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Debora Moura

Debora Moura, é head de Diversidade e Inclusão do Grupo Artplan e vem realizando iniciativas para ser uma agente transformadora dentro do mercado da comunicação e do entretenimento. Segundo a profissional, não basta apenas contratar, é preciso incluir e proporcionar um ambiente seguro para pessoas de grupos sub-representados, além da elaboração de ações afirmativas que possam gerar a mudança da cultura organizacional.

Moro em Brasília mas, há muitos anos, eu passo o carnaval no Rio de Janeiro, apaixonada que sou pelo desfile das Escolas de Samba. Desde a inauguração do sambódromo, frequento todo ano, quase sempre da arquibancada, o palco do maior espetáculo da Terra.

Este ano foi diferente. Minha programação carnavalesca foi modificada pela possibilidade de estar na sede das Nações Unidas em Nova York, na manhã da Quarta-Feira de Cinzas. E, de coração apertado e sem querer acompanhar muito a movimentação carnavalesca para não sofrer, embarquei para Nova York na segunda-feira de carnaval. Estava ansiosa, não somente pela viagem, mas pela expectativa de estar no prédio da ONU e conhecer NYC.

Pouco antes de aterrissarmos, o piloto avisa que nevava em NY. Com quase 60 anos, eu nunca tinha visto neve! De cara, a experiência de ver a asa do avião com uma camada de gelo logo após o pouso e sair na neve para pegar o transporte para o hotel já valeu a viagem. Surgia um mundo coberto de neve que eu nunca tinha tocado, sentido na pele, não sabia que virava gelo duro depois, nas ruas e canteiros. A partir deste momento, tudo significaria uma experiência nova e única.

O convite veio da Aliança sem Estereótipos, da ONU Mulheres – movimento que visa conscientizar anunciantes, agências e a indústria da propaganda em geral sobre a importância de eliminar os estereótipos nas campanhas publicitárias – era forte o suficiente para eu não estar presente no sambódromo. A Artplan, agência do Grupo Dreamers na qual atuo há 17 anos, tornou-se agência membra da Aliança durante sua Cúpula Global de Membros, que reúne um grupo de líderes diversos, com o objetivo comum de alcançar a diversidade, a equidade e a inclusão na nossa indústria, na luta por um mundo sem estereótipos e com igualdade. Era também um convite em reconhecimento a todo um trabalho que vem sendo realizado de forma genuína na Artplan e no Grupo Dreamers, em seis anos de Comitê da Diversidade.

Minha companheira de trabalho e viagem, a maravilhosa Anne Passos, gerente de Projetos em Diversidade e Inclusão do Grupo Dreamers, chegou à plenária pouco depois de começado o evento. Eu toda hora olhava para trás esperando sua chegada, e quando nossos olhos se cruzaram foi como se o abraço começasse no olhar. Foram longos minutos de abraço e choro e a gente se dizia por dentro: a gente conseguiu, somos duas mulheres pretas brasileiras representando o nosso trabalho na ONU. Significou muito para nós, para os nossos colegas de trabalho, amigos e para as nossas famílias. Não sei descrever o tamanho de tanta representatividade e, lá comigo, também estava todo um Comitê da Diversidade da Artplan e do Grupo Dreamers. A Cúpula Global da Aliança representou dois dias de muito aprendizado. Ouvir líderes globais da comunicação falarem sobre suas experiências e ações contra os estereótipos foi revelador, porque tivemos a consciência de que não ficamos atrás de nada que vem sendo feito mundo afora, seja na África, Ásia ou nas Américas. O Brasil tem o seu lugar no cenário mundial sobre o tema da diversidade, representado por projetos e ações com resultados transformadores, apesar da constante reflexão do tanto que ainda precisamos avançar.

Eram cerca de 250 convidados, de diversos países, participando do evento. Pudemos aprender sobre como enfrentar resistência ao combate aos estereótipos, o poder da D&I no nosso negócio, modelos de mudança e impacto, a diversidade e a inteligência artificial, iniciativas educacionais para as próximas gerações, entre outros debates enriquecedores. Foi nestes fóruns de conversas que nos sentimos pertencentes à pauta da diversidade, no entendimento e na disseminação de boas práticas.

No evento, pudemos vivenciar a utilização do Guia de Desconstrução de Estereótipos da Aliança, que traz ferramentas de apoio no desenvolvimento de narrativas que empoderam e não estereotipam pessoas, incluindo a utilização dos 3Ps da propaganda não estereotipada – Presença (quem está sendo representado/a), Perspectiva (Quem está contando a história) e Personalidade (Profundidade das Personagens).

Todos os aprendizados serviram de inspiração pra novos projetos, parcerias e pra consolidar a certeza de que é possível realizar ações afirmativas de transformação da sociedade.

NY se mostrou acolhedora, linda em neve, surpreendente em receptividade, diversa na sua própria propaganda. Não vimos uma peça publicitária que não representasse em si a diversidade que temos na formação de toda e qualquer sociedade. Eu e Anne, enquanto passeávamos, continuávamos aprendendo, trocando, guardando na retina a experiência de uma viagem a uma cidade imensa, em todos os sentidos.  Traremos na alma para sempre os dias vividos e tudo que pudemos ver de transformador que a Aliança sem Estereótipo oferece.

Enquanto isso, o carnaval no Brasil passou. Tenho a certeza de que não perdi nada, pelo contrário. A vencedora dos desfiles ainda foi a Viradouro, da minha terra natal Niterói (RJ), com um enredo que evocava Dangbé, a mítica cobra cultuada na África. O samba pedia proteção à grande cobra, que tem poderes de regeneração, vida, transformação e recomeço. “Arroboboi, Dangbé!”

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do veículo/ Foto de capa: Divulgação/ ONU Mulheres 

 

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