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Os desafios para retenção de talentos não são de exclusividade do mercado publicitário brasileiro, embora o insumo principal da atividade sejam as pessoas. Segundo a 25ª edição do Índice de Confiança Robert Half (ICRH), estudo trimestral que monitora o sentimento dos profissionais em relação ao mercado de trabalho e à economia, 76% dos recrutadores estão com dificuldades na contratação de profissionais qualificados. Além disso, o Brasil é o país com o maior índice de turnover do mundo, com 56% de aumento na rotatividade de profissionais no ano passado. Entre as principais causas desse resultado, aparecem a baixa qualidade do clima organizacional, a falta de alinhamento de expectativas, a falta de reconhecimento e a falta de um plano de carreira.

Segundo Edna Bedani, professora da área de liderança e carreira da ESPM, a retenção de talentos é o grande desafio do mercado em qualquer área, isso porque os profissionais estão mais atentos ao seu propósito e buscam condições de trabalho para conectá-lo, estão mais exigentes ao fazer escolhas.

“Imagino que, no mercado publicitário, esta dor aumente caso a contratação seja “por projeto”, modelo freelancer ou PJ, o que fragiliza o vínculo profissional”, diz.

Edu Simon, CEO da GALERIA.ag, conta que a agência criou uma cultura que une as pessoas em torno de um propósito, sob o conceito de coletivo de protagonistas, formado por pessoas de diferentes habilidades para oferta criativa que responde à complexidade atual do mercado. Os profissionais são desenvolvidos desde o primeiro dia de agência para assumirem o protagonismo de suas carreiras. A Galeria completa dois anos de existência com mais de 500 colaboradores.

“É uma indústria que evoluiu pouco no jeito de atrair, desenvolver e reter talento. Quando criamos a Galeria, olhamos muito para isso. De como resolver as dores do mercado, e uma delas, sabíamos que era as pessoas. Vivemos um paradoxo que tem a ver com o fato de que as empresas de comunicação foram vendidas, e neste processo, saíram os fundadores e se perdeu muito da cultura. Ela é a massa que une todos os talentos em torno de uma mesma visão. Esse coletivo é quase que o eixo central da construção da cultura da Galeria, e em volta dele, giram iniciativas que auxiliam na consolidação desta percepção”, explica Simon.

A agência possui um programa de associados com 18 profissionais que se transformaram em sócios, além da participação nos resultados para 100% da agência, incluindo estagiários. E programas de desenvolvimento de times, de lideranças e de inclusão e diversidade, inclusive em parceria com a ONU na seleção de mulheres.

“Levamos muito a sério a questão de talentos porque acreditamos ser uma dor do mercado. Temos uma fuga de talentos da indústria e muita rotatividade”.

De acordo com Paulo Cunha, coordenador do curso de Comunicação e Publicidade da ESPM, especialmente profissionais mais jovens que demandam por objetivos claros e factíveis, alinhamento do projeto de vida com propósitos da empresa, perspectiva de jornada de carreiras nas empresas, agilidade de processos e respostas, qualidade de vida, valorização e feedback.

Para Silvio Soledade, presidente da Associação dos Profissionais de Propaganda (APP Brasil), é fundamental que as empresas invistam em capacitação e treinamento, e entidades como a APP possam intensificar, por meio de suas iniciativas, a aproximação entre o ambiente acadêmico e os profissionais, diminuindo gaps de aprendizado.

“Está cada vez mais difícil acreditar na retenção de talentos, mas entendo que as empresas devem sempre oferecer desenvolvimento profissional e pessoal, além de promover uma cultura corporativa positiva e alinhada com os propósitos de seus colaboradores. Depois da pandemia, ficou evidente que permitir cada vez mais o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal é fundamental para manter a equipe motivada, e sem dúvida, ter ambientes que permitam a promoção de uma economia colaborativa para o crescimento profissional através do compartilhamento de ideias e conhecimento”, explica.

Sandra Poltronieri, diretora de gestão de pessoas do Grupo Dreamers, formado por 19 empresas, entre elas a agência Artplan, o Rock in Rio, a Dream Factory e a Pulse, ressalta que a retenção de talentos na comunicação tem uma importância ainda maior ainda, pois o valor está nas pessoas. Segundo ela, mesmo em tempos de IA, a essência da criatividade está no ser humano.

“Gosto também de falar que o desafio não está apenas na retenção, mas no engajamento e na criação do senso de pertencimento. De nada adianta reter se, no dia a dia, não enxergamos engajamento, troca e espaço para que cada pessoa se sinta parte e enxergue significado no que faz”, diz.

A Artplan possui cerca de 400 colaboradores. O Grupo tem aproximadamente 1,5 mil, e além de programa de incentivos, prioriza ações em torno de salários e benefícios, propósito, espaço para desenvolvimento e aprendizagem, diálogo e ambiente com segurança psicológica.

“Por isso, investimos na formação da liderança e na capacitação contínua. Recentemente, também lançamos nossa plataforma para todos os colaboradores, com foco em lifelong learning”, diz Sandra.

Modelo híbrido

Entre os apontamentos para melhoria do bem-estar no âmbito profissional, estão os formatos flexíveis: 76% dos profissionais considera a modalidade híbrida como o modelo ideal de trabalho, 18% indicam o home office integral e somente 6% preferem o modelo presencial full time.

A GALERIA.ag, que nasceu no período da pandemia, adota o modelo de trabalho híbrido desde a sua concepção, o que permite a contratação de talentos, por exemplo, de pessoas que estão na Europa e em outros estados do Brasil. Ao todo, são 150 lugares físicos, que são ocupados via agendamento pelo app criado especialmente para o modelo da agência. Segundo Simon, a regra é de 10 dias presenciais no mês. Funciona sem lugar fixo, cada profissional escolhe o local onde vai sentar, próximo a equipe do projeto em que está trabalhando.

Para tanto, a agência contratou uma consultoria para treinamento da equipe e de como realizar reuniões híbridas. Todas as salas possuem equipamentos com câmeras que localizam quem está falando no momento da reunião.

“Uma coisa muito importante foi construir um escritório já olhando para um mundo que mudou. Antigamente, era um lugar em que as pessoas eram obrigadas a ir. Hoje, aprendemos que tem que ser um lugar onde as pessoas queiram ir. Seja porque a internet é muito boa, tem pão de queijo, café, itens gratuitos, seja porque o ambiente é muito agradável. Temos 1 mil m² de área externa entre uma varanda enorme com áreas para trabalhar ao ar livre, um rooftop com mesa de reunião, porque já estávamos mirando não ter fuga de talentos quando voltássemos para o modelo presencial”, conta Simon.

A pandemia acelerou muitas tendências do futuro do trabalho, e uma delas são os diversos modelos que podem ser implementados, de acordo com a diretora de gestão de pessoas do Grupo Dreamers.

“Nós acreditamos na flexibilidade e em um ambiente onde a confiança está presente. Também temos certeza de que a vida acontece ao vivo e que as interações presenciais são fundamentais para criar vínculos, fortalecer as relações e a camaradagem. Por isso, estamos adotando o modelo híbrido, com a presença em dois dias na semana nos escritórios”, afirma.

 

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