor.  Cada um está tentando sobreviver a situação atual, mas precisamos pensar como isso pode alterar a estrutura mercadológica. Talvez a questão principal seja essa, o que a crise pode ensinar para todos. Ao invés de tentarmos manter a cabeça para fora da água, chegou o momento de percebemos que nadar é a melhor saída. Na entrevista a seguir, Mentor Muniz Neto,  CCO da Bullet, comenta sobre as apostas estratégicas e formatos inovadores que a empresa está tomando para chegar aos melhores resultados. Sempre pensando no agora e no futuro, e nunca esquecendo da missão da empresa de criar conexões relevantes entre pessoas, colocando o contexto no meio do jogo para todos.

 

ADNEWS – Você está preocupado com a crise e o que você tem pensado sobre tudo isso?

Mentor Muniz Neto – Estamos preocupados evidentemente, estamos em um momento que é único na história, nunca aconteceu nada assim. O que a gente tem especialmente no nosso setor de live marketing e de promoção. A gente também sofre com isso, porque os eventos foram cancelados, a gente perdeu essa receita que a gente tinha. Esse tipo de cliente de eventos que era importante para a gente acaba não podendo fazer evento. É complicado.

Mas isso, desculpando o clichê sendo chavão,  acaba sendo uma oportunidade também para a gente pensar em algumas coisas. Uma coisa muito interessante que eu tenho visto é que o setor de marketing promocional está muito mais unido nesse momento, e começa a estudar alternativas sobre o que a gente pode fazer.

Por sorte, a Bullet não é só uma empresa de evento. Temos uma parte de digital, ativação digital e tal, que acaba sendo uma saída nesse momento. Estamos com diversas alternativas para tentar transformar em digital aquilo que até ontem era off-line, como por exemple alguns formatos de eventos. É um momento difícil, que por outro lado, dá para exercitar essas alternativas, de correr atrás desses novos formatos para o nosso negócio.

 

AD – Como você acha que o mercado e a Bullet vai responder durante esse tempo de crise? A empresa pretende manter algumas medidas tomadas agora para lidar com os funcionários pós-coronavírus ?

Neto – Não estamos pensando no depois. Isso é muito recente pra gente. Mas fomos uma das primeiras agências a fazer home office para toda a equipe, mas eu acho que as mudanças vão ser maiores do que algumas pequenas decisões que a gente pode tomar. Eu acho que é uma mudança que vai acontecer, e ela é cultural. É muito mais do que a logística, sabe? Acho que a gente só vai entender realmente o que é possível fazer depois que o principal da crise passar.

O que eu percebo é que a gente acaba construindo uma nova rotina, e nessa nova rotina, no começo, ela parece estranha… E quando eu digo que é cultural, em poucos dias, a gente já estabeleceu uma nova dinâmica de trabalhar todo mundo, como a gente discute um plano. E é uma dinâmica difícil, que até um tempo atrás a gente diria que é impossível.

Você precisa discutir o briefing, o planejamento, a criação, pode-se até fazer uma videoconferência, mas na prática, acaba sendo uma atividade de WhatsApp. Então eu acho que as mudanças são mais culturais, são para a vida inteira, não só na tua vida profissional. E agora o que estamos mais preocupados é em manter a existência da agência nesse período.

 

AD – Você acredita que a área de marketing e publicidade vai ser uma área muito prejudicada nesse momento?

Neto – Num primeiro momento, tudo é muito difícil de entender. Quais são os caminhos? O que vai acontecer? Porque é difícil pra gente, e é difícil para o mundo inteiro. Acho que vem por aí uma crise muito grande no mundo inteiro, não só aqui. (Brasil)

Aqui fica gravado muito mais esse lado social, somos um país pobre, então, fica mais complicado ainda.

Esse impacto que vai haver na economia, num primeiro momento pode ser muito preocupante, assustador, e para as agências de propaganda, as agências de promoção, ou qualquer formato de comunicação, e por quê? Quando você (cliente) não sabe o que vai acontecer, você se protege, e não tem uma posição.

Eu acho que é inevitável, a gente precisa de novas soluções, encontrar novas saídas.

A gente não pode simplesmente falar: “Bom, a economia está ruim, não vou mais anunciar” ou “A economia está ruim, não vou mais fazer promoção”.

Então, isso eu tenho uma expectativa que daqui, sendo pessimista, um mês começamos a ter uma resposta melhor do mercado. Já que todo mundo já vai estar situado, e pensar “Bom, agora é a hora de sairmos!” . Se estamos passando por uma distância social, por outro lado estamos montando uma distância de risco, distancia de investimento agora, para entender qual é esse momento. E acho que isso em um espaço curto de tempo, teremos uma posição melhor, daí acho que poderemos estar mais seguros em relação ao que vem por aí.

 

AD – Quais foram as mudanças que a empresa (Bullet) sentiu? E quais delas já estão refletindo hoje diretamente?

Neto – Eu acho que, por conhecer a equipe muito bem, eu percebi uma união especial entre eles, nesse momento. Uma compreensão da situação, não é uma situação de precisar falar: “Galera, vamos lá. A gente precisa apresentar ações proativas”. Todo mundo entendeu a situação, e eu não falo só pela Bullet, falo por todos que estão ao meu redor que trabalham em agências.

O que claramente está acontecendo é uma maturidade, uma maturação, as pessoas ficaram maduras muito rápido nessa crise.

E eu não falo da parte de saúde, falo da conscientização econômica, que todos nós estamos num business, precisamos de algum jeito sobreviver, e acho que essa é uma mudança importante.

Quem está percebendo que a gente precisa sobreviver, não é só o empresário, é quem trabalha também, é a equipe… Todos estão percebendo que é necessário uma atenção especial para o negócio funcionar.

 

AD – Qualquer um pode propagar informação, mas ela tem que ser bem utilizada e bem propagada. Não é mesmo?

Neto – Ao mesmo tempo, você tem a mesma proporção, o quanto você pode propagar a informação correta e o quanto você pode propagar a informação incorreta.

Então uma coisa que eu percebo, uma mudança superinteressante, e isso é uma das coisas que eu mais estou gostando nesse período, é ver, por exemplo, a minha equipe que sempre foi muito unida e sempre conversou de diversos temas, mas hoje em dia, nós ampliamos um leque de assunto que nós tivemos de discutir. E isso acabou influenciando ainda mais a união do grupo.

Eu percebo claramente no dia a dia da agência, os assuntos que estão na pauta que antigamente era mais voltados para trabalhos, para cases, e o que estava acontecendo no mundo de comunicação. Hoje isso mudou, as conversas, as narrativas das equipes profissionais passam a ser mais amplas, a gente fala sobre diversas coisas, é o tempo todo a gente no Whatsapp, discutindo ao mesmo tempo, seja uma campanha ou o que o Bolsonaro falou e qual atitude deve ser tomada, isso é muito legal e ajuda a ter mais maturidade. As relações profissionais passam a ser mais maduras do que elas eram.

 

AD – Antes da crise tínhamos um modo de pensar, depois de tudo isso como será o reflexo no pensamento da população?

Neto – Quando eu falei que a mudança é social, é porque depende das pessoas como as pessoas vão aceitar essas mudanças, quais mudanças vieram para ficar e quais que são emergenciais. Muita gente fala dessa descoberta de que vai haver, as pessoas estão muito tempo em casa pensando no dia a dia delas e pensando em mudanças o que é necessário para viver? Com as pessoas em casa, da para pensar sobre como eu estava vivendo antes, é possível viver de outra maneira?

Existe hoje num mundo todo, esse choque de duas gerações, que vem com um chip de colaboração, de apoiar diversidade, fazer as mulheres entrarem no negocio de maneira proporcional, sem o machismo que existia antes. Porque a antiga geração já veio com esse defeito de fábrica…

Eu estou gostando de assistir esse choque, nesse momento, que existe entre as duas gerações. Essas gerações mais novas tem a colaboração no sangue, não é preciso explicar nada. Não precisa dizer: “Olha tem que fazer tal coisa”, isso já é óbvio.

E tem uma outra geração, da minha idade, tenho 50 anos, e caras da minha idade ainda é preciso explicar que o mundo está mudando, e que precisa correr atrás dessa mudança. É curioso ver isso. E de alguma maneira, é uma das poucas vezes na história onde a geração mais nova tem que ensinar para a geração mais velha como lidar com uma crise muito séria. E eu acho que por isso que a gente tem que ver o que vai sobreviver nessa mudança. Essa crise está empoderando essa geração milênio, e pôs milênio, e eu acho que nunca aconteceu na história. Antes era: “Faz aí, que a gente decide”, era assim na minha época.

E hoje já não é mais assim, e isso é muito legal.

Ainda bem que temos gerações como essas, num momento fundamental. Eu não gosto muito de separar as coisas. Por que acho que o mundo todo sempre foi muito dividido. Eu acho que a gente está num momento muito legal onde a geração mais nova vai poder ditar para os mais velhos o que fazer. Como lidar com tudo isso?

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