De doença à causa social. Este é o caminho que o movimento LGBTQIAP+ vem percorrendo desde 17 de maio de 1990, quando o termo ‘homossexualismo’ foi excluído da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID). A lista, elaborada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), prevê o sufixo ‘ismo’ como indicativo de enfermidade.
Ao longo desses mais de 30 anos, a sociedade deu passos significativos na inclusão da comunidade e na ampliação e popularização dos debates sobre o tema, entendendo que toda forma de amar é bem-vinda. Provas disso estão na instituição do mesmo 17 de maio como Dia Mundial de Combate à Homofobia, em 2010, e na publicidade brasileira, quando marcas e empresas abraçam a causa LGBTQIAP+ publicamente e promovem a desconstrução do preconceito. Porém, o preconceito ainda persiste.
Por que o amor incomoda tanto? Não sabemos. Mas, podemos ter esperanças de mudar essa realidade graças à campanhas como a que o YouTube Brasil fez recentemente, em seu Instagram. A gerente de Social Marketing para a plataforma na América Latina, Diana Evangelista (foto), conta ao Adnews que o vídeo, intitulado ‘Cortes de Beijos’ foi produzido para atender a uma demanda de representatividade.
“Algumas semanas antes, criamos um conteúdo sobre o Dia do Beijo (celebrado em 13 de abril) com casais diversos, homens e mulheres criadores de conteúdo, que foi muito bem recebido pelo público. No período da nova publicação, vimos que existia uma conversa nas redes sociais entre a comunidade sáfica sobre a falta de representatividade de seus afetos nas telas. Entendemos que faz parte do nosso papel mostrar que estamos ao lado delas e que reconhecemos todas as formas de amor entre elas”, relata.
No vídeo, produzido pela Live Marketing de Disseminação, criadoras de conteúdo da plataforma aparecem beijando mulheres. Entretanto, a campanha não agradou todos os seguidores da rede social. Nos comentários, pessoas insatisfeitas com o conteúdo disseram que “deixariam de seguir” o perfil, e houve até quem apelasse para a religião para justificar que os beijos entre mulheres eram “errados”.
Ao produzir o vídeo, Diana afirma que a equipe esperava que o conteúdo chocasse algumas pessoas, mas reconheciam a necessidade de publicá-lo.
“Sabíamos que o conteúdo iria impactar o público na mesma medida que sabíamos que era necessário criá-lo. Tomamos todo cuidado, desde a produção do post até após a postagem, monitorando os comentários em tempo real para garantir que as criadoras estivessem seguras de qualquer possível ataque. Infelizmente, a homofobia está por toda parte, mas entendemos que não devemos deixar de nos posicionar por conta de comentários preconceituosos”, explica a gerente, reforçando que é imprescindível que o debate seja feito de forma construtiva.
No YouTube, não é permitido qualquer tipo de discriminação ou discurso de ódio, incluindo falas de ódio voltadas à orientação sexual das pessoas. Isso está nas políticas e diretrizes da rede social, que removeu mais de 600 mil vídeos em 2022 por promoverem discurso de ódio.
Em contrapartida, o perfil recebeu diversas mensagens de apoio e reconhecimento, inclusive de pessoas que se declaram heterossexuais. Desde que foi criado, em 2005, o YouTube tem como missão dar espaço a todas as vozes e mostrá-las ao mundo, formando uma comunidade em que os criadores de conteúdo e usuários possam se expressar de forma autêntica e gerar conexões com outras pessoas. E, de acordo com o Relatório de Impacto lançado em 2022, a missão está alinhada à percepção dos empreendedores criativos. O levantamento mostra que 72% deles se identifica e sente que tem um lugar para pertencer no YouTube, e 68% concorda que o YouTube os incentiva a criar conteúdos diversos e inclusivos.
Nesse sentido, Diana acredita que a rede social contribui de forma efetiva na desconstrução do preconceito contra o movimento LGBTQIAP+, e recorda uma das iniciativas recentes da plataforma.
“Ser um espaço para o debate ao mesmo tempo em que mantemos a nossa comunidade um espaço seguro para todos é um esforço contínuo do YouTube. Sabemos que as vozes da nossa comunidade LGBTQIAP+ são essenciais para direcionar a sociedade a um comportamento mais tolerante e compreensivo. Entre as nossas iniciativas recentes, podemos mencionar que, em junho de 2022, em celebração ao mês do orgulho LGBTQIAP+, o YouTube Shorts lançou a campanha ‘Nosso Orgulho a Gente Cria’ em parceria com a Media.Monks, que convidava o público a mergulhar na cultura ballroom. Fomos responsável por celebrar o primeiro Ballroom digital da história”, recorda.
O Ballroom é uma manifestação cultural que começou em Nova York (EUA) no fim do século 19, e se espalhou pelo mundo como um movimento de ocupação de espaços e de celebração à diversidade de gênero, sexualidade e raça. No Brasil, o movimento é consolidado há décadas.
“Compartilhar essas histórias é uma forma de levá-las mais para perto dos usuários e fazer com que eles conheçam novas realidades, e que também possam encontrar um espaço de pertencimento e acolhimento. O YouTube é o epicentro da cultura global, espelhando a cultura e impulsionando-a. A plataforma se tornou um destino online para que as pessoas possam ver o que acontece em todo o mundo, sendo também parte ativa do processo, como um importante e imprescindível espaço de disseminação cultural e de diversidade”, finaliza a gerente.
A equipe do Adnews compartilha do propósito do YouTube e de outras empresas que defendem a inclusão e as diversas formas de amar. Por isso, separamos mais quatro campanhas publicitárias que deram uma verdadeira aula de combate à homofobia, mesmo tendo que lidar com comentários ofensivos nas redes sociais, não aceitação de parte do seu público e outras consequências. Confira:
#1 Gol Linhas Aéreas
Em 2015, a Gol homenageou a adoção por casais homoafetivos no Dia das Mães, com a mensagem de que mãe é um conceito. O mote da campanha foi “Entre tantos destinos, eles escolheram o amor”.
#2 Shell
Em 2019, a campanha “De Causo em Causo”, da Shell, contou a história de vários caminhoneiros. Entre eles, estava a caminhoneira transsexual Afrodite, que relatou sua trajetória até se descobrir na profissão e também como transgênero.
#3 Burger King
No ano passado, a rede de fast food Burger King trouxe a campanha “LGBTQIAP+ sob a ótica infantil”, retratando o olhar inocente e lúdico das crianças sobre a temática, com muita sensibilidade e bom humor.
#4 J&B
Também no ano passado, a marca de whisky J&B apresentou o que seria, talvez, um dos mais belos comerciais que a nossa equipe já assistiu. Para celebrar o Natal, época em que muitas pessoas da comunidade LGTBQIAP+ se sentem incomodadas ou rejeitadas pelas suas próprias famílias e não podem comemorar com elas, o filme publicitário retrata a história de aceitação, respeito e, acima de tudo, celebração, de uma família amorosa com um neto adulto transgênero (26 anos).
*Com a colaboração de Cathy Birle
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