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Lilian Primo

CEO da LPA Consultoria , founder na Mobye , Vice Presidente do Conselho Consultivo do Instituto Êxito Latino Americano de Empreendedorismo e Inovação e Head de empreendedorismo e Startup na ANEFAC, Colunista na Nova Brasil FM, Conselheira empresarial e Co-Investidora na Bossanova.

Hoje eu quero relembrar com vocês as principais notícias da área de tecnologia, não necessariamente na ordem cronológica, mas os assuntos que tiveram destaques no ano de 2023.

E não temos como começar por outro tema, o ChatGPT estampou as notícias esse ano. Caso você não esteja ligando a solução ao nome, o ChatGPT é a inteligência artificial desenvolvida pela OpenAI, capaz de responder perguntas sobre os mais variados assuntos, resolver problemas lógicos e fornecer soluções adequadas por meio de mensagens, simulando uma conversa real entre seres humanos. Para entender o que foi essa revolução, deixo como sugestão de leitura o artigo que escrevi no início do ano sobre o tema, intitulado ‘ChatGPT será a próxima grande revolução da área da tecnologia?‘.

Para você ter uma ideia do quão forte foi o impacto dessa revolução, a maioria das big techs correram para criar um ChatGPT para chamar de seu. Abaixo, exemplifico, de forma resumida, as ações que cada empresa tomou.

A Microsoft saiu na frente dessa busca e foi diretamente na fonte, investindo em torno de US$ 13 bilhões na OpenAI, criadora do ChatGPT, selando uma parceria para usar a solução em seus produtos. O buscador da empresa, Bing, já incorporou a inteligência artificial, o que provocou um aumento do uso, preocupando até o intocável, até então, Google. Nesse ano, ela ampliou as integrações com as suas soluções residenciais e corporativas. Porém, nem tudo são flores. Em dezembro, o órgão responsável por fiscalizar a concorrência do Reino Unido informou que está investigando a parceria entre a Microsoft e a OpenAI, devido a mudanças recentes na diretoria da empresa pioneira da inteligência artificial. Veremos o desenrolar dessa investigação neste ano.

A Google também sentiu o impacto, e após anos de domínio entre os buscadores e publicidade online, ficou preocupada com o avanço do ChatGPT, principalmente entre os usuários mais leigos da área de informática, devido a facilidade de interagir com a inteligência artificial. Com a parceria da rival Microsoft com a OpenAI, a Google percebeu que teria que responder à altura. Sendo assim, em 6 de fevereiro do ano passado, a empresa anunciou seu contra-ataque, lançando o seu ChatGPT chamado “Bard”. Se você ficou interessado nessa história, eu a conto com mais detalhes em um artigo que escrevi nessa época, intitulado ‘ChatGPT: O Google contra-ataca‘.

A Meta, empresa dona do Facebook, Instagram e WhatsApp, que inclusive possui esse nome desde 2021, quando a empresa voltou todos os seus esforços para o Metaverso, acreditava que o ano de 2023 consolidaria a tecnologia no mundo, porém, acabou tendo seus planos frustrados. O Metaverso não decolou, e pior, a maioria das empresas acabaram abandonando ou demitindo seus times dedicados a esse projeto, como por exemplo a Microsoft e a Disney, que encerraram suas divisões que cuidavam da pesquisa dessa tecnologia. Após muitos fracassos, e em meio a uma demissão de 21 mil funcionários, a Meta mudou os objetivos da empresa, ainda no primeiro semestre do ano passado. Segundo o que foi divulgado, os objetivos agora são inteligência artificial, mensagens, criadores e monetização. Um dos motivos do fracasso dessa tecnologia, segundo especialistas, foi o sucesso das inteligências artificiais perante o público em geral, devido a maior facilidade de interação com a tecnologia. Com isso, o metaverso foi, cada vez mais, ficando em segundo plano.

A Apple parece ter seu mundo à parte. Por ter um público fiel, informou que pretende ter o seu “ChatGPT” próprio apenas em meados do final de 2024, junto com o lançamento do iOS 18 (o iOS é um sistema operacional desenvolvido exclusivamente para dispositivos da Apple). A empresa pede paciência e cautela a seus usuários, pois antes de tudo, a Apple se preocupa com os dados pessoais e quer uma solução que mantenha a privacidade do cliente. E para reforçar essa questão da empresa parecer ter um mundo à parte, ela é uma das poucas que anunciou, no ano passado, novidades para o metaverso, com o lançamento de óculos virtuais. Para você entender melhor essa história, deixo uma recomendação de leitura do artigo ‘Apple pode ressuscitar o Metaverso com lançamento de óculos virtuais‘.

Não podemos esquecer de que, apesar de todo mundo lembrar do nome ChatGPT, ele nada mais é do que um modelo de inteligência artificial, que foi o verdadeiro destaque do ano, inclusive gerando motivos de preocupação no mundo por seu avanço desenfreado. Tanto que, no dia 22 de março de 2023, foi publicada uma “carta aberta” intitulada ‘Pause Giant AI Experiments’, (na tradução livre, ‘Pause experimentos gigantes de IA’), com a seguinte recomendação:

“Pedimos a todos os laboratórios de IA que parem imediatamente, por pelo menos seis meses, o treinamento de sistemas de IA mais poderosos que o GPT-4”, com o seguinte argumento “Os sistemas de IA com inteligência competitiva humana podem representar riscos profundos para a sociedade e a humanidade”.

Essa carta chamou a atenção por ter nomes muito conhecidos, como o de Elon Musk, bilionário, dono da Tesla, SpaceX e Twitter; e de Steve Wozniak, cofundador da Apple, além de muitos outros. Ficou curioso para saber quem mais assinou essa carta e como os principais países do mundo estão tratando esse assunto de regulamentação de inteligências artificiais? Deixo aqui a recomendação do artigo ‘Parem os robôs: as inteligências artificiais precisam de uma pausa‘.

No ano de 2023, presenciamos uma das maiores greves de roteiristas e atores, que parou as produções de cinema em Hollywood por quase meio ano. Porém, você pode estar se perguntando, essa não é uma retrospectiva das notícias de tecnologia? Essa greve teve como principal ponto a tecnologia, mais especificamente os últimos avanços em inteligência artificial, streaming e computação gráfica. De uma forma resumida, vou focar em duas principais reivindicações que envolveram diretamente a área de tecnologia.

Na primeira, tanto os roteiristas como atores reivindicam a revisão dos pagamentos dos ganhos residuais. Na prática, esse sistema funciona assim: o contrato que as pessoas envolvidas no filme ou série assinavam previa o pagamento de um valor quando a produção era reexibida na TV ou com a venda de DVD e Blu-ray. Porém, com o crescimento do streaming de vídeos, como Netflix, Amazon Prime, Disney Plus, etc., esse repasse vem caindo, pois os serviços entendem que não devem pagar por exibição, e como eles são donos das plataformas, fica difícil auditar o quanto deve ser pago.

A segunda reivindicação é a questão de uso das inteligências artificiais que afetam de forma diferente os atores e os roteiristas. No caso dos roteiristas, a preocupação sobre o uso de inteligência artificial foi explicada de forma clara em uma entrevista para a CNN concedida por John August, membro do comitê do WGA, um roteirista conhecido que já escreveu filmes famosos como ‘As Panteras’, ‘A noiva cadáver’, ‘Aladdin – Live Action’, entre outros. John falou que “os roteiristas estão preocupados com o fato de nossos roteiros serem o material de alimentação que está entrando nesses sistemas para gerar outros roteiros, tratamentos e escrever ideias de histórias. O trabalho que fazemos não pode ser substituído por esses sistemas”.

Para os atores, a questão de uso de inteligência artificial está mais ligada à utilização de sua imagem. Segundo Duncan Crabtree-Ireland, os estúdios recentemente ofereceram uma proposta inovadora. Segundo ele, “naquela proposta inovadora de inteligência artificial, eles propuseram que nossos artistas figurantes pudessem ser digitalizados, pagos por um dia de trabalho, e a empresa ia possuir essa digitalização. A imagem, então, poderia ser usada para o resto da eternidade em qualquer projeto que quiserem, sem consentimento e sem compensação”, e completou, “então, se acham que é uma proposta inovadora, sugiro que pensem novamente”. E se você acha que usar atores digitais está a um futuro tão distante, talvez você não se lembre, mais já usamos essa tecnologia há algum tempo. Em 2016, o filme ‘Rogue One: Uma História Star Wars’ usou a tecnologia de CGI (Computer Generated Imagery) para trazer de volta o ator Peter Cushing, que havia falecido em 1994 e interpretando o personagem Moff Tarkin no filme de 1977, ‘Star War – Episódio IV: Uma Nova Esperança’, para o novo filme, com o mesmo papel.

No ano passado, ainda tivemos uma das brigas na área da tecnologia mais inusitadas, entre Elon Musk e Mark Zuckerberg. Agora, você deve estar pensando que esses bilionários, considerados gênios na área de tecnologia e inovação, estão travando alguma disputa intelectual. E até certo ponto é verdade, pois existe uma disputa entre o Twitter de Musk e a nova rede Threads de Mark. Isso evoluiu não apenas para uma briga intelectual, mas também física. Sugiro a leitura de um artigo em que entro mais a fundo nesse tema, intitulado ‘Duelo de titãs: Elon Musk vs. Mark Zuckerberg‘. Porém, adiantando um pouco o final dessa história, apesar das bravatas dos dois bilionários em redes sociais, parece que a luta ficará só no virtual mesmo, e não haverá mais a luta física de fato. Porém, se tratando de Elon Musk, vamos ficar de olho.

E por fim, infelizmente, não tenho como deixar de comentar o aumento no número de golpes usando cada vez mais novas tecnologias. Com a evolução das inteligências artificiais, golpes mais elaborados podem ser feitos, usando o conceito de “deep fake“. Essa palavra possivelmente tem origem no conceito de “deep learning“, que é o aprendizado de máquina baseado em redes neurais artificiais, para funcionar como o cérebro humano. É uma técnica ou inteligência que aprende conforme mais dados forem oferecidos a ela. Dessa forma, com o “deep fake“, você usa a técnica de aprendizado, por exemplo, para imitar o rosto, a voz da pessoa e até mesmo inserir o rosto em outro corpo, de forma orgânica, onde você não note a diferença e pense que é real.

Antigamente, havia golpes onde uma pessoa ligava se passando por outra, e na maioria das vezes, você notava que era um golpe. Agora, imagine o mesmo golpe com a voz e o jeito de falar da sua mãe, ou mesmo uma ligação por vídeo onde apareça a sua mãe pedindo dinheiro. Como saber se é verdade? Ainda temos uma outra forma que tem crescido nesse ano, que é o “deep nudes“. No final de novembro, a surfista portuguesa Mariana Rocha Assis, de 26 anos, disse em suas redes sociais que estava sendo extorquida por pessoas que geraram imagens dela nua através de inteligências artificias. Infelizmente não é um caso isolado. Durante o ano, tivemos alguns casos desse tipo de crime, como o da atriz Ísis Valverde, que acionou seus advogados depois de descobrir fotos dela nua também criadas com ajuda de IA. Apesar do corpo usado não ser da pessoa, se ponha no lugar da vítima, e por mais que as fotos não sejam exatamente do seu corpo, as pessoas que vão receber não sabem. Imagine essas fotos vazadas em grupos da família ou no seu trabalho. Você não se sentiria como se elas fossem reais?

Esses tipos de técnicas serão um desafio enorme para as eleições deste ano. Imagine receber um áudio ou vídeo de um candidato A ou B a fim de tirar votos. Isso será um grande teste de fogo para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de como combater esse tipo de desinformação. As próximas eleições poderão ser a que mais teremos fake news difíceis de se identificar. Caberá ao eleitor sempre checar a fonte das notícias e dos vídeos.

Acredito que já tenha me alongado muito nessa retrospectiva. Ainda tivemos muitos outros acontecimentos na área da tecnologia que ficaram de fora, tentei focar nos casos que mais impactaram o ano de 2023, afinal, cada vez mais a área de tecnologia tem invadido todas as áreas da humanidade, sendo um caminho sem volta. Gosto de encerrar os artigos com uma frase, e pensando nessa questão de inteligências artificial e na preocupação que temos com ela, encontrei a frase de Sidney Harris, jornalista e cartunista estadunidense, que pode nos ajudar a refletir sobre o tema:

“O perigo de verdade não é que computadores passem a pensar como humanos, mas sim que humanos passem a pensar como computadores.” (Sydney Harris)

Um feliz ano novo a todos vocês, leitores, e nos vemos em 2024.

 

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