Por Henrique Rojas*
Você sabe qual é a maior torcida do país? Se chutou Flamengo ou Corinthians, errou: a maior torcida do Brasil, com 24,4%, é a dos que não torcem para time algum (O Globo/ Ipec).
Pois é. Neste mesmo caminho, apesar da gigantesca polarização que invadiu o pleito de 2022, a grande surpresa das nossas eleições presidenciais foi um candidato inesperado: o ninguém. Afinal de contas, se somarmos abstinência, brancos e nulos, vamos chegar a praticamente 25% dos votos válidos – ou seja, 1/4 de todo o eleitorado.
E daí? Daí que, quando nos debruçamos sobre dados de vendas no varejo nacional e descobrimos que mais de 70% das novas compras vêm de lojas físicas (EMarketer), não deveríamos nos surpreender tanto. Porque o Brasil, meus amigos, é um país bonito e híbrido por natureza.
Ao mesmo tempo em que somos a nação que mais tempo passa conectada às redes sociais, também somos nós que esgotamos os ingressos para todos os pequenos, grandes e médios eventos de música, negócios ou esporte – mesmo que seja só pra postar nos stories.
A gente adora fazer uma comprinha pelo celular no meio da noite, mas também ama levar a família inteira pra loja na hora de comprar uma TV nova para a sala. Pede aquele tênis tão desejado pelo e-commerce, mas retira na loja porque dá tempo de experimentar e trocar ali mesmo. Coloca um monte de coisa no carrinho, mas na hora de fechar o pedido se estressa “porque esse frete tá um assalto!” e bate em retirada.
Não tem jeito. Muito embora tentemos reduzir mais de 200 milhões de pessoas à nossa bolha do trabalho ou do WhatsApp, a real é que vivemos em uma realidade de muitas realidades. E neste contexto tão complexo, achar que o brasileiro vai tomar decisões de compra de forma ágil e consciente em meio a tantas opções disponíveis é praticamente um sonho distante.
Não à toa, quando falamos sobre jornada do consumidor, seguimos a lógica do funil de conversão como um mantra central para perseguir bons números.
É claro que é possível fazer uma campanha de fundo de funil e vender muito, bem como realizar uma campanha de awareness e ser bem sucedido. Improvável é conseguir algum recall positivo de marca pensando somente em vender ou conseguir vender quilos de produtos com um rebrand. Porque, acima de tudo, é preciso pensar nela: a jornada – que está cada vez menos lógica e linear.
Nosso trabalho consiste em ler os dados, tentar entender os padrões, segmentar as não tão óbvias diferenças que temos em um cenário tão amplo e desenhar uma estratégia que não dite, mas se adeque à rotina das pessoas. Uma vez híbridos, sempre híbridos.
*Henrique Rojas é Head de Criação e Estratégia na Peppery, empresa do Brivia_Group
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do veículo.
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