A linguagem que usamos é fundamental para decodificar a realidade em que vivemos e quanto mais idiomas dominamos, mais ferramentas temos para entender o mundo ao nosso redor.
A teoria do relativismo linguístico sugere que a língua pode moldar e influenciar a percepção de certos conceitos. Por exemplo, uma pessoa que fala português pode descrever “ponte”, uma palavra feminina neste idioma, com adjetivos como “bonita” e “elegante”, enquanto um falante de espanhol pode usar adjetivos masculinos, como “forte” ou “grande”.
Essas diferenças ocorrem porque as habilidades cognitivas fornecidas por cada idioma afetam a percepção do ouvinte de maneiras distintas. A linguagem evolui e se expande ao longo do tempo e espaço, especialmente com o uso das redes sociais, que estimula a criação de dialetos e gírias comuns entre diferentes países. Termos populares no TikTok, como “Girl Dinner”, “Girl Math”, “Strawberry Makeup”, são entendidos de forma semelhante por pessoas de diferentes culturas, independente do idioma.
A internet tem facilitado essa comunicação global, reduzindo as barreiras linguísticas e culturais, mas o fenômeno conhecido como ‘dialect leveling’ (nivelamento linguístico) tem discutido a possibilidade de perda de variações de dialetos e sotaques devido à influência das redes sociais. Humanos criaram uma diversidade de 7 mil idiomas, moldando-os conforme suas necessidades e desejos de conexão. No entanto, metade deles pode desaparecer nos próximos cem anos, conforme previsto pela cientista cognitiva Lera Boroditsky.
Isso mostra como as redes sociais desempenham um papel significativo, tanto na preservação quanto na perda dessa diversidade linguística. Os emojis emergem como um ponto comum entre esses milhares de idiomas espalhados pelo mundo. E como disse o imperador romano Carlos Magno, “ter um segundo idioma é ter uma segunda alma”.
Mas, que alma é essa que estamos construindo em conjunto no globo? Segundo uma pesquisa conduzida pela rede social Discord, 16 mil pessoas com 16 anos ou mais nos EUA, Brasil, Reino Unido, França, Alemanha, Japão, Canadá e Austrália, revelaram que utilizam essa nova forma de linguagem para expressar emoções e fortalecer conexões.
Dos entrevistados, 63% afirmaram que os emojis os ajudam a se integrar em comunidades com interesses semelhantes, enquanto 73% percebem que esses símbolos facilitam a união entre as pessoas. Globalmente, tanto a Geração Z (61%) quanto os Millennials (68%) acreditam que mensagens com emojis permitem uma comunicação mais sincera em comparação com mensagens sem eles.
Os emojis estão transformando nossa linguagem e servindo como ponte para expressar emoções online de forma eficaz. Eles oferecem uma maneira rica de demonstração, por vezes até mais eficaz do que palavras escritas ou faladas, e estão se tornando uma linguagem semiótica comum.
Mas o “comum” nunca é unânime. A interpretação dos emojis ainda é influenciada pela cultura local, como aponta o relativismo linguístico. Uma análise recente de emojis utilizados no X, antigo Twitter, revelou que os emojis populares variam significativamente entre diferentes culturas e países. Por exemplo, o emoji ‘cem por cento’ (💯) é muito utilizado nos Estados Unidos, mas não aparece no ranking de outros países.
Na América Latina, o 💯 não é visto no ranking de nenhum país, enquanto os emojis ❤️ e 😂 dominam, refletindo a natureza calorosa e humorística dos latino-americanos. Eles concorrem com sentimentos nacionalistas representados por bandeiras nacionais no México 🇲🇽, Bolívia 🇧🇴 e Costa Rica 🇨🇷. Somos um povo caloroso que encara com bom humor a vida, e isso nem os emojis podem negar.
Mesmo com a redução das barreiras linguísticas, o contexto local continua a influenciar a interpretação deste novo dialeto. E claro, ajudam a expressar sentimentos e emoções que, por vezes, com palavras, não seriam suficientes.
Nosso repertório de chaves de comunicação está se expandindo, influenciado pela presença constante de dispositivos que nos conectam a milhões de informações e pessoas ao redor do mundo mudando a maneira como entendemos, vemos, interpretamos, expandimos e recebemos informações, sentimentos e emoções.
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