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Rejane Romano

Rejane Romano é jornalista, pós-graduada em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo (USP) e atualmente é diretora de comunicação na agência DPZ.

Mais um mês de março iniciando e a reflexão quanto ao dia/mês da mulher ganha força nas áreas de diversidade. Um importante movimento visto que em todo o mundo as mulheres ainda não alcançaram a equiparação salarial com homens, mesmo exercendo a mesma função.                     

Ter ações efetivas e que possam de fato mudar os ponteiros requer ações práticas e tendo em vista que as mulheres têm buscado cada vez mais a qualificação não seria essa uma difícil tarefa. De acordo com o Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 maiores empresas do Brasil e suas ações afirmativas, do Instituto Ethos, as mulheres apresentam um melhor nível de educação em todos os grupos profissionais. Ou seja, atuar para inclusão/promoção de mulheres no ambiente corporativo pode se ancorar em dois importantes pontos: mulheres são maioria da população brasileira (51,1% de mulheres, segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD 2021); e as mulheres são mais educadas que os homens.

Ainda de forma a transformar realidades e o mercado na prática, uma importante tomada de decisão é investir em mulheres pretas. Estas também têm buscado maior ingresso nas universidades e são o grupo mais numeroso das instituições de ensino superior públicas, também de acordo com a PNAD Contínua – 2021. Ter ações afirmativas voltadas às mulheres pretas é necessário para o mercado e indispensável frente aos desdobramentos que causam em nossa sociedade.

De fato, os desdobramentos são muitos, dar oportunidade a mulheres pretas significa transformar todo o entorno delas. Desde a abolição da escravatura no Brasil coube às mulheres pretas um papel de subsistência das famílias. Muitas vezes, prendendo-as inevitavelmente na função de trabalhadoras domésticas, perpetuando a função que exerciam na casa grande desde o período escravocrata. Sem opções, gerações e gerações de mulheres pretas tiveram apenas como opção trabalhos como faxineiras, cozinheiras, cuidadoras…

Oportunizar o acesso a outras funções, cooptar essas mulheres que com muita resiliência estão lutando para mudar suas realidades é ter coparticipação para reverter um cenário em que mulheres pretas são maioria quanto aos piores índices sociais (mais vulneráveis à violência doméstica, superioridade dentre a população carcerária feminina, dentre outros). Não por acaso, há tempos, Angela Davis* avaliou que “quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”.

Induções potentes são implementadas a partir de uma tomada de decisão: investir em mulheres pretas. Por isso o título desse artigo é tão incisivo e pragmático. Não há elucubrações, é tempo de agir. Agir!

Milton Santos** foi extremamente generoso em nos alertar que “existem apenas duas classes sociais, a dos que não comem e a dos que não dormem com medo da revolução dos que não comem”.

Então se comprometa. Não se acovarde, tenha intencionalidade e a cada vaga que tiver busque por mulheres pretas. Faça processos seletivos afirmativos, procure no LinkedIn, forme redes, acesse consultorias. Também a cada oportunidade de promoção, comece observando as mulheres pretas de sua empresa. Mapeie as que já tem, faça a análise de caso a caso e não se prenda apenas às questões técnicas. Vivências são um enorme diferencial. São as experiências reais que têm evitado que continuemos com o mais do mesmo.

É importante que, além da contratação/promoção, as empresas criem ações afirmativas para que essas mulheres entendam a sua importância no ambiente e tenham seu protagonismo valorizado, sendo necessária a implementação de uma cultura humanizada e saudável dentro da corporação. Falo mais sobre esse assunto no artigo https://adnews.com.br/o-esg-nosso-de-cada-dia/ 

Vai dar trabalho? Sim! Mudanças exigem dedicação, mas os ganhos são imensuráveis e com garantia de retorno. De acordo com levantamento de 2020 da Consultoria Mckinsey em 15 países, incluindo o Brasil, as empresas que veem a diversidade como parte da estratégia de negócios têm mais chances de lucrar acima da média do mercado. Enfim, este contexto de “ganha-ganha” está em suas mãos.

*Angela Davis – ativista, professora e filósofa, Angela assumiu papel importante na luta revolucionária negra integrando o Partido Comunista dos Estados Unidos, dos Panteras Negras. É autora de livros como Mulheres, Raça e Classe; Uma Autobiografia; A Democracia da Abolição; e O Sentido da Liberdade, entre outros.

** Milton Santos – considerado um dos mais renomados intelectuais do Brasil no século XX, Milton foi geógrafo, escritor, cientista, jornalista, advogado e professor universitário, considerado um dos maiores nomes da geografia no Brasil.

Rejane Romano, engajada, ativista e jornalista, pós-graduada em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo (USP), já coordenou a comunicação do Grupo Ethos e atualmente é diretora de comunicação na agência DPZ.