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Leões, lápis e outros prêmios são gatilhos para minha ansiedade entre março e abril, quando começam os PRs das campanhas para os grandes festivais. LinkedIn e Instagram ficam inundados de vídeo cases e toneladas de 🚀 nos comentários, suficientes para fazer inveja ao Sr. Musk. Mesmo com 25 anos na indústria criativa, atuando em São Paulo, Londres, Singapura e Nova York, o gigante da síndrome do impostor ainda desperta enfurecido, em uma mistura de ego, inveja, prazer e psoríases. E esses sentimentos alimentam a minha patologia ansiosa, mas, por outro lado, são combustível de motivação.

Nessa época, faço uma retrospectiva dos últimos 365 dias e me deparo com dezenas, quer dizer, centenas de PPTs onde 90% dos projetos, sejam RFPs, pro bônus ou jobs, nem morreram na beira da praia, pois nem no mar chegaram. Até aqui tudo bem, não sou ingênio, faz parte do negócio. Sobraram apenas 10%. E é nesses 10% que minha ansiedade me consome.

Considerando minha máxima de que “ideia boa é ideia feita”, comparo-me ao que está sendo premiado e coloco em xeque meu maior valor: a criatividade. Quero deixar bem claro que sou a favor de prêmios, luto pela criatividade todos os dias, ponto final. Sim, podem falar o que quiserem, seja fantasma ou real. Mas foi feito, muita gente trabalhou ferozmente, está no ar, alguém aprovou, alguém pagou por ele, e só assim você pode julgá-lo e se julgar, pois, do contrário, estaria solitário, depressivo, no limbo de um slide. Isso me dá uma esperança gostosa para minha querida ansiedade, pois temos um norte criativo. É pra gente, é pro mercado.

Sinceramente, nos dias de hoje, ter uma boa ideia é relativamente fácil; o trabalho árduo está no processo de fazê-las acontecer. Aí eu paro para pensar: em 2023 foram inscritos 26.992 cases em Cannes, quantos desses levaram o bichano para casa? Vou mais além: e as campanhas que não estão nos festivais, mas estão salvando empresas e pagando os boletos de tanta gente? Como uma pequena agência vai tirar no mínimo R$5 mil somente para inscrever um case, comprometendo o salário de quem está fazendo a própria campanha?

A ansiedade não escolhe vencedor ou perdedor, por isso aqui vão meus parabéns para todos nós. Btw, faça terapia, porque com certeza os nossos nomes estarão em alguma ficha.

Aguardo “ansioso” o shortlist.

* Artigo produzido por Daniel Portuga, diagnosticado com TAG, fundador do Post em Branco e VP, Group Creative Director da Razorfish de NY

 

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