A algoritmização ou o uso de inteligência artificial e de dados para determinar o que vai ser produzido ou cancelado, foram assuntos que se destacaram em vários painéis da Rio2C, maior evento de criatividade da América Latina, que ocorreu de 4 a 9 de junho no Rio de Janeiro (RJ). O questionamento é: Estariam determinando aquilo que vemos na TV, principalmente no streaming?
A pergunta foi feita para a Netflix, pioneira no uso de algoritmos como mecanismo de recomendação de conteúdo para o telespectador. A plataforma realmente usa IA e ciência de dados para decidir se vai produzir ou renovar uma série, mas esclarece que o instinto humano ainda dão a última palavra.
Os bots da Netflix monitoram, por exemplo, em que minuto de um episódio as pessoas deixam de assistir, se elas voltam ou se abandonam definitivamente. Ou seja, bom é aquilo que o público gosta e engaja.
Durante um painel na Rio2C, Elisabetta Zenatti, vice-presidente de Conteúdo da Netflix no Brasil, ressaltou que a qualidade é uma abordagem focada na audiência, mas que não é uma fórmula matemática, e sim uma forma de ajudar a entender melhor o público, já que são as pessoas que precisam assumir a responsabilidade de produzir um conteúdo. Ainda segundo Elisabetta, a fórmula por trás da retenção do público é sua variedade de conteúdo, que vai de realities a séries criminais, passando por produções fenomenais.
“Se fosse tão simples quanto ter mais dados ou melhores algoritmos, nós não teríamos fracassos, nem concorrência”, comentou a executiva.
O uso de IA na criação artística também foi protagonista do painel ‘A Importância de Encontrar a Verdade Emocional’, com Ron Leshem, criador da minissérie israelense Euphoria (2012-2013). Crítico da IA, Leshem se referiu a ela como “a morte da criatividade” e “a morte da verdade”.
De acordo com Leshem, existe na indústria do entretenimento um “algoritmo do drama”, um conjunto de regras que são seguidas há muito tempo, muito antes de se falar em inteligência artificial, como a jornada do herói. Essas “receitas” agora estão mais poderosas devido à algoritmização.
Leshem lembrou, no entanto, que os programas mais bem-sucedidos são exatamente aqueles que não seguem nenhuma regra. Como Euphoria, que faz um retrato pessimista da geração Z pelo que Lashem chama de “realismo emocional”, reforçado pela maquiagem e pela luz meio alaranjada.
Já o cineasta Jorge Furtado, roteirista e diretor de séries e programas especiais da Globo, apontou para o risco de repetição. Segundo ele, também no Brasil os criadores vivem sendo instigados a seguirem fórmulas que dão certo ou que já foram testadas.
Nós temos que acreditar no criador. Ele não serve ao algoritmo, ele serve a outra coisa. O algoritmo está atrasado, a criação está sempre na frente. Alguém cria uma coisa que é fora do parâmetro, não está no algoritmo. Eu tenho a esperança de que a gente já tenha superado esse primeiro momento.
*Com informações do Notícias da TV/ Foto de capa: Divulgação/Netflix.
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