A Saga da Swatch e os Cuidados Essenciais nas Campanhas Internas: Lições para a Prevenção Trabalhista

Especialista alerta que erros de sensibilidade em campanhas de marketing se assemelham a falhas de prevenção trabalhista e podem gerar crises financeiras, jurídicas e de reputação.

Adnews

21.08.2025

A Saga da Swatch e os Cuidados Essenciais nas Campanhas Internas: Lições para a Prevenção Trabalhista

Por Dr. Marcos Alencar - Advogado Trabalhista

O episódio recente da Swatch, que precisou retirar uma campanha global após críticas por insensibilidade cultural, não é apenas um caso de marketing mal conduzido. É também um alerta para as empresas em sua gestão trabalhista e de pessoas. Quando falamos em prevenção de crises, seja no campo da comunicação externa ou no âmbito interno das relações de trabalho, o fator determinante é sempre o mesmo: antecipar riscos e adotar práticas inclusivas, diversas e transparentes.

Assim como uma campanha pode gerar prejuízos financeiros e reputacionais por falta de revisão cultural, no campo trabalhista a ausência de cautela e planejamento pode custar caro em ações judiciais, fiscalizações e perda de credibilidade interna.

Paralelos Entre Comunicação Corporativa e Prevenção Trabalhista

  1. Diversidade nos times de aprovação e nos ambientes de trabalho Na Swatch, faltou diversidade no processo de avaliação da campanha. No ambiente trabalhista, ocorre o mesmo quando decisões são tomadas sem a presença de diferentes olhares, como em políticas de RH, regras internas ou mesmo em treinamentos. A ausência de representatividade pode abrir espaço para acusações de discriminação, assédio moral ou exclusão de minorias.

  2. Sensibilidade cultural e respeito nas relações laborais O gesto utilizado na campanha foi interpretado como estereótipo racial. No ambiente corporativo, frases, apelidos e “brincadeiras” também podem gerar interpretações ofensivas e resultar em ações de dano moral. A prevenção trabalhista exige treinamentos constantes para que líderes e equipes compreendam os limites do respeito mútuo.

  3. Testes e feedbacks internos Assim como campanhas devem ser testadas antes do lançamento, normas internas de conduta, programas de metas e políticas de controle de jornada precisam ser discutidos com os trabalhadores, preferencialmente por meio de CIPA, comissões internas ou consultas a sindicatos, evitando que medidas unilaterais gerem resistência ou conflitos.

  4. Protocolos de crise trabalhista A Swatch até agiu rápido, mas falhou na forma da comunicação. No campo trabalhista, quando ocorre um acidente de trabalho, uma denúncia de assédio ou uma fiscalização surpresa, a empresa também precisa ter um plano de resposta imediata, transparente e responsável, para não agravar o problema.

  5. Evitar práticas ou símbolos de exclusão Do mesmo modo que imagens estigmatizantes são perigosas em campanhas, políticas internas que privilegiem uns em detrimento de outros (promoções sem critérios claros, metas inatingíveis, punições seletivas) podem ser interpretadas como discriminação ou abuso de poder hierárquico.

  6. Monitoramento contínuo Assim como o monitoramento pós-lançamento é vital em campanhas, o acompanhamento constante do clima organizacional — por pesquisas internas, canais de denúncia e auditorias trabalhistas — é fundamental para identificar problemas antes que se transformem em litígios.

Conclusão

O caso Swatch mostra que falhas de sensibilidade e ausência de cautela podem gerar crises de imagem e prejuízos financeiros imediatos. No campo trabalhista, o paralelo é evidente: a falta de prevenção e de gestão responsável cria passivos trabalhistas, ações coletivas e sanções administrativas.

A lição é clara: tanto na comunicação quanto na gestão de pessoas, ousadia e criatividade não podem estar acima da empatia, da diversidade e do respeito humano. Empresas que internalizam essa cultura não apenas evitam crises, mas constroem ambientes de trabalho mais sólidos, inclusivos e sustentáveis.

Portal Adnews celebra 25 anos com nova direção e novos projetos