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A diversidade e inclusão são temas muito relevantes na sociedade atual, entretanto, as desigualdades se mostram ainda muito presentes. Segundo dados do IBGE, o último censo demonstrou que o número de pessoas com algum tipo de deficiência passa de 45 milhões, mas apenas cerca de 1% dessa população se encontra empregada formalmente. Além disso, a inclusão ainda abrange pessoas de diferentes grupos étnicos e culturais, como os indígenas e a comunidade LGBTQIA+, que ainda encontram diversos desafios na hora da convivência em ambientes sociais.

Num mundo onde o digital é palco para diversas ações, as marcas e agências devem cada vez mais se atentar para trazer essa pauta de forma humanizada e acessível.

Leo Burnett: "É preciso pensar a inclusão por mais de uma lente"
Joana Dambrós. Imagem/Reprodução.

Entrevistamos a Diretora de Estratégia da Leo Burnett TM, Joana Dambrós, para entendermos quais os métodos para ser inclusivo no meio digita

ADNEWS: Qual a maior dificuldade de ser inclusivo no meio digital?

Joana: Acredito que é pensar a inclusão apenas sob uma lente e esquecer das demais. Para mim, se trata de um aspecto mais cultural, e talvez de investimento para desenvolver a inclusão como um todo, do que uma barreira técnica. Além disso, inclusão é um tema bem amplo, e para que uma iniciativa seja de fato inclusiva no meio digital, é necessário um trabalho com um olhar holístico considerando todos os grupos a serem incluídos.

Hoje conseguimos reconhecer alguns movimentos de inclusão, especialmente quando falamos do retrato de grupos historicamente subrepresentados na comunicação, com diferentes gênero, raças, orientaçoes sexuais no holofote, mas um tema pouco tratado ainda é a inclusão de pessoas com deficiência, seja no retrato, seja na usabilidade e acessibilidade da comunicação para essas pessoas.

AD: Como criar uma cultura inclusiva nos meios digitais?

A cultura de inclusão precisa partir das empresas. Elas precisam primeiro reconhecer a importância da desse tópico para seus consumidores e para seu negócio, caso contrário, não verão valor em mudar a forma como se comunicam e nem investirão para que a inclusão de todos, de fato, aconteça.

Na maioria das empresas, essa é uma mudança de cultura interna super importante, e se consolida com a prática: com a representatividade dos grupos a serem incluídos dentro do time de comunicação, marca e digital das empresas, com responsáveis por garantir essa prática em todas as instâncias do digital, da programação dos sites e apps até o post nas redes sociais.

Em última instância, influencia na escolha dos parceiros, que devem compartihar dessa cultura e valores para que a comunicação que chega para os consumidores reflita essa cultura inclusiva.

AD: Como inovar em estratégias de comunicação digital inclusivas?

Hoje, fazer o básico, como um site com ferramentas de acessibilidade claras, já é bastante inovador. Mas acredito que pensar a comunicação e as ideias de forma que funcionem para todos, ou para a maioria dos públicos que se deseja incluir, é o melhor caminho. Além disso, é claro, trazer para a concepção dessa comunicação as pessoas pertencem aos grupos que se pretende incluir: entender o que elas precisam, o que está faltando, trabalhar junto para desenvolver as ideias mais inovadoras e que façam sentido para eles e levar essas inovações até o público final.

Um exemplo de comunicação digital inclusiva que tenho acompanhado é o podcast Não Inviabilize. A intenção da sua criadora a Déia Freitas, é que o projeto como um todo seja inclusivo, por isso o time que produz é majoritariamente formado por pessoas negras, mulheres e que pertencem a classes sociais mais baixas. Além disso, ela caminha para agregar cada vez mais a audiência de pessoas com deficiência: o site tem um menu de acessibilidade bem completo, contemplando diversos tipos de deficiência. Além dos episódios em áudio, traz transcrições bem detalhadas, com o tom de voz da podcaster, e está implementando a interpretação em Libras.

AD: Qual a importância do design na hora de criar conteúdos inclusivos?

O design é fundamental, pois é a etapa da materialização da inclusão para que ela chegue às pessoas. Pensando em marcas no digital, é pelas mãos do designer que teremos uma linguagem visual acessível e agregadora, que contemple os mais diversos grupos no processo de inclusão e torne a relação com o conteúdo e com a marca relevantes.

AD: Como trazer mais representantes das minorias para posições de influenciadores?

É preciso ir além dos números de alcance e olhar para o engajamento e os valores compartilhados que os influenciadores de grupos subrepresentados têm com as marcas. Existe um universo de pessoas que falam sobre a inclusão do seu ponto de vista e com perspectivas super relevantes, mas que ainda falam para uma pequena audiência fiel. O apoio das marcas ajuda a promover a visibilidade dessas novas vozes, enquanto traz para a marca os valores de inclusnao que esses influenciadores constroem, numa relação de ganha-ganha.

AD: Qual o papel das marcas na hora de conscientizar o público sobre a inclusão?

Acredito que é mostrando o que uma sociedade mais inclusiva, e seus e todos os indivíduos que participam dela, ganham. O benefício não é só para quem é incluído, o impacto atravessa toda a sociedade positivamente. Isso é especialmente importante porque, atualmente, as instituições nas quais as pessoas mais depositam sua confiança são as empresas, à frente de ONGs, governo e mídia (Edelman Trust Barometer de 2022).

Joana Dambrós está há 14 anos no mercado de comunicação, planejou desde produtos digitais a campanhas totalmente integradas. Começou sua carreira na Editora Abril, no desenvolvimento de produtos e estratégias digitais para publicações Editora. De veículo, passou a atuar em agências de comunicação, entre as quais DPZ&T e Sunset. Já atendeu marcas como Marisa, Caixa, JBS e Spotify. Na Leo Burnett há 7 anos, foi responsável por Devassa, Eisenbahn, Ferrero e O Boticário, além de novos negócios e pro-bonos. Como diretora, está à frente da estratégia de Samsung e Mondelez.

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