Em tempos de pandemia e pós-pandemia, em que os hábitos das pessoas estão sendo radicalmente modificados em todos os âmbitos, tais informações podem ajudar países e grandes corporações a construir novos impérios e fortunas, seja pelo mapeamento de novas demandas de produtos e serviços, seja pela remodelagem de modelos de negócios já existentes.
Todas essas informações nos dias de hoje são processadas por supercomputadores, softwares de Big Data, em grandes volumes, denominados metadados. Some-se a esse cenário a Cyberwar entre Estados Unidos e China na luta pela hegemonia mundial, que a cada dia se torna mais acirrada, e eis que sem aviso surge um novo player no tabuleiro. O aplicativo TikTok, criado e controlado por uma empresa chinesa, possui mais de 1,5 bilhão de usuários em todo o mundo. Essa nova rede social tem como diferencial o mapeamento global das principais tendências de hashtags do momento, além de possibilitar criar vídeos e memes com efeitos especiais e rapidamente viralizar vídeos de pessoas desconhecidas, tornando-as celebridades.
Assim como outras mídias sociais, possui mecanismos de coletas de dados de seus usuários parecidos com o do Facebook e de outras empresas americanas, e isso tem incomodado muito as autoridades estadunidenses. Atrelado a isso, o TikTok se diferencia pela possibilidade de adquirir criptomoedas e efetuar transações como compra de emojis, exemplo. Com o avanço das moedas digitais, seria parte da estratégia chinesa difundir uma nova moeda global? Penso que sim. Em um passado recente, Julian Assange, do Wikileaks, e o ex-analista da NSA (National Security Agency), a Agência de Segurança Nacional americana, Edward Snowden, nos revelaram a intensa Cyberwar entre EUA e China, que desde então só tem se acirrado. Na China, atividades corriqueiras para os brasileiros, como acessar YouTube, Facebook, WhatsApp ou buscar um assunto no Google são quase impossíveis, uma vez que eles possuem as informações apenas nas redes sociais e comunidades chinesas.
Tal controle é possível graças a um sistema central de computadores e softwares que centralizam todos os acessos e trocas de arquivos realizados em território chinês com o resto da rede no mundo, apelidado no universo digital como “Great Firewall of China”, em alusão à Grande Muralha da China. Tal aparato controla todo o conteúdo online em circulação no país, barrando o que for considerado impróprio. Assim como a expressão sugere, firewall é uma barreira de proteção que pode bloquear o acesso a conteúdos considerados indesejados. Isso dá a eles uma vantagem considerável nessa disputa hegemônica, porquanto, os cidadãos chineses, com raras exceções desconhecem as redes sociais e do restante do mundo. Em razão disso, a China hoje interage com todos os países do mundo, conhecendo e influenciando suas culturas, mas nenhuma empresa estrangeira é capaz de influenciar e interagir com a sociedade chinesa. Eis a principal razão do incomodo das autoridades e empresas estadunidenses.
Nesse contexto, durante mais da metade do século 20, os EUA foram a grande potência hegemônica do mundo. No entanto, nas últimas décadas, a China, com exceção do poderio militar, se apresenta como a grande candidata a ocupar a liderança mundial da nova economia digital que emerge, rompendo paradigmas, quebrando barreiras de fronteiras e estabelecendo novas maneiras de sentir, pensar e viver. Desde priscas eras, vale o ditado de que “saber é poder” – agora, mais do que nunca, este poder molda a mente humana e plasma novas realidades.
Por Dane Avanzi é advogado, empresário de telecomunicações e diretor do Grupo Avanzi.