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Rejane Romano

Rejane Romano é jornalista, pós-graduada em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo (USP) e atualmente é diretora de comunicação na agência DPZ.

E hoje é a estreia de Rejane Romano como colunista do Adnews, que trará conteúdos exclusivos sobre ESG e Diversidade para a nossa plataforma.

Rejane Romano, engajada, ativista e jornalista, pós-graduada em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo (USP), já coordenou a comunicação do Grupo Ethos e atualmente é diretora de comunicação na agência DPZ.

Seja muito bem-vinda Rejane! Arrase!!

O simbólico é algo que permeia nosso imaginário. O significado que damos a fatos, acontecimentos e as memórias que nos atravessam são parte de quem somos e como nos construímos enquanto indivíduos.

No dia 10 de novembro, durante a avant première realizada pela agência Publicis, em parceria com a Flix Media, que disponibilizou ingressos para integrantes de um coletivo de pessoas pretas do grupo Publicis, memórias e vivências de minha vida pessoal se misturaram às cenas de Pantera Negra – Wakanda Para Sempre.

Esse simbólico se fez presente desde o primeiro filme da série, que traz a ancestralidade africana nos detalhes – a oralidade, a cultura, a inovação sempre presentes nos povos africanos, e o quanto nossas sociedades deveriam aprender com tantos ensinamentos, que não só são relegados, como também demonizados em nosso dia a dia, sob a cortina do racismo estrutural.

Sempre acreditei que o conhecimento pode ser parte da estratégia que suprime os privilégios – que faz com que muitas pessoas não pretas finjam não enxergar o racismo e a estrutura que o mantem. Que transformar o estereótipo em algo belo pode ajudar com que as pessoas possam entender que a luta antirracista é de todes e sobretudo dos brancos.

Sentada à poltrona do cinema fiquei pensando sobre como aquele filme pode (e deve) ser entendido sob a ótica da luta antirracista? A defesa das crenças, a busca para que a história de um povo não seja extinta, o sagrado… tantos signos ali presentes e o quanto a mensagem ali embutida pode auxiliar em nosso dia a dia. Nas oportunidades, na inclusão no mercado de trabalho, no acesso aos espaços de poder, no poder de fala…

O simbólico se traduziu em lágrimas que escorreram pela minha face. A face de uma mulher preta que ainda busca encontrar a representatividade que encontrei vendo tantas iguais a mim naquela tela e que não se refletia naquele shopping onde Wakanda Para Sempre foi exibido. Que não se reflete nos eventos da publicidade em que frequento. Quer um exemplo? A premiação do Effie 2022 levou ao palco vários representantes das agências patrocinadoras do evento e dentre tantos que fizeram a entrega dos troféus apenas eu fui a pessoa preta a fazer as vezes. Olhar o portfólio de agências também me mostra a ausência dessa representatividade.

A publicidade, bem como todo o movimento em nossa sociedade precisa suprimir o racismo que ainda persiste. Também é perceptível que cada vez mais as marcas precisam ser diversas e trazer todo potencial, vivências e esse Brasil real que é majoritariamente composto por pessoas pretas. Nosso negócio é feito com pessoas, para pessoas e investir em diversidade é muito promissor.

Como fazer e por onde começar? Wakanda Para Sempre apresenta a solução: investir em mulheres pretas! Mulheres pretas, que como já disse Angela Davis, pelo lugar que ocupam na sociedade, adquiriram a possibilidade de ver a sociedade de outra forma. “A mulher negra tem uma capacidade revolucionária de mudança, porque ela teve que entender o homem branco, a mulher branca, o homem negro e se entender. Uma vitória para mulher negra é como uma vitória para cada camada da sociedade”.

Pena que apenas 0,4% de mulheres negras ocupam altos cargos nas empresas brasileiras. Segundo pesquisa do Instituto Ethos, com as 500 maiores empresas do Brasil, os negros apesar de representam 55,9% da população brasileira, ocupam apenas 4,7% dos cargos de liderança e as mulheres negras representam 9,3% dos quadros destas companhias.

O que perdemos com tudo isso? Perdemos enquanto sociedade, pois a desigualdade tem gerado ao longo dos anos incontáveis perdas econômicas e sociais. Perdemos nos negócios em não dar vazão a todo esse potencial e já começamos a perder investidores internacionais, que passam a considerar a diversidade como um requisito para destinação de fomento.

É significativo ver heroínas pretas nas telas do cinema. Meu grande desejo e missão é que tenhamos esse êxito também em outras esferas da sociedade. O que falta para isso acontecer? Essa não deveria ser “uma pergunta de milhões”, visto que todos os índices nos apontam isso. É sabido que, de acordo com pesquisa realizada pela McKinsey & Co, empresas com diversidade étnica e cultural tiveram uma performance 36%melhor.  

Benchmarkings e exemplos de boas práticas estão aí para serem seguidos. Na DPZ, onde atuo diretamente na frente de diversidade e inclusão, temos iniciativas em grupos de diversidade e afinidades, rodas de conversa sobre os temas que tocam esses públicos, metas de contratação e o investimento do grupo Publicis em aulas de inglês, mentoria e coaching, que fazem parte do programa UNA, fruto do coletivo de diversidade do grupo, como medidas para equilibrar as diferenças.

Para mudar o atual cenário precisamos atuar em duas frentes, tendo pessoas pretas à frente, mas também por trás das câmeras. Mais que o casting dos filmes precisamos de pessoas pretas pensando nas campanhas, atuando no dia a dia dos clientes. Na Criação, no Atendimento, na Estratégia, Produção, Conteúdo… em todos os times da agência, atuando de ponta a ponta, de forma que a indústria da publicidade possa se beneficiar do que a diversidade traz.

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