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Fernanda Schmid

Executiva de Marketing há mais de 15 anos, Fernanda tem passagens por empresas como Alpargatas, Mercado Livre e Reckitt, onde atuou também em Londres e Nova York. Formada em Administração pela FGV, fez seu MBA em Marketing pela ESPM, e especializações em Marketing Digital na UCLA, Business na Yale School of Management e Leadership em Stanford. Fernanda é também mentora pela Endeavor e investidora-anjo em startups pelo GVAngels.

Há algum tempo já se fala sobre a neuroplasticidade – a capacidade que o cérebro tem de reorganizar suas funções e “aprender novos caminhos”. Um dos temas que mais acompanhei no SXSW foram os debates sobre BCIs (Brain Computer Interfaces), ou Interface Cérebro-Computador, e como elas podem ajudar a induzir a neuroplasticidade.

Não vou tentar dar uma explicação científica de como um BCI funciona, mas posso reproduzir uma das explicações “for dummies” que ouvi em Austin: é quando usamos algum tipo de hardware – seja uma touca com eletrodos ou um chip no crânio – para captar os sinais biofísicos do cérebro e enviar para um computador, para, por exemplo, mexer uma prótese. Posto de forma simples: controlar alguma coisa com o poder do pensamento!

Antes de contar alguns dos debates que acompanhei, já vou deixar claro: não tenho uma opinião formada, a favor ou contra, e nem sei se eu usaria algo assim no futuro. Acho que mudei de ideia umas 6 ou 7 vezes ao longo do evento, conforme ouvia as diferentes perspectivas de cientistas, empresários, investidores e até de gente que já está testando esse tipo de tecnologia. 

Em uma das sessões, vi Ian Burkhart, um jovem que ficou tetraplégico após um acidente, falar sobre como conseguiu recuperar o movimento de uma mão por conta desse tipo de tecnologia. Em outra sessão, o atleta da NFL Nick Hardwick, que bateu a cabeça milhares de vezes nos jogos e sofria de dores crônicas e insônia, usou estimulação com ondas eletromagnéticas para recuperar e “otimizar” suas capacidades cognitivas. 

Os dois casos são bem diferentes, mas trazem algumas questões interessantes, e que precisam ser discutidas antes que essas tecnologias sejam transformadas em ainda mais produtos de consumo de larga escala – Sim! Já existem alguns…. 

Pensando em habilidades físicas, esse tipo de tecnologia poderia reverter casos de Esclerose Lateral Amiotrófica (aquela do desafio do balde de gelo, lembra?), lesões graves, perda de visão, de audição… E isso de forma talvez melhor ou com menos desvantagens que produtos farmacológicos disponíveis hoje. Mas ela também pode vir a se desenvolver para nos tornar super-humanos, com funções motoras ou físicas aumentadas. Se usamos medidores de frequência cardíaca e marca-passo, poderíamos monitorar, corrigir ou até ampliar também o funcionamento de outros órgãos do corpo humano?    

Tratando de habilidades cognitivas, a discussão é ainda mais complexa. Quando falamos de saúde mental, o que seria o equivalente a uma lesão?  Depressão e estresse pós-traumático? Fadiga crônica, ansiedade e burnout? Tecnologias de BCI podem vir não só a tratar esses casos, mas também serem usada para aumentar e ampliar as funções cognitivas de quem “não precisa”.  E com tanto preconceito e estigma ao redor do assunto da saúde mental, não é claro o que significa “precisar”.  

Num futuro um pouco mais distante, vem a dúvida se essas tecnologias poderiam ser usadas para “controlar a mente”? Você implantaria no crânio um chip que pudesse “ler” o que você pensa? Um dos pontos levantados em um painel foi que – provavelmente – o que um chip poderia saber não é muito mais do que a tecnologia já sabe sobre a gente. Ou você acha que seu smartphone não está já “lendo” seu pensamento quando aparece um anúncio sobre algo que não pesquisamos nem falamos perto da Alexa? Entre dados de mobilidade, comportamento de uso e eye-tracking, talvez realmente os BCIs não signifiquem um avanço tão grande assim na leitura do que pensamos…

Um outro ponto – e esse, ainda mais polêmico – é sobre o quanto podemos “move fast and break things” (Avance rápido e quebre coisas) nessa esfera. Quanto mais testes e casos de uso para essas tecnologias, menores os riscos, e maior o apetite de investidores. Quanto menos invasiva for a tecnologia (por exemplo, a instalação do chip no crânio, e não no cérebro), menor o risco da cirurgia. Por outro lado, muitas das empresas fazendo testes nessas áreas podem simplesmente falir e fechar. E aí? Quem vai fazer o update do software? Quem vai retirar o hardware implantado? Um app no seu celular você pode simplesmente deletar. Aqui o negócio é mais complexo. 

Alguns defenderam que os órgão reguladores precisam ser rápidos e começar a regulamentar esse tipo de tecnologia. Outros acreditam que isso atrapalharia o desenvolvimento das tecnologias (e com isso, os ganhos – tanto dos potenciais pacientes que precisam da tecnologia, quanto dos VCs que estão investindo).  

Outra grande questão colocada é o trade-off: Em troca do que você correria o risco? Em troca do que cederia os seus “dados mentais”? 

Não é uma discussão simples, e nem acredito que haja já uma resposta. Por enquanto, fico aqui, sem chip nenhum, tentando contribuir pra minha neuroplasticidade através de boas noites de sono, muita leitura, exercício, Yoga e meditação.  

PS: Esse texto foi criado a partir de reflexões das seguintes palestras do SXSW: Does mind control for Good exist? / Your Brain Data and the Future of Mental Health / BCIs – Future of Cognition, Economy and Humanity. E sem nenhuma ajuda de nenhum BCI, nem do ChatGPT. 

Fernanda Schmid é Executiva de Marketing há mais de 15 anos, Fernanda tem passagens por empresas como Alpargatas, Mercado Livre e Reckitt, onde atuou também em Londres e Nova York. Formada em Administração pela FGV, fez seu MBA em Marketing pela ESPM, e especializações em Marketing Digital na UCLA, Business na Yale School of Management e Leadership em Stanford. Fernanda é também mentora pela Endeavor e investidora-anjo em startups pelo GVAngels.

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