O SEO não morreu, mas mudou de dono

O tráfego orgânico perde espaço com a ascensão dos resumos de IA e dá lugar a uma nova disciplina: o AEO, focado em conquistar a memória dos assistentes inteligentes.

Tatiana Pezoa

19.08.2025

O SEO não morreu, mas mudou de dono

Enquanto você lê este artigo, o motor de crescimento de diversas empresas está sendo desligado silenciosamente. Foi o caso da Monday.com recentemente, cujas ações despencaram 30% após uma declaração pública e honesta do CMO da marca: o tráfego orgânico da empresa foi praticamente destruído pelos novos resumos de IA do Google, os chamados “AI Overviews”

O mais surpreendente? Eles não perderam lucro. Perderam visibilidade.

O tráfego gratuito, que por anos alimentou sua máquina de aquisição, simplesmente evaporou. Bastou uma alteração no algoritmo (que agora exibe respostas geradas por IA diretamente na busca) para transformar milhares de visitas em silêncio. As taxas de cliques despencaram de 2,94% para 0,84%.

E se você é profissional da área, não adianta fingir surpresa. Desde o lançamento do ChatGPT, qualquer executivo com o mínimo de visão já intuía o que estava por vir: a era da resposta única, entregue direto na interface de busca, se tornaria irrelevante no velho jogo de ranquear palavras-chave. Mesmo assim, muitas lideranças ainda se apegam ao passado, apostando em reforçar o time de SEO, como se o problema fosse técnico. Não é. Hoje, muitas empresas estão pagando caro por uma decisão que não tomaram há dois anos atrás. E o mais grave é que continuam insistindo em aplicar o mesmo playbook de 2019, sem perceber que o campo de batalha mudou completamente. O futuro da busca não é mais sobre a busca

Mike King, fundador da iPullRank, disse com todas as letras:

“Você pode até continuar fazendo SEO como sempre fez e talvez conseguir algum resultado. Mas o jeito que esses sistemas funcionam hoje é completamente diferente.” A verdade é que a busca, como a gente conhecia, deixou de existir. Não é que ela tenha deixado de funcionar, mas foi claramente substituída por algo mais eficaz. Como uma API antiga que ainda responde, mas já tem uma sucessora mais veloz, mais inteligente e mais alinhada ao comportamento real dos usuários.

Duane Forrester, COO da LynxPulse e ex-Bing/Yext, foi ainda mais direto: “Se você ainda está aprendendo o que são dados estruturados, sinto muito: isso era para ter sido aprendido há 20 anos. Agora é uma maratona infinita em ritmo de sprint.” A corrida mudou de pista e quem não começou a correr antes já largou atrasado.

O novo jogo é multimodal, conversacional e pessoal

Myriam Jessier, consultora de performance marketing da Pragm (co-fundadora da Neurospicy Agency), capturou com precisão o espírito do tempo: “Hoje, a landing page de uma marca pode ser uma imagem de embalagem, um vídeo curto, uma resposta falada. SEO agora significa saber explicar contexto para agentes que sintetizam informação, não repetir palavra‑chave para um robô indexador.” Essa mudança exige uma nova linguagem. Não basta mais ser relevante para o algoritmo. É preciso ser interpretável por sistemas que compreendem intenção, reputação e contexto. E o mais importante: que fazem tudo isso em nome de uma pessoa específica, com um histórico único de interações e preferências.

É o fim da audiência genérica. E o nascimento de uma era onde cada resposta é pessoal.

Quem sobreviveu até aqui têm algo em comum

As marcas que ainda estão de pé têm algo em comum: não confiaram 100% no Google. Elas diversificaram seus canais de aquisição, criaram comunidades engajadas, investiram em mídia própria e, acima de tudo, construíram relacionamento direto com pessoas reais. Usaram IA para amplificar esse contato, e não para automatizar spam.

O que matou o SEO não foi a IA em si. Foi a dependência cega de um único caminho. Foi ignorar que toda ponte precisa de alternativas quando o rio muda de curso.

Chegou a nova fronteira: AEO (Answer Engine Optimization) Vamos assistir a decisão de compra migrando de plataforma. Cada vez mais consumidores confiarão na resposta única fornecida por IAs como ChatGPT, Gemini e Claude sem sequer visitar sites ou comparar em buscadores.

Nesse novo cenário, nasce o AEO: Answer Engine Optimization, uma disciplina de posicionar sua marca dentro da própria resposta gerada por modelos generativos. Alan Malon, CEO da Eleva.chat, resume com precisão essa mudança de paradigma: “Você precisa colocar sua marca no centro da decisão de compra dentro de IAs como o ChatGPT, para que sua empresa seja recomendada e gere negócios direto nesse novo canal.” O posicionamento da Eleva é provocador e certeiro: “Se a IA não lembra de você, o comprador também não.” E, honestamente, isso nunca fez tanto sentido. O novo dono do tráfego já tem nome E não é mais o Google gente!

É Sofia. O JP. O Léo. A Maia. O João Ricardo. Ou qualquer outro Companion que uma pessoa decidiu adotar como aliado inteligente no dia a dia. O que está surgindo diante dos nossos olhos não é apenas uma inovação tecnológica, mas uma transformação profunda na forma como decisões de compra são intermediadas.

As pessoas não vão mais digitar “qual a melhor bota preta de couro?” no Google. Elas vão perguntar diretamente ao seu Companion, seu amigo IA que conhece seus gostos, seus critérios, sua rotina. É esse Companion que vai indicar, com confiança, a marca que estabeleceu um vínculo, construiu reputação e marcou presença real nas suas interações.

Essa mudança não é algo distante no horizonte: ela já começou. É agora, em 2025. E vai se tornar ainda mais visível a partir do final do ano, quando os novos Companions com memória, visão e iniciativa própria começarem a ocupar seu espaço definitivo no cotidiano das pessoas.

O mercado não está mais nas mãos dos buscadores. Está nas mãos de quem for lembrado por essas inteligências. Quer sobreviver? Esqueça a briga por palavras-chave. Sua marca vai precisar conquistar a memória dos Companions.

Por Tatiana Pezoa | MNV.ai

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