Mark Zuckerberg, CEO da Meta, anunciou o fim do programa de checagem de fatos da plataforma, substituindo-o por um sistema de “notas de comunidade”. A mudança tem gerado discussões sobre os impactos no ambiente digital, especialmente em mercados polarizados como o Brasil. Para entender as implicações, conversamos com Rafael Terra, autor do livro “Autoridade Digital” (DVS Editora) e professor de MBA de Marketing Digital e Redes Sociais na USP, ESPM e PUC.
Como a decisão da Meta pode impactar anunciantes?
Segundo Rafael Terra, “a decisão da Meta de encerrar o programa de checagem de fatos e adotar notas de comunidade pode trazer desafios e oportunidades para anunciantes. Por um lado, a plataforma passa a priorizar a liberdade de expressão e a participação coletiva, o que pode gerar maior engajamento. Porém, a redução na moderação de conteúdos pode ampliar a disseminação de desinformação, prejudicando a segurança de marca”.
Ele complementa: “Anunciantes precisam estar atentos ao contexto em que seus anúncios aparecem, pois a associação a conteúdos questionáveis pode impactar negativamente a percepção da marca. Além disso, essa mudança aumenta a responsabilidade dos anunciantes em acompanhar de perto as dinâmicas da plataforma. Eles precisarão de ferramentas mais robustas para monitorar onde seus anúncios estão sendo exibidos, especialmente em mercados polarizados como o Brasil”.
Em especial para o Brasil, quais serão os impactos para o mercado publicitário?
Rafael Terra destaca que “no Brasil, onde as redes sociais desempenham um papel central na formação de opinião e na disseminação de notícias, essa mudança pode ter um impacto significativo. A desinformação já é um problema recorrente, e a ausência de verificadores de fatos pode agravar a situação. Isso pode levar a uma perda de credibilidade para marcas que forem associadas, direta ou indiretamente, a conteúdos duvidosos”.
Por outro lado, ele afirma que “o sistema de notas de comunidade pode criar uma nova dinâmica de engajamento para campanhas publicitárias. As marcas terão a oportunidade de se posicionar como aliadas da educação digital, incentivando a checagem de informações e o consumo consciente de conteúdo. No entanto, o mercado publicitário precisará de uma abordagem mais estratégica, com mensagens claras e alinhadas aos valores da marca, para evitar riscos de reputação”.
Como marcas e agências devem se preparar para tais impactos no mercado?
“Marcas e agências precisam se antecipar a esses impactos adotando práticas mais conscientes e estratégicas”, orienta Rafael Terra. “Primeiramente, é essencial investir em Brand Safety, utilizando tecnologias que monitorem onde os anúncios estão sendo exibidos e evitando associações com conteúdos potencialmente prejudiciais. Além disso, marcas devem reforçar sua autenticidade e transparência. No ambiente digital mais aberto que a Meta propõe, a confiança do público será um ativo essencial”.
Ele também sugere ações práticas: “Ações como educar os consumidores sobre desinformação, apoiar causas relevantes e fomentar a análise crítica dos conteúdos podem diferenciar marcas no mercado. Agências, por sua vez, devem orientar seus clientes a priorizarem a construção de narrativas sólidas e bem planejadas, aproveitando a dinâmica de engajamento promovida pelas notas de comunidade para gerar conversas positivas em torno da marca. Por fim, tanto marcas quanto agências precisam monitorar de perto o desempenho das mudanças na Meta e ajustar suas estratégias conforme as novas dinâmicas do mercado se desenrolarem”.