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Roberto Nascimento

Roberto Nascimento é um renomado executivo com mais de quatro décadas de experiência na indústria da comunicação. Em 2015 recebeu o prestigioso Prêmio Caboré na categoria "Profissional de Veículo", consolidando seu status como uma das vozes mais respeitadas na indústria.

Você já se perguntou como uma simples expressão, um pensamento compartilhado de forma errada ou interpretado de maneira distorcida, pode se transformar em um julgamento coletivo impiedoso? Bem-vindo à era da Cultura do Cancelamento, um fenômeno que teve seu embrião em 2014 nos Estados Unidos, com as redes sociais como palco principal. Mas, será que esse espetáculo de linchamento digital é realmente tão efêmero quanto alguns sugerem?

Para os que nunca tiveram contato com esse termo, ser “cancelado” significa ser excluído e alvo de diversos julgamentos, seja por expressar algo de forma errada ou ser interpretado de forma errada. A linha é muito tênue.

Os hábitos de julgamento não são novidade. Se voltarmos os olhos para a história, veremos praças públicas onde as pessoas se reuniam para assistir execuções, alimentando um senso de justiça duvidoso ou, talvez, um prazer mórbido em testemunhar a desgraça alheia.

As redes sociais não criaram o cancelamento, apenas deram voz a todos. Antes, as pessoas pensavam, mas não tinham muita oportunidade de expressão; agora, todos têm um megafone. Entretanto, o uso desse megafone muitas vezes carece de sabedoria, resultando em uma enxurrada de ofensas. Moralistas distribuem regras sobre o que “deve” ou não ser feito ou pensado, focando mais nos outros do que em ideias.

Há um paradoxo evidente: a defesa da liberdade de expressão convive com a mania de querer monitorar o que os outros falam e pensam. Defensores da democracia frequentemente se tornam os primeiros a ditar regras. Acreditar no “politicamente correto” é realmente necessário? Não podemos simplesmente discordar?

Para refletir sobre essas questões, vale citar Jordan Peterson, um psicólogo canadense que escreveu o livro ’12 Regras para a vida: Um antídoto para o Caos’. No seu primeiro capítulo, diz: “As ideologias substituem o conhecimento verdadeiro, e os ideólogos são sempre perigosos quando ganham poder, pois um comportamento simplista e sabe-tudo não é páreo para a complexidade da existência”.

Sinceramente, quem somos nós para julgar? Como bem coloca Mário Sérgio Cortella, todos somos “vice treco do sub-troço”. Mais empatia, compreensão e menos julgamento são essenciais. Não há problema em discordar; a questão é quando discordar se transforma em uma cruzada para manchar a imagem de alguém simplesmente por divergência de opinião, seja contra figuras públicas, marcas ou até mesmo aqueles mais próximos a nós.

Em uma era onde o acesso à internet facilita o compartilhamento de opiniões, esquecemos que por trás de cada “perfil” existe uma pessoa de carne e osso. O cancelamento virtual transcende as telas, alcançando vidas reais e prejudicando não apenas reputações, mas também o bem-estar emocional.

Muitos se sentem à vontade para “cancelar” o outro, presumindo que todos possuem a mesma experiência, acesso e entendimento de mundo. No entanto, esses cancelamentos muitas vezes são motivados por razões extremamente superficiais. Imaginem o quão monótona seria a vida se todos compartilhassem a mesma opinião? A diversidade é a essência do progresso.

Diante disso, o apelo é claro: não “cancele”. Dialogue, explique, ouça e debata. A verdadeira educação e aprendizado residem na capacidade de compreender perspectivas diversas. Em um mundo virtual marcado pela polarização, a empatia se torna nossa única tábua de salvação.

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do veículo

 

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