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Henrique Russowsky

Especialista em mídia digital, Henrique Russowsky passou pelo Google, fundou a Jüssi e foi líder de negócios no Pinterest. Atualmente é sócio e diretor da área de mídia na All Set Comunicação.

Por Henrique Russowsky, sócio e diretor de Mídia Performance na All Set.

O SXSW 24 está terminando. Ainda na volta para o Brasil, comecei a organizar as ideias e colocar as reflexões e percepções no papel. Mas confesso que são tantos textos circulando por aí sobre o festival, tantas opiniões, insights, gente feliz e realizada, outros frustrados que o “seu” velho festival não é mais o mesmo, que fica difícil achar um ângulo para escrever.

Em primeiro lugar, é natural que o festival não seja mais o mesmo. Afinal, ele acontece desde 1987, e certamente muita coisa mudou de lá pra cá. Imagino que o senso de exclusividade e pertencimento daqueles que vibravam com as primeiras edições do evento foi minguando. Nos seus pequenos grupos, muito antes das redes sociais, comentavam coisas do tipo “esse festival já não é mais o mesmo”. Ainda assim, o SXSW continuou crescendo e se transformou nesse gigante que conhecemos hoje.

Polêmicas à parte, o festival sempre foi conhecido por gerar entre os participantes aquele sentimento de FOMO (do inglês Fear Of Missing Out, que significa medo de ficar de fora). E não é à toa: este ano foram mais de 1700 sessões oferecidas em 8 dias de evento. Se a cada dia havia apenas quatro blocos de uma hora cada para escolher, isso significa que aproveitar o evento ao máximo consiste em estar presente em menos de 2% das sessões oferecidas.

Conforme o festival vai se desenrolando, o medo de ficar de fora vai dando lugar a algo muito mais legal: a serendipidade, a sorte de encontrar algo valioso onde não estávamos procurando. A seguir compartilho três momentos de serendipidade que tive em Austin, em que sensações positivas, que vieram do acaso, encheram meu coração.

1. Ter a sorte de estar diante de sobreviventes do Holocausto

Enquanto atentamente rolava com o polegar pela agenda do dia para escolher minha próxima sessão, resolvi dar uma chance para uma palestra sobre o futuro da memória do Holocausto através de tecnologias imersivas. A sala era pequena, comportava umas 60 pessoas apenas. No meio de um festival de inovação, em que todos só falam de futuro, fomos surpreendidos com a presença de duas sobreviventes do Holocausto: Rodi Glass e Marion Deichmann.

Ao lado do diretor de filmes VR Darren Emerson e a diretora do Illinois Holocaust Museum, Kelley Szany, nos mostraram como a tecnologia pode nos ajudar a relembrar o passado. Eles estão lançando uma série de filmes imersivos sobre a vida delas, que irá permitir que as próximas gerações lembrem de forma contundente dos horríveis acontecimentos, uma vez que esta nova geração já não terá mais contato com nenhum sobrevivente em breve. Foi genial e emocionante, mas, ainda assim, inusitado. Me senti privilegiado e honrado de ouvir as duas relatarem suas histórias de vida e superação em um ambiente tão intimista.

2. Mergulhar no universo dos sonhos

Uma das coisas que percebi nos primeiros dias do evento é que muitas das sessões relacionadas a marketing e branding eram um pouco mais rasas do que eu esperava. Assim, comecei a explorar sessões de temas mais diversos, e acabei me inscrevendo num workshop chamado “Dream Incubation To Facilitate Creative Problem-Solving”. Foi de longe a experiência mais sensacional que tive.

A sessão começou com os palestrantes Dra. Deirdre Barrett, professora de psicologia em Harvard, e Michael Rohde Olsen, cientista do sonho e escritor, explicando o processo de incubação de sonhos, ou seja, a habilidade de provocar nossa mente para que os sonhos contribuam na solução de um problema ou em uma decisão importante que precise ser tomada.

Parece ter um quê de charlatanismo, mas depois das explicações a palestrante conduziu uma sessão guiada, uma espécie de hipnose coletiva, e pude vivenciar pessoalmente aquilo que foi explicado. Fiquei simplesmente impressionado. Assim, deixei a sessão com uma sensação de paz de espírito e um assunto novo para mergulhar de cabeça: os sonhos.

3. Como gaúcho, me senti em casa no Texas

Sul, churrasco, bota, chapéu. Só faltou o chimarrão. Nunca tinha ido para o Texas senão em escalas de voos. Parece que estamos em outros Estados Unidos, da mesma forma que às vezes o Rio Grande do Sul também se parece com outro Brasil. Essa simples similaridade centrada na valorização das tradições também foi uma surpresa que me trouxe boas sensações, algo que jamais esperaria, até mesmo porque moro em São Paulo há praticamente vinte anos e nem sou tão ligado mais na cultura gaúcha. Mesmo assim a serendipidade bateu de novo.

Além desses momentos, aproveitei muito o evento a cada sessão, acessando assuntos diretamente conectados à minha área de atuação, a inovação e o marketing. Escutei a Amy Webb, o Scott Galloway, Peter Deng, VP de produtos de consumidor da OpenAI, entre muitos outros. O evento é extremamente enriquecedor, justamente por entregar uma experiência completa e absolutamente inspiradora dentro e fora do nosso campo de trabalho.

Essa foi minha primeira vez no SXSW e volto satisfeito e com minha energia intelectual recarregada. Todo ano, nessa mesma semana, o LinkedIn é inundado com o tema. Realmente, rola muita coisa repetida, gente querendo simplesmente mostrar que está no evento, querendo dar sua opinião, assim como eu mesmo estou fazendo agora. Mas quem vivencia isso entende o porquê. Quer você tenha estado presente em 1987 ou em 2024, o SXSW é um grande festival.

 

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