Destruição de todas as ferramentas criativas e meios que incentivam a cultura em troca da hipervalorização das máquinas e tecnologias avançadas. A partir disso, proponho uma dinâmica: o cenário que acabo de relatar se trata de uma sinopse de um filme distópico ou é a descrição de um vídeo promocional de uma empresa real? A resposta pode te chocar!
Em um anúncio recente da Apple para promover seu novo e mais fino dispositivo, o iPad Pro, a marca estadunidense criou uma situação que reforçou um dos problemas mais graves que os profissionais do setor criativo estão enfrentando atualmente: a desvalorização do trabalho diante da ascensão de tecnologias avançadas.
Confira a publicação do CEO da Apple, Tim Cook, com o anúncio:
Meet the new iPad Pro: the thinnest product we’ve ever created, the most advanced display we’ve ever produced, with the incredible power of the M4 chip. Just imagine all the things it’ll be used to create. pic.twitter.com/6PeGXNoKgG
— Tim Cook (@tim_cook) May 7, 2024
No vídeo, intitulado ‘Crush!’ (do inglês, “Esmagar!”), um compressor industrial quebra diversos objetos que estimulam a criatividade, como um piano, tintas, brinquedos, livros, videogames e um violão (guarde este último, pois ele será importante). Ao se deparar com o novo iPad Pro, dispositivo composto por telas OLED e chipset M4, o compressor se retrai para não atingir o aparelho, deixando ele sozinho em meio a um cenário com objetos destruídos.
A publicação do anúncio provocou a ira de diversos trabalhadores criativos e internautas, que comentaram sobre a Apple estar sendo incoerente com o próprio legado. Confira a publicação abaixo:
Forty years ago, Apple released the 1984 commercial as a bold statement against a dystopian future. Now you are that dystopian future. Congratulations.
— Yuval Kordov (@YuvalKordov) May 8, 2024
“Quarenta anos atrás, a Apple lançou o comercial de 1984 como uma declaração ousada contra um futuro distópico. Agora você é aquele futuro distópico. Parabéns”, comentou um usuário em tom de indignação com o vídeo.
Apesar da revolta de parte do setor criativo, alguns profissionais encararam o comercial de outra maneira, acreditando que a Apple não estava promovendo a destruição literal da criatividade humana.
Mesmo assim, após o ocorrido, a Apple reconheceu a própria gafe e publicou um pedido de desculpas, declarando que “perdeu a mira” e que não iria exibir o vídeo na televisão.
Toda essa controvérsia é um problema digno de uma longa reflexão a parte, porém, neste momento, cabe analisar que o real erro da maçã como uma grande empresa foi esquecer que situações como essa são tragicômicas o bastante para munir todas as suas rivais com material para sátiras, fazendo com que elas lucrem em cima do erro da Apple. E foi exatamente que sua arqui-inimiga, a Samsung, fez. Confira abaixo:
We would never crush creativity. #UnCrush pic.twitter.com/qvlUqbRlnE
— Samsung Mobile US (@SamsungMobileUS) May 15, 2024
A empresa sul-coreana lançou o anúncio ‘Uncrushed’ (em tradução livre, “Não esmagar”), onde somos apresentados a um cenário semelhante ao do vídeo da Apple, onde os objetos que estimulam a criatividade foram destruídos pelo compressor industrial e se encontram espalhados por todos os lados. Porém, em meio à destruição, uma mulher se aproxima de um violão parcialmente deteriorado e começa a tocar uma música enquanto lê a partitura no Galaxy Tab S9 Series, o novo tablet da Samsung.
Se isso já não fosse o bastante para satirizar a gafe cometida pela Apple, o vídeo, que mostrou a importância da criatividade para fazer um marketing bem pensado, é coroado com a frase “a criatividade não pode ser esmagada”, como uma provocação para a empresa de Tim Cook.
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