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Arthur Boniconte

Arthur Boniconte é co-fundador e diretor criativo do Midiadub. O artista se formou em cinema na FAAP, onde se destacou ao ganhar prêmios dirigindo documentários e ao explorar novas linguagens visuais. VJ e motion designer, se apresentou em diversos países da América Latina, América do Norte e Europa.

Em um momento em que a arte extrapola os limites digitais com o mercado de NFTs e o surgimento de novos ambientes virtuais (falamos um pouco sobre como criar para o metaverso aqui) a arte generativa pode ser uma aliada na criação de design de experiências para eventos, festivais, e ativações de marcas.

O que é arte generativa?

Arte generativa, ou arte procedural, é uma arte gerada por um sistema computacional autônomo no qual decisões podem ser tomadas pelo próprio sistema, independente do criador. Ao contrário de uma pintura ou uma escultura tradicional, na qual o artista cria uma obra 100% a partir de suas decisões, na arte generativa a obra é a criação do sistema generativo por si só. O resultado final é uma consequência dos parâmetros escolhidos pelo artista que o desenvolveu, somados às infinitas possibilidades de combinações que o código pode gerar.

Bastidores da criação do projeto Casa Alma para a Duratex (foto: Midiadub)
Bastidores do projeto Casa Alma, para a Duratex, criado com arte generativa (foto: Midiadub)

Como funciona a arte generativa?

Dentro desse universo, a arte generativa pode trazer espontaneidade somado ao fator humano para que algoritmos gerem resultados inusitados e únicos. Nesse tipo de arte, códigos e programações evoluem livremente dentro da estrutura e limites estéticos definidos pelo criador. 

Um exemplo recente, é o projeto que produzimos para o estande da Duratex na Casa Cor,  batizado de “Casa Alma Duratex” O espaço, criado pelo estúdio da arquiteta Melina Romano, recebia os visitantes, que interagiam livremente com a mobília, texturas e cores do ambiente. 

Nessa instalação, o processo de arte generativa é semelhante a uma receita de bolo.  Diferentes cozinheiros vão reproduzir a mesma receita, mas ela nunca será a mesma. Pensando no computador, ele sempre vai executar uma função ou comando de uma mesma forma, mecânica e precisa. O resultado sempre vai ser igual.

Bastidores da criação do projeto Casa Alma para a Duratex (foto: Midiadub)
Midiadub durante o processo criativo com arte generativa (foto: Midiadub)

Agora, imagina se a gente pudesse introduzir dados variáveis, de forma com que eles modifiquem os resultados do que o computador entrega. Foi o que fizemos na Casa Alma. Dessa forma, introduzimos as pequenas imperfeições e variações humanas nesse processo, transformando o resultado que o sistema irá gerar de acordo com as particularidades e emoções de cada um. Conseguimos criar artes que têm características similares, mas que assim como a impressão digital, é exclusiva e única para cada pessoa

Nesse projeto, os visitantes receberam um smartwatch capaz de captar os batimentos cardíacos e as movimentações físicas durante a visitação. Os dados foram coletados e enviados via internet para o sistema criado por nós da Midiadub, onde foram geradas obras originais utilizando texturas e produtos do espaço da Duratex. Em poucos minutos, a imagem era enviada para o celular dos visitantes com suas experiências traduzidas em obras de arte. Foram geradas 1.616 obras únicas em 30 dias de ação. 

Você pode assistir ao vídeo completo aqui.

A arte generativa pode soar futurista e uma inovação tecnológica recente. Mas, o pioneiro nesse experimento foi o matemático e físico alemão Georg Ness, que apresentou a primeira obra  usando o termo “Computer Graphic” em fevereiro de 1965, batizada de “Shotter” ou “Cascalho”.  Os programas de Georg Nees recebiam comandos para criar rabiscos aleatórios, mas metódicos, a partir de pontos de origem pré-planejados. O resultado foi uma transição gradual da ordem para o caos.

“Shotter” obra do alemão George Ness, pioneiro na arte generativa (Reprodução)

Mais de 57 anos depois, com a evolução da tecnologia, as aplicações da arte generativa vão muito além do que George Ness projetou. Ela pode ser usada para criar experiências tecnológicas de forte impacto e já extrapolam os limites do visual. Nos anos 90, um ícone da criação procedural foi John Maeda, que evoluiu o conceito de “tecnólogo humanista”. Nos anos 2000, Casey Reas trouxe mais uma nova inovação pro cenário criando a linguagem de programação processing, que até hoje tem papel relevante na criação de obras generativas. 

Em 2022, você pode inovar tecnologicamente em qualquer criação envolvendo códigos, partindo inclusive de algo inerente ao ser humano, à sensibilidade dos sentidos, envolvendo música, escultura, etc. A própria chegada dos NFTs ao mainstream trazem junto, além de uma nova onda de artistas procedurais, um novo formato econômico para o mundo das artes. Um exemplo é o artista Tyler Hobbes, discípulo de Reas, e sua série “Fidenza” (2021), com 999 artes criadas generativamente. Cada uma de suas obras não sai por menos de 69.5 Ether, o que equivale a aproximadamente R$930.000,00.

Obra  #177 da série Fidenza de Tyler Hobbes (https://tylerxhobbs.com/)

Na arte generativa, a criação de uma experiência de marca é espontânea e tem vida própria. Ela também pode ser usada para branding e identidades visuais marcantes, mas gera ainda mais impacto quando tem a possibilidade de interagir com o público na co-criação de uma narrativa marcante, flexível e que reformule a interação com a audiência, uma espécie de ponte entre homem e máquina que geram assets variados. Qualquer tipo de dado pode gerar conteúdos únicos para uma campanha feita com arte generativa e o uso criativo de algoritmos. 

Não sabemos exatamente como será o futuro, mas com certeza nossa forma de criar, comercializar e apreciar a arte vai estar cada vez mais ligada ao mundo digital/computacional. Todas essas mudanças estão em processo de evolução e essa curva parece estar cada vez mais acentuada. Serão inventadas novas formas das marcas interagirem com os desenvolvedores de tecnologia e consequentemente com seus consumidores. Cabe a nós entender esses novos formatos e avançarmos juntos na criação de obras de arte e ações que ainda não eram possíveis de serem executadas até então. 

Sobre Arthur Boniconte
Co-fundador e diretor criativo do Midiadub, se formou em cinema na FAAP, onde se destacou ao ganhar prêmios dirigindo documentários e ao explorar novas linguagens visuais. Seu trabalho já foi apresentado em diversos países da América Latina, América do Norte e Europa. Arthur também gosta de escrever, fotografar e viajar. 

Sobre o Midiadub
Estúdio de produção criativa que une arte e tecnologia para criar histórias imersivas e interativas em diferentes mídias. Com um time formado por artistas, designers, storytellers e desenvolvedores, o estúdio se dedica a alcançar a melhor execução técnica e experiência sensorial.

Em atividade desde 2005 e trabalhos em diversas partes do mundo, como América Latina, América do Norte e Europa, o estúdio acredita em processos de trabalho que valorizam a sensibilidade e a escuta, para assim alcançar resultados únicos que emocionam e permanecem na memória. “Queremos criar hoje imagens em movimento que estarão presentes nas tecnologias e experiências do futuro.”

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