IA - INTELIGÊNCIA AFRICANA

Criatividade preta é insubstituível pela inteligência artificial e seguirá como força transformadora no futuro da indústria criativa.

Adnews

25.08.2025

IA - INTELIGÊNCIA AFRICANA

Por Vinícius Monteiro - Fundador da Mugo Club

A inteligência artificial já é capaz de escrever textos, criar imagens e até compor músicas.

Mas existe um território onde ela nunca terá acesso: a experiência humana que transforma vivência em arte. E, quando falamos de criatividade preta, esse espaço se expande em potência, resistência e futuro.

A economia preta da criatividade

Jazz, blues, samba, hip hop, reggae, afrobeats, amapiano. Cada batida carrega histórias de opressão, alegria e luta. Na moda, o streetwear que virou luxo pelas mãos de Virgil Abloh. No cabelo crespo, um símbolo de identidade e afirmação. Na linguagem, design, gírias e códigos que nascem na periferia e se espalham pelo mundo.

Essa é a economia preta da criatividade: um motor global que gera valor simbólico e econômico bilionário, extrapolando a propaganda e definindo como o mundo consome, se veste, se expressa e se conecta.

O que a IA não alcança

A IA opera em dados. A criatividade preta opera em ancestralidade. A IA mistura padrões. A comunidade preta cria improviso. A IA gera imagens. Nós geramos presença, corpo, tambor, calor. A IA pode prever tendências. A cultura preta dita tendências. O algoritmo nunca viveu o peso da resistência, a alegria de uma roda de samba, a vibração de um baile funk ou a espiritualidade de um terreiro. E é justamente nesse território que está a força da criatividade preta: insubstituível, inimitável, incomparável.

Muito além da propaganda

Na publicidade, fala-se em storytelling. Para o povo preto, contar histórias sempre foi preservar a memória. Na publicidade, fala-se em user experience. Mas a estética preta sempre nasceu da experiência real da rua, da periferia, da diáspora. O mercado publicitário ainda arranha a superfície do que significa a verdadeira criatividade preta. Reconhecer isso é abrir espaço para um respiro criativo que ultrapassa os limites da propaganda e inspira novas possibilidades.

Criatividade preta é futuro

O futuro não será definido pela IA, mas por quem souber usá-la sem perder a própria voz. E a comunidade preta já mostrou ao mundo que transforma dor em arte, exclusão em inovação e invisibilidade em potência global. A IA pode até pintar quadros, escrever textos ou criar campanhas, e sem dúvidas tem se mostrado uma ferramenta importante e funcional. Mas ela nunca vai sentir o tambor, nunca vai entender o peso de uma trança, nunca vai improvisar no flow.

Hoje, essa criatividade não é só uma abstração. Vemos, por exemplo, Kehinde Wiley ressignificando os antigos mestres com corpos pretos heroicos; Sandra Mujinga explorando nossa invisibilidade através de hologramas que somem e reaparecem; Ife Olowu trazendo Lagos para a pintura por meio da realidade aumentada; AfroDroids imaginando narrativas negras num universo digital; e Ekow Eshun curando novas estéticas afrofuturistas como ferramenta de resistência e reinvenção. Cada um deles materializa a imaginação, a improvisação, a emoção e a memória preta de formas que a IA, por sua própria natureza, jamais poderá reproduzir.

Por isso, reafirmo: a criatividade preta não é só insubstituível. Ela é, e sempre será, o verdadeiro futuro da criatividade. PARA RESISTIR, FOI NECESSÁRIO SER CRIATIVO! Nota do autor

Este é o primeiro artigo de uma coluna que nasce para trazer à luz o que há de mais interessante, diverso e transformador na indústria criativa do mundo. Uma coluna sem fronteiras, que atravessa disciplinas, linguagens e geografias e que rompe inclusive a barreira do mercado da propaganda, para mostrar que a criatividade é um território muito maior, vivo e em constante reinvenção.

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