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Nesta terça-feira (25) celebramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Para comemorar a data, o Adnews traz uma seleção de mulheres negras que ocupam espaços importantes, ao mesmo tempo em que as convocamos para repensar e recriar seu lugar na sociedade.

A data tem origem em 1992, ano do 1º Encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, realizado na República Dominicana. O evento propôs a união das mulheres contra o racismo e o machismo. Dessa forma, surgiu a Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-Caribenhas, que juntamente com a Organização das Nações Unidas (ONU), lutou para que o dia 25 de julho se tornasse uma data comemorativa.

Este dia é um marco internacional de luta e resistência para a mulher negra. No Brasil, na mesma data, também são celebrados o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza foi uma líder quilombola de destaque, que resistiu à escravidão durante duas décadas!

De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), no Brasil, 21% das mulheres negras são empregadas domésticas e apenas 23% delas têm Carteira de Trabalho assinada. Em comparação, 12,5% das mulheres brancas são empregadas domésticas, sendo que 30% delas têm registro em Carteira de Trabalho. A trajetória de uma mulher negra, para muitos, é um processo com uma só direção. Mas, ao contrário do que pensam, isso pode ser mudado e está sendo, com todas as conquistas já vivenciadas.

Todas as mulheres negras precisam saber o lugar que podem ocupar e o lugar que já ocupam. Muitas vezes, elas não possuem voz, recebem olhares de julgamento, e assim, criam uma barreira para alcançar seus objetivos. Mas, o racismo pode ser derrotado pelo poder que cada mulher negra tem, e a luta pela igualdade deve ser valorizada e cada vez mais incentivada desde cedo, em todas as etnias.

Em entrevista ao Adnews, a empresária Gilvana Viana, mulher negra, cocriadora e produtora executiva do podcast Mano a Mano, comentou sobre a importância de transformar e valorizar.

“Falamos do que precisa fazer e do que está acontecendo, mas isso é pouco. Precisamos valorizar as pessoas e valorizar a capacidade de cada um, independente da cor ou idade, é preciso reconhecer e respeitar”, disse a empresária.

Sempre houve a discriminação racial, social e de gênero com a mulher negra, o que torna essa uma luta bem maior. Porém, aos poucos, elas estão alcançando e ocupando os espaços que merecem e têm direito. Exemplos disso são as mulheres que vamos apresentar agora. Confira nos depoimentos abaixo.

Rejane Romano
Diretora de Digital e Social | Publicis Groupe Brasil

Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha: movimento na sociedade

“Nós somos os sonhos de nossos ancestrais. Essa é uma premissa em minha vida, neta de uma mulher preta que se divorciou num tempo em que isso era impensável, e que sem saber ler e escrever, se mudou para São Paulo, com cinco filhos, para buscar uma vida melhor. Me movimentar, lutar para ocupar espaços que nos foram negados é, em certa medida, honrar a história de minha avó e contribuir para alcançarmos a sonhada equidade, garantindo um futuro menos perverso para as que virão.”

Gilvana Viana
CEO | Mugshot

Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha: movimento na sociedade

“Segundo Angela Davis, ‘quando uma mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela’. A fala de Angela me atravessa diariamente, porque fala sobre os movimentos e as narrativas de diversas mulheres negras e como têm impactado a realidade da sociedade. Impactos pela sua existência, pela sua vivência e suas estratégias de sobrevivência que, até hoje, dentro do mundo da comunicação, se fazem necessárias.”

“Ser Gilvana Viana depende do amor e carinho da minha família e amigos, depende de pessoas que confiaram e confiam no meu conhecimento, e que diariamente, estão dispostas a compreender os movimentos de abrir caminhos para que novos talentos cheguem. Afinal, de nada adianta chegar e estar sozinha.”

Adriana Barbosa
CEO | Pretahub e Feira Preta

Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha: movimento na sociedade

“Aos 15, tratei de procurar um jeito de fazer meu próprio dinheiro. Sempre me entreguei a tudo com profundidade e dedicação, então, quando o desemprego chegou pela primeira vez, no início dos meus 20 anos, fez um vácuo na minha rotina. Trabalhar era o movimento natural para mim. Não me lembro de um momento sequer em que as mulheres ao meu redor não trabalhassem.”

“Usei a capacidade intelectual que minhas antepassadas haviam transmitido a mim como uma herança: a habilidade de transformar escassez em abundância. Assim, há mais de 20 anos, quando resolvi trazer a Feira Preta ao mundo, em 2002, na Praça Benedito Calixto, fiz um compromisso de criar um espaço que mais tarde se tornaria uma hub e festival de tendência, de produção, realizado por e para a população negra, nas mais diversas formas de linguagens, de produtos ou serviços. A criação de todos os projetos que surgiram a partir da Feira Preta é uma resposta sobre as especificidades dos negócios negros, para trazer ferramentas práticas, inspirações e espaço de criação e produção efetiva, considerando contextos e desafios externos. Assim, sigo o caminho trilhado pelas minhas ancestrais com o olhar no futuro.”

Daniela Benoit
CEO | Manas 

Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha: movimento na sociedade

“O coletivo Manas foi a forma mais legítima de criar uma ferramenta para movimentar outras mulheres pretas não privilegiadas, como eu. Hoje, ajudo no desenvolvimento e preparo delas para o mundo dos negócios, fortalecendo a autoestima e reafirmando que podem ocupar todos os espaços que quiserem. Também sou voluntária na Li.belo, projeto social que capacita jovens negras, periféricas e pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ para trabalhar no mercado da propaganda.”

Simone Bispo
Diretora de Criação Associada | Publicis Groupe Brasil

Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha: movimento na sociedade

“Eu sinto que já movimento a sociedade apenas por existir e resistir. Para além de negra, eu venho da periferia, do Nordeste e sou LGBT. Para muitos, isso é um afronte, mas para outros, é inspiração. Sei que movimento a sociedade também quando eu repasso meus conhecimentos, seja nas redes sociais, em palestras e eventos, em grupos de publicitários negros, e principalmente, quando eu sou a pessoa da sala que questiona a norma, o padrão da branquitude.”

Samantha Germano
Diretora de Negócios | Leo Burnett Tailor Made

Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha: movimento na sociedade

“Meu corpo preto feminino num ambiente corporativo já é por si só a própria representação de movimento. Quando esse mesmo corpo encontra, como uma rede, outros corpos pretos, deixa de ser invisível. Ocupamos! Trazemos para esse ambiente nossa cosmologia, memória e ancestralidade num movimento contracolonial de envolvimento e confluência. E é esta energia que nos move para o reconhecimento e compartilhamento de um ambiente equitativo.”

Michele do Carmo
Diretora de Conteúdo e Influência | Agência DPZ

“Como mulher negra, eu tenho compromisso de honrar a herança das que vieram antes de mim. Um legado de sobrevivência e de luta, mas, acima de tudo, de criatividade, de tecnologias ancestrais refinadíssimas, de afeto, de alegria e de rompimento com a lógica da dominação. Meu dever é um dever coletivo de avançar, ocupar e reivindicar o reconhecimento do nosso protagonismo, já que somos a maioria no país e estamos em todos os lugares.”

“Minha história não é apenas minha. Eu sou porque elas foram e outras serão porque somos hoje. É assim que movimentamos todos os espaços que conquistamos e ainda vamos conquistar.”

* Com supervisão de Jéssica Bitencourt

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