Bolívia tem algumas particularidades que fazem com que seja um país especial. Conta com uma diversidade incrível, seja em suas paisagens, culturas, e uma diversidade quase única de espécies animais e vegetais. Além disso existem, segundo a sua Constituição, 37 línguas oficiais.
Apesar dessa diversidade, Bolívia vive alheia das mudanças que tem acontecido no mundo nas últimas décadas e não é possível que, aqui, comemorar a diversidade sexual e de gênero ainda seja um tabu entre marcas, profissionais e sua audiência. É como se dentro das suas próprias fronteiras, a vida tivesse detido faz muito tempo, afastando a maior parte da sua população dos avanços normais de um mundo cada vez mais globalizado. Mas, essa distância se sente mais nos direitos das pessoas que na falta de algumas marcas, como McDonald’s, presente na imensa maioria de países do mundo, menos na Bolívia.
E esse é o tema que queremos compartilhar depois de vivermos esta realidade em primeira mão, uma experiência que para nós, foi chocante. Como responsáveis criativos em uma das agências locais mais representativas do mercado, ficamos impressionados pelo fato de que as marcas não queiram participar de maneira explícitas da parada do Orgulho LGBTQIA+. Para nós, brasileiro e espanhol, é marcante que, enquanto no resto do mundo as marcas estão tentando fazer de tudo ou o que podem para terem representatividade, na Bolívia, fazem de tudo para evitar que suas marcas sejam relacionadas com a comunidade LGBTQIA+.
Esse comportamento não é apenas das marcas locais, que parecem sentir receio de defender os direitos das minorias. As marcas globais instaladas na Bolívia também fazem de tudo para que ninguém possa relacionar seus produtos nos pontos de venda com essa minoria, que sempre esteve marginalizada e esquecida. Marcas que, em outros mercados, são ativamente e de maneira explícita apoiadoras dos movimentos LGBTQIA+ em seus países e mercados locais.
Falando entre nós, nos perguntamos várias coisas: Porque isso acontece? O que acontece na Bolívia para que os responsáveis de marketing e as marcas não queiram estar presentes no dia mais importante das pessoas que comemoram a diversidade de gênero? É uma questão de medo? De vergonha? Falta de propósito?
Este ano. um dos temas principais da Parada Gay Boliviana (ou Parada LGBTQIA+, que em espanhol, seria “La Marcha por El Orgulho LGBTQIA+”) foi a violência que essa comunidade sofre quando tem a coragem de expressar sua opção de gênero ou opção sexual. A parada gay na Bolívia pediu segurança e proteção para todos os LGBTQIA+.
As respostas para nossas perguntas não eram fáceis, muito menos únicas. Não fizemos nenhuma pesquisa em detalhe (não temos os meios para fazê-lo), porém, temos a necessidade profissional de conhecer a resposta para tratar de dar soluções e achar novas oportunidades para nossos clientes.
E tentamos. Tentamos levar uma marca para fazer parte do Dia do Orgulho LGBTQIA+ com uma mensagem muito simples e que todas as pessoas fossem concordar: EU ME ATREVO A SER EU. Essa campanha foi feita pelas próprias pessoas da agência, sem orçamento, somente com o intuito de experimentar e aprender. E uma pessoa da agência teve uma possível resposta válida. Falando direito sobre o assunto, nos disse que tem uma coisa que chamou de “cultura de cancelación”, que significa que as marcas evitam defender as minorias para não perder a fidelidade das maiorias.
Outra marca na Bolívia que se lançou a fazer parte desse dia tão importante para a sociedade foi a SKYY VODKA, que até o dia de hoje, enquanto escrevemos este artigo, mantém em seu logo de Instagram e na descrição de conta a bandeira LGBTQIA+. A marca realizou um gift box que foi entregue para as principais personalidades da comunidade LGBTQIA+ na Bolívia, como Kira Kabana, Marco Arzabe, Ale Alas, tudo organizado em conjunto com a famosa Drag Queen Bruna Cabana.
Acreditamos que o caminho não é fácil em nenhum lugar, que em todos os países, profissionais e marcas estão lutando dia a dia para que a comunidade LGBTQIA+ tenha cada vez mais uma participação de maneira natural e orgânica. Porém, aqui na Bolívia, o caminho é ainda mais logo e mais duro. Sabemos que estamos abrindo caminhos e esperamos que a cada ano, mais marcas, mais profissionais, mais criativos façam parte dessa mudança, não apenas com ideias e estratégias de marketing, mas com muito orgulho.
Pablo Jove e Fernando Fernandes trabalham juntos e lideram uma das agências com a maior trajetória criativa da Bolívia. Cada um soma mais de 20 anos trabalhando no mercado publicitário, com passagens pelo mercado brasileiro, latino, americano e espanhol. Ambos somam reconhecimentos internacionais no El Ojo de Iberoamérica, El Sol, FIAP, e também foram nomeados jurados em festivais de peso para o mercado, como EFFIE LATAM, FIAP e El Ojo de Iberoamérica.
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