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Como a sua empresa mensura o sucesso? De uns anos pra cá, o mundo do marketing dentro das grandes empresas virou um misto de metodologias enlouquecedoras; somado à falta de sentido de alguns KPIs (Key Performance Indicator; em tradução livre “Indicador-chave de Performance”). E isso tudo é um tabu que muitos preferem ignorar no dia a dia — até porque seria mais complexo questionar a forma como mensuramos o sucesso, do que aceitar o formato já aplicado — seja ele qual for. Mas a verdade é que muitos nem sabem o que estão mensurando.

Uma das definições do dicionário Michaelis para sucesso é “qualquer resultado de um negócio”, mas no dicionário do capitalismo sabemos que sucesso é definido como “dinheiro no bolso”. Não existe sucesso no mundo corporativo sem um balanço anual positivo. Mas, afinal, como mensurar algo intangível? Algo que possui inúmeras definições, não só no dicionário?

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Uma das respostas para mensurar o sucesso foi definir parâmetros e deixar a cargo dos algoritmos definirem o que é positivo ou negativo. Mesmo que o “algoritmo” seja uma planilha em Excel, ou complexos sistemas construídos pelo time de tecnologia. E, com a ascensão das inteligências artificiais (IAs), a tendência é que esta tarefa seja, cada vez mais, delegadas às máquinas.

Foi então que decidi pedir para uma IA definir sucesso e eis a resposta:

Ainda que seja difícil definir o que é sucesso, é possível entender que, no mundo corporativo, sucesso é um resultado positivo de um negócio. De maneira geral, isso é medido em termos de lucro, mas há outros parâmetros que podem ser considerados, como o número de clientes, a satisfação dos usuários, a satisfação dos colaboradores, a qualidade do produto ou serviço, e muitos outros. Assim, sucesso pode variar de acordo com o contexto, mas é sempre um resultado positivo.

Nem mesmo a IA consegue cravar o que é sucesso. Resultado positivo… para quem? O acionista? O consumidor? O meio ambiente? No cálculo do sucesso, talvez um fator seja determinante no resultado. As máquinas são ótimas em ler dados e analisar cenários complexos, mas elas dependem dos parâmetros definidos pela máquina que fica na frente da tela: as pessoas. Ao contrário da “perfeição” das máquinas, o ser humano é imperfeito. Nós mudamos de ideia, mudamos de hábitos, erramos e corrigimos.

No streaming: The Sandman vs. A Freira Guerreira

Segundo o site The Street, a Netflix anunciou em outubro de 2021 que passaria a considerar o número de horas visualizadas dos seus conteúdos, além da quantidade de contas que acessam determinado programa. Pouco menos de um ano depois (em agosto de 2022), o famoso escritor de quadrinhos e autor dos universos de Deuses Americanos e The Sandman, Neil Gaiman, afirmou em seu Twitter: “eles [a Netflix] estão olhando para as ‘taxas de conclusão’. Então as pessoas que estão assistindo aos episódios [da série The Sandman] em seu próprio ritmo, não aparecem.”

Ou seja, era mais importante “maratonar” uma série, do que assistir degustando como um bom vinho. O problema é que cada episódio de The Sandman tem, em média, 50 minutos. Não é uma série fácil de ser maratonada, apesar de ser uma obra incrível. Mas, mesmo assim, a série ganhou um contrato para a segunda temporada.

Mesmo com 100% de aprovação do Rotten Tomatoes e 99% da audiência, a terceira temporada da série Warrior Nun (”Freira Guerreira”, em tradução livre) não teve a mesma sorte. A segunda temporada mal havia feito sua estreia na plataforma de streaming, e o seu cancelamento já foi anunciado, deixando quem acompanhou a luta das irmãs da Ordem da Espada Cruciforme sem uma conclusão da história.

Segundo o site Deadline, “a 2ª temporada [de Warrior Nun] passou apenas três semanas no Top 10 semanal da Netflix para séries em inglês, chegando ao 5º lugar”. Se levarmos em conta que esta foi uma série com pouquíssima promoção (nem se compara com o volume de divulgação que tiveram séries como “Wandinha”), podemos dizer que não foi um resultado ruim. Quer dizer… isso se você não for as métricas da Neftlix.

Desde o anúncio do cancelamento, muitos fãs pedem que a plataforma de streaming reveja sua decisão sobre a série. Na última segunda (16), os termos “NETFLIX CORRECT YOUR MISTAKE” (“NETFLIX CORRIJA SEU ERRO”, em tradução livre) e a hashtag #SaveWarriorNun apareciam entre os assuntos do momento no Twitter.

Antes de cancelar as freiras, a salvação de “Lúcifer”

Ironicamente, antes de ser conhecida como a plataforma que cancela séries pela metade, a Netflix foi a salvadora dos fãs que vieram da televisão. Quando “Lúcifer” foi cancelada pela Fox, em 2018 – depois de 3 temporadas –, a plataforma de streaming resgatou o título e produziu mais 3 temporadas. Também foi assim com outras séries, entre elas: “Manifest” da NBC; “Designated Survivor” da ABC; “Longmire” da A&E; e “You” da Lifetime.

A decisão de resgatar alguns títulos parece estar ligada à mobilização dos fãs. Pelo menos foi isso que apareceu ter acontecido com “Lúcifer”. Afinal, qual outro motivo teria a Netflix de resgatar uma série cancelada após três temporadas?

Outro ponto curioso é que as métricas tradicionais, as utilizadas pelos canais de televisão, são totalmente ignoradas pelas plataformas de streaming. Algo que faz sentido, afinal, os serviços digitais possuem uma abrangência infinitamente maior do que os canais tradicionais.

Apenas um exemplo, para entendermos a comparação entre o mercado tradicional e o digital, a Netflix possui globalmente mais de 223 milhões de assinantes. Isso é quase 20 vezes o tamanho de todo o mercado de TV por assinatura do Brasil que, segundo dados da Anatel, fechou 2022 com pouco mais de 12,6 milhões de assinantes.

Menos algoritmo no streaming, mais humanos

Longe de querer soar um ludista, mas as plataformas de streaming precisam aprender que, antes de serem uma empresa de tecnologia, são uma empresa de pessoas para pessoas. Elas precisam apostar mais no talento e experiência dos seus profissionais (principalmente aqueles com larga experiência em conteúdo audiovisual), e deixar os algoritmos e IAs como uma ferramenta de suporte na tomada de decisão.

Até quando irá durar a Era de Ouro dos Streamings, onde a quantidade é mais importante do que a qualidade nos acervos virtuais? Onde os conteúdos são vistos como descartáveis, experimentais e o conceito de episódio piloto se transformou em temporada piloto, podendo ser encerrado no ápice da história.

Se hoje os constantes cancelamentos de séries pela metade são motivo de piada nas redes sociais, até quando as plataformas de streaming vão apostar que os assinantes seguirão consumindo conteúdos pela metade, sem antes trocar de plataforma?

Imagem Destaque: r.classen/Shutterstock