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Roberto Nascimento

Roberto Nascimento é um renomado executivo com mais de quatro décadas de experiência na indústria da comunicação. Em 2015 recebeu o prestigioso Prêmio Caboré na categoria "Profissional de Veículo", consolidando seu status como uma das vozes mais respeitadas na indústria.

Esses dias, me deparei com um dado que me chamou bastante a atenção: segundo a pesquisa da The Harris Poll, os millennials precisam de um valor anual de US$ 525 mil (aproximadamente R$ 2,5 milhões) para serem felizes. Esse valor é mais que o dobro das gerações Z e X, por exemplo, que declararam se contentar com US$ 128 mil (R$ 628,7 mil) e US$ 130 mil (R$ 638,5 mil), respectivamente.

E o que está por trás dessas cifras, me pergunto? Seria o acesso a novas e caras tecnologias, como smartphones e tablets? Seria o seu consumismo imediato, já que são impactados a todo momento por propagandas em todas as telas e aplicativos? Porém, existem outros fatores que justificam o custo para a felicidade dessa geração.

O Bureau Nacional de Pesquisa Econômica diz que os indivíduos experimentam 70% do crescimento geral de seus salários durante a primeira década da vida profissional. Se esse período coincidir com uma desaceleração, que de fato aconteceu nas últimas décadas, é provável que haja uma redução de 9% no longo prazo. Já o Centro de Pesquisa da Aposentadoria afirmou, em pesquisa feita em 2021, que a geração entre 28 e 38 anos tinha a menor riqueza média comparada à renda média em relação a qualquer geração anterior.

Trazendo dados do Brasil, uma pesquisa realizada pela consultoria Deloitte aponta que as principais preocupações de brasileiros das gerações Z e millennials são desemprego, segurança e custo de vida. Esse dado pode ser confirmado pela simulação feita pela FIDUC que mostra que, para um jovem morar sozinho no Brasil, é preciso ter uma renda líquida de R$ 5.137,88 por mês considerando despesas básicas como aluguel, luz, internet, alimentação e saúde. Estamos falando de uma geração que se deparou com grandes recessões, como a crise financeira de 2008 a 2009 que impactou o mundo, e no Brasil, com contração econômica iniciada em 2014 e agravada pela pandemia.

Ao observar esses dados, chego a conclusão de que a infelicidade dos millennials talvez não seja somente por conta da conexão com a tecnologia que eles vivenciam desde o seu nascimento ou do imediatismo característico dessa geração, e sim dos preceitos, convicções, e principalmente, decisões tomadas pelas gerações anteriores.

Segundo Bruce Tulgan, consultor de liderança e autor do livro O Que Todo Jovem Talento Precisa Aprender, os pais dessas gerações são aqueles que estão sempre de olho no filho e correm a seu resgate no primeiro sinal de problema.

“É por isso que eles têm dificuldade no mundo corporativo. Eles foram acostumados a ser tratados como clientes, usuários de serviços e produtos entregues pelas autoridades e instituições, inclusive a escola. Eles não respeitam a figura autoritária, a não ser que sejam conquistados por ela”, afirma.

Isso resulta em outra infelicidade: a profissional. O tempo em que as pessoas passavam a maior parte de suas vidas adultas em um mesmo emprego já é passado. Os millennials não veem justificativa em permanecer muito tempo trabalhando em um local onde não se sentem valorizados, e onde suas funções não estão de acordo com suas expectativas e aspirações.

Fico com a sensação que as gerações X e baby boomers não assumiram a responsabilidade de desenvolver e de transmitir seu conhecimento sobre o mundo corporativo de geração para geração, de uma forma que contribuísse no desenvolvimento da resiliência, na capacidade de se desenvolver em ambientes mais difíceis e de lidar com um “não” dos jovens no mercado de trabalho hoje.

Termino minha reflexão com duas perguntas para 2024: Será que as gerações anteriores não são pelo menos parcialmente responsáveis pela infelicidade de seus filhos ou netos? E o quanto isso pode impactar no custo das empresas?

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Adnews

 

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