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Segundo a Global Workplace Analytics (USA), uma empresa mediana economiza cerca de US$ 11 mil por ano por colaborador que trabalha pelo menos 50% do tempo em home office ou de forma remota. Para o trabalhador, essa economia pode ser de US$ 1,5 mil a US$ 4 mil por ano. É muito dinheiro, principalmente se considerarmos o momento de crise que todo mundo está passando. 

Alguns estados americanos, em estágio mais avançado da vacinação, já estão convocando seus trabalhadores para retornarem aos escritórios, e a reclamação tem sido grande. Muitas pessoas estão se recusando a voltar, ameaçando inclusive pedir demissão. A classe política americana já ventila tornar lei a proibição de demissões de colaboradores produtivos que não queiram voltar fisicamente ao trabalho. Por isso, algumas empresas mais alinhadas às práticas ESG começam a convidar os seus colaboradores para juntos planejarem o retorno. Essas empresas querem, a partir do diálogo, encontrar um meio-termo para a volta, sem perder as vantagens que todos nós percebemos nos três semestres em que trabalhamos de casa. 

Aqui no Brasil, as coisas boas e ruins acontecem com certo atraso. Temos a sorte de poder observar previamente as melhores práticas criadas em outros países. E, se não conseguimos usar essa vantagem na pandemia, temos agora a chance de acertar mais em relação ao nosso retorno ao escritório. 

O fato é que já vivemos uma pandemia, mas ainda não tivemos a oportunidade de viver a experiência de uma pós-pandemia. Por isso, este texto é um convite para entender melhor esse desafio e a partir disso influenciar e agir de forma afirmativa para que o retorno seja de fato melhor para todos. 

Antes de avançarmos, precisamos entender que, quando falamos em home office, estamos falando de uma pequena bolha dos trabalhadores brasileiros. Segundo o IPEA, somos um contingente de 7,3 milhões de pessoas em home office no Brasil, ou seja, apenas 9,1% dos 80,2 milhões de ocupados e não afastados do trabalho. 

Precisamos entender também que home office é uma das formas de trabalho remoto, e que não retornar ao escritório abre um grande leque de opções para um funcionário, que pode trabalhar a partir de um coworking, café ou parque perto de sua residência. Ainda, o profissional tem a liberdade de atuar a partir da casa de um amigo, de outra cidade ou até em outro continente, explorando, em qualquer período do ano, este mundão. 

Também é preciso expandir o conceito que temos de home office durante a pandemia – quando, de forma improvisada, ajeitamos um canto mais isolado da casa, com crianças e pets atravessando a tela e distraindo nossa atenção ou, ainda, nos sentindo em uma prisão. 

Isso tudo quando temos o privilégio de ter um espaço isolado para chamar de “nosso” – dado que a grande maioria dos brasileiros não tem o trabalho remoto como opção.  

De qualquer forma, não podemos mais voltar todos juntos para os escritórios, até mesmo porque em muitos casos eles não existem mais, pelo menos na forma e no tamanho que tinham antes da pandemia. Principalmente no nosso mercado de Comunicação e Live Marketing, em que os espaços da maioria das agências foram reduzidos em pelo menos 50%. Não cabemos mais todos juntos na “firma”. Hoje, os espaços disponíveis devem ser compartilhados por todos, respeitando a necessidade de quem precisa estar tecnicamente presente, ou a prioridade das pessoas que não têm a infraestrutura necessária para trabalhar a partir de suas residências. 

E segundo a Apoema, agência de pesquisa do comportamento humano; o home office também contribui para um positivo êxodo urbano. Um documentário sobre o assunto desenvolvido pela agência, mostra que por causa do trabalho remoto, 57% das pessoas estão migrando para a praia ou campo. 

O mundo está sendo transformado pela era digital, por isso não dá mais para retornar ao passado do conforto de nossas baias. Isso faz parte do futuro do trabalho que já está sendo construído hoje. Uma ressignificação completa de tudo, até mesmo do espaço temporal. Neste mundo, não fará mais sentido estarmos todos programados para operar das 9h às 18h, como uma linha de montagem. A lógica do digital é outra – os softwares colaborativos permitem o trabalho remoto, coletivo e simultâneo, muito além do que imaginamos ou do que fazemos hoje. 

Esse futuro reconhece que somos diversos. Tem gente que prefere trabalhar de manhã, outros de madrugada e outros à noite. Tem gente que consegue se organizar e entregar seus resultados semanais em quatro dias. Tem gente que quer levar o filho na escola, que gosta de cuidar da saúde ou de repor suas energias viajando, por exemplo. Com isso, é provável que se desmonte a lógica da semana de sete dias. Neste futuro teremos mais liberdade para organizar a vida de forma mais humana e produtiva. Um futuro que impactará tudo o que vivemos hoje, com menos escritórios aglomerados e com menor fluxo de deslocamento das pessoas. O conceito de centro de cidade também mudará – tudo ficará mais descentralizado –, o que será um desafio público: incluir mais as pessoas na vida e no trabalho a partir de seus bairros. Com menos trânsito, menos poluição, há mais tempo e autonomia. 

As empresas então terão a chance de incluir e igualar mais as oportunidades entre seus diversos colaboradores, oferecendo, reforçando e ampliando as condições remotas de trabalho para os menos favorecidos. Com as empresas voltando a operar sem prejuízo, será possível utilizar a economia gerada pelo trabalho remoto para prover móveis, equipamentos e Wi-Fi adequados, assim como espaços seguros espalhados pelos bairros da cidade. 

Você pode escolher liderar esse processo de transformação, promovendo ações positivas de mudança na vida das pessoas e dos negócios. Para isso, precisa ter vontade e coragem de se reinventar todos os dias, aprendendo, compreendendo e abraçando as diferenças e sendo protagonista na era digital. 

*Ronaldo Ferreira Júnior é conselheiro da Ampro – Associação das Agências de Live Marketing, CEO da um.a #diversidadeCriativa – empresa especializada em eventos, campanhas de incentivo e trade, e sócio-fundador com a Pearson Educacional do programa de capacitação MDI – Mestre Diversidade Inclusiva.

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