Macbeth é provavelmente a peça mais difícil de ver escrita por William Shakespeare. Não é à toa que é chamada de amaldiçoada. Ela lida com sentimentos horrorosos como inveja, egoísmo, falta de empatia. Mas por isso mesmo, é extremamente fascinante. Joel Coen escolheu transportar a peça para o cinema/streaming como seu primeiro trabalho solo. Ou seja, sem o irmão Ethan. Ele fez um filme brilhante. Mas, como a própria peça, não é nada fácil de ver. A Tragédia de Macbeth estreou hoje (14) na Apple TV Plus.
O lorde Macbeth (Denzel Washington) está voltando para casa de uma guerra, onde se consagrou herói. No meio do caminho, três bruxas o abordam e lhe dizem que ele será o próximo rei da Escócia. Ao contar a notícia para sua esposa (Frances McDormand), eles planejam o assassinato do rei atual do país e assim garantir o reinado de Macbeth. E assim tem início a tragédia que envolve assassinato, loucura, e ambição.
O que achei de A Tragédia de Macbeth?
A primeira coisa que chama a atenção é a beleza da fotografia em preto e branco. Totalmente estilizada, feita claramente em estúdio, é um primor. Visualmente o filme é estupendo, com seus cantos escuros, um minimalismo incômodo e totalmente perfeito. Como curiosidade, tudo foi rodado em apenas 36 dias.
Os diálogos são em inglês antigo, ou seja, se não fossem as legendas, mesmo quem é fluente, teria dificuldade de acompanhar. Mas é maravilhoso de ver esses atores dizendo essas palavras de maneira tão dramática e eficiente. É claro que Denzel arrasa. Ele já é um Macbeth bem mais velho (diferente da peça). Mas tem uma força, um desespero, que dá um arrepio na espinha. Ele deixa bem claro que vê aquilo como sua última chance. Denzel concorre ao Critics Choice e provavelmente está entre os finalistas do Oscar. Ele não é o favorito, por enquanto é Will Smith por King Richard. Mas sabe-se lá o que pode acontecer até o dia do Oscar.
Como a mulher de Macbeth, Frances McDormand funciona. Faz algo um tanto diferente do que estamos acostumados a ver -sempre o mesmo papel, na minha opinião. Mas realmente quem mais me marcou foi Kathryn Hunter, como a bruxa. Uma atriz que se dedica mais ao teatro, Kathryn tem uma atuação assustadora, como nunca vi igual. Espero que consiga uma indicação ao Oscar.
Como já disse, A Tragédia de Macbeth não é um filme para todos. Nenhuma das versões anteriores para o cinema, seja de Orson Welles, Kurosawa, Polaski, foram sucessos de bilheteria. Muito pelo contrário. Eu gostaria de ter visto essa magnífica fotografia numa tela de cinema. Mas, fico feliz que a Apple TV Plus nos deu a oportunidade de ver essa produção, mesmo numa tela menor. Valeu muito a pena!
Eliane Munhoz
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