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Renata Simões

Renata Simões é diretora de Conteúdo Criativo para América Latina e Ásia da Getty Images, responsável por supervisionar a criação de conteúdo criativo para os dois mercados, além de gerenciar a equipe de colaboradores para orientá-los na criação de conteúdo relevante e vendável.

Em setembro, a Getty Images lançou seu próprio gerador de imagens com Inteligência Artificial em parceria com NVIDIA, em busca de oferecer ferramentas para a criação de imagens exclusivas e comercialmente seguras. Porém, como as marcas e a mídia podem visualizar o conceito da própria IA generativa? Em 2022, a equipe de experts em conteúdo visual da Getty Images identificou a necessidade de representações visuais de IA mais fundamentadas e centradas na experiência humana, com distanciamento dos robôs e das ondas abstratas de dados que eram bastante populares no passado.

Em 2023, o progresso exponencial e a disponibilidade da tecnologia de IA generativa mudaram completamente o rumo da conversa, pois as ferramentas de texto e imagem generativas nos permitem ver essa tecnologia emergente em ação, diante de nossos olhos.

A estética criada por essas ferramentas e em reação a elas ainda está se desenvolvendo. O conhecido meme do Papa Francisco em um casaco branco bufante, o estranho vídeo de Harry Potter x Balenciaga e as músicas falsas do rapper Drake provavelmente são apenas o começo de uma série de exemplos relativamente inofensivos (por enquanto) da mídia sintéticapopular.

Enquanto isso, a escolha de recursos visuais que representem essa nova evolução da IA exige uma compreensão diferenciada das conversas culturais, do sentimento do consumidor e das estéticas atuais. Abaixo, listo duas dicas para criar metáforas visuais para a IA generativa de forma autêntica e inovadora:

Mostrar presença e controle humanos sobre ferramentas de IA
Desde as movimentações internacionais para interromper as pesquisas com IAs até as paralisações de trabalho nos setores de cinema e televisão dos EUA, a opinião pública sobre o lugar da IA nos negócios e na sociedade é controversa. Dados da nossa pesquisa VisualGPS mostram que, do verão de 2022 (42%) ao verão de 2023 (49%), as pessoas ficaram cada vez mais nervosas em relação à IA, à medida que aumentavam as preocupações com possíveis perdas de empregos e desinformação. Mesmo assim, a maioria dos consumidores globais (82%) ainda está animada com a possibilidade de a IA generativa ajudá-los a ser mais produtivos, considerando o potencial de ferramentas que simplificam processos como pesquisa digital, assistência virtual e design.

Ao escolher conceitos visuais para representar a IA generativa, é importante comunicar a ideia de que essas ferramentas estão em nossas mãos e que nós, como sociedade, podemos escolher como e por que usá-las. Principalmente à medida que novos temas, como criatividade, transformação e autonomia, são introduzidos nas representações visuais da IA de maneira geral, considere a possibilidade de visualizar a presença ou o controle humano nos conceitos de IA. Fotografias e vídeos autênticos mostrando humanos usando aplicativos ou ferramentas digitais funcionam, embora essa ideia também possa ser expressa metaforicamente, mostrando um humano ou uma ferramenta analógica, como um pincel, no controle da produção ou transformação de resultados digitais.

Na última década, a estética mudou para acompanhar o curso de nossas vidas facilitadas pela tecnologia. Antes, a tecnologia era vista como futurista, muitas vezes inclinando-se para um estilo distópico com visual de ficção científica, que simbolizava as máquinas como aparelhos sinistros de controle. Como o poder da computação foi colocado nas mãos de pessoas de todo o planeta, as representações visuais se tornaram mais suaves, mais amigáveis e mais esperançosas.

Trabalhar com uma paleta de cores variável
Se viajarmos no tempo, os visuais relacionados à tecnologia tendem a seguir certas convenções: formas retilíneas, luzes azuis frias, códigos que aparecem como um sistema de linguagem misterioso e infinitas salas de servidores impenetráveis. A influência foi certamente derivada de filmes populares de ficção científica, desde os sistemas de comando com caracteres verdes e pretos de Matrix até os visuais cinzas e azuis de Minority Report.

No entanto, essas visões distópicas da tecnologia, que enfatizam o controle enraizado no poder institucional do homem branco, deram lugar a uma nova visão que é mais feminina (ou gênero fluido) e menos ameaçadora, representada por uma mudança no uso da cor. Em 2022, os visuais relacionados à tecnologia, dos jogos à inteligência artificial, e ao metaverso, começaram a se afastar das cores escuras e pouco amigáveis como o azul, verde e o preto, e caminharam em direção a iluminações mais suaves em rosa e roxo.

Essa mudança de cor já vem de longa data. As referências remetem ao estilo neonoir cyberpunk, com seus detalhes em neon brilhante, assim como aos movimentos Vaporwave e Synthwave, que fazem referência direta às cores e formas dos anos 80. Artistas visuais como James Turrell, conhecido por suas composições de luz imersivas e perceptualmente desafiadoras, influenciaram os principais músicos pop (assista ao clipe Hotline Bling, de Drake), e esses estilos de iluminação encontraram seu caminho em mais mídias e marcas.

A iluminação bissexualencontrada no clipe Dirty Computer, de Janelle Monáe, no episódio San Juniperode Black Mirror (sem dúvida, a visão menos distópica do futuro representada na série), os estilos coloridos de Euphoria, drama sobre a Geração Z da HBO, e o recente ressurgimento da iridescência do Y2K e da cultura rave se afastam da luz azul forte e entram nas possibilidades do rosa pastel e do roxo. Essas cores estão em algum lugar entre o real, ou seja, o que ocorre naturalmente, e o sobrenatural, trazendo à mente um espaço de jogo imaginativo e lúdico.

Entretanto, mesmo com essa mudança de cor, a maioria das imagens que as marcas estão usando para representar a IA em 2023 ainda é muito escura: muitas mostram fundos pretos, ambientes noturnos ou salas de servidores assustadoras. Essas escolhas visuais sombrias transmitem ao espectador que agora há mais mistério, incerteza e incógnitas em torno da IA. Embora tudo isso seja tecnicamente verdadeiro, as marcas que estão integrando a IA em seus modelos de negócios podem considerar se estão fazendo isso de forma responsável e se for o caso, projetar uma visão mais otimista.

Ao escolher recursos visuais relacionados à IA generativa e seus novos usos, considere afastar-se do azul e do verde-escuro da ficção científica com estética de fundo preto e optar por paletas de cores terciárias brilhantes e frescas: pense em magenta, azul petróleo, limão, violeta, amarelo-laranja. Essa paleta, que se tornou sinônimo de tecnologia emergente graças a vários projetos da Web3, indica com precisão que estamos entrando em uma nova era de desenvolvimento tecnológico. E apesar de ainda não se saber quais serão os resultados, essas cores pelo menos sugerem que pode ser empolgante.

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Adnews

 

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