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Fernanda Schmid

Executiva de Marketing há mais de 15 anos, Fernanda tem passagens por empresas como Alpargatas, Mercado Livre e Reckitt, onde atuou também em Londres e Nova York. Formada em Administração pela FGV, fez seu MBA em Marketing pela ESPM, e especializações em Marketing Digital na UCLA, Business na Yale School of Management e Leadership em Stanford. Fernanda é também mentora pela Endeavor e investidora-anjo em startups pelo GVAngels.

Se você já está sofrendo de FOBO (Fear of Becoming Obsolete), não leia esse livro. Se você ler, vai querer vender tudo que tem, entrar em alguma seita maluca, morar no deserto e viver de fotossíntese. Afinal, segundo Mustafa Suleyman, não tem jeito: A PRÓXIMA ONDA está chegando, e se nada for feito para contê-la, ela leva embora todos os empregos, fronteiras, e traz (ainda mais) desinformação, cyber-attacks, doenças criadas em laboratórios (alguém pensou Covid?) e mudanças em todas as esferas das nossas vidas.

Se você não está assim tão pessimista, vale encarar o livro. Não que ele seja exatamente otimista; em diversos pontos é até contraditório, mas porque ele traz algumas propostas de como conter essa onda, desacelerar esse desenvolvimento para que os benefícios superem os riscos.

Segundo o autor, se existe demanda, toda tecnologia com o tempo fica mais barata e mais fácil de usar, e assim prolifera. E sem dúvida, do fogo à escrita, da agricultura ao motor de combustão, da imprensa à internet, a qualidade da vida humana melhorou ao longo do tempo. Porque então essa próxima onda é tão mais perigosa?

O livro tem 300 páginas de motivos (ouch!) mas que eu resumiria em três:

  • As IAs trabalham com redes neurais (tipo um cérebro humano) e machine learning: com dados suficientes, ela aprende sozinha como realizar tarefas. Como exatamente? Não sabemos. E esse é um grande paradoxo: são tecnologias que não entendemos, mas que somos capazes de usar. Mais do que isso: quem inventa, logo perde o controle sobre o seu impacto. E democratizar o acesso implica em aumentar o risco não só da tecnologia chegar nas mãos erradas, mas de consequências inesperadas até de quem tinha boas intenções;
  • Com a IA, vem também a onda da biologia sintética: a capacidade de ler, criar e editar código genético. Poderemos erradicar doenças e prolongar a vida; mas já aprendemos com a história os terrores onde isso pode nos levar quando na mão da pessoa errada. E tudo indica que, em poucos anos, se nada for feito, não será necessário muito mais do que um laboratório caseiro para criar um ser geneticamente modificado;
  • Soma aí na equação agora a computação quântica: uma tecnologia capaz de processar ainda mais dados, a uma velocidade ainda maior? Computação quântica ainda é algo caro e acessível somente a grandes empresas privadas. Mas, isso significa que teremos o poder ainda mais concentrado na mão de poucas companhias privadas? Com alcance e poder maior do que governos? E, talvez pior, se esse poder e controle estiver só na mão dos governos? O risco de vivermos em alguma realidade ainda mais distópica do que Orwell ou Huxley imaginaram.

Tudo meio assustador, né? Por esses motivos, Suleyman afirma ser necessário conter essas tecnologias. Controlar, limitar, e em alguns casos, até parar o desenvolvimento. O que acalma o coração? Ele traz dez soluções de como fazer essa contenção, de legislação a gestão de gargalos, todas entrelaçadas. O que dá o frio na barriga? Quão complexas elas são. E o fato de ele sair pela tangente e não abordar algumas definições que talvez fossem fundamentais em relação ao que é moral, ético e “alinhado aos nossos valores”.

O livro é excelente, não só para leigos no assunto, mas para qualquer um que queira conhecer mais para poder discutir, com dados e pensamento crítico, o que está vindo por aí. Vale ler, nem que seja para não sofrer FOBO nas conversas.

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do veículo

 

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