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Patrícia Marins

Patrícia Marins é apaixonada pela comunicação verdadeira e transformadora. Sócia-fundadora da Oficina Consultoria e sócia do Grupo In Press, também é cofundadora do Women on Board, diretora da Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom), embaixadora do SheInc e conselheira do MeToo Brasil, do Congresso em Foco e do Movimento Expansão.

Estou em Austin, no Texas (EUA), para participar do South by Southwest (SXSW), maior evento de economia criativa e inovação do mundo. Acompanho o festival com o foco em experiências que pautam a construção de reputação do presente e do futuro. Já vi e vivenciei muita coisa interessante por aqui. Autoconhecimento para moldar reputação autêntica, transformação emocional nos negócios, importância da escuta ativa para garantir contexto e narrativas de impacto e os desafios da inteligência artificial foram alguns dos temas que acompanhei.

O conceito de saber fazer perguntas tem sido explorado como fio condutor para construir relacionamento humano e explorar os avanços da tecnologia. Vários painéis e workshops destacam a necessidade de se entender contexto e buscar o “porquê” muito mais do que o como, o que, qual, o que e quem. Explorar a curiosidade para elaborar perguntas que constroem pontes, questionam, criam repertórios.

Peter Deng, VP de produtos ao consumidor da OpenIA, head do ChatGPT, era esperado por um público que lotava o principal auditório do Austin Convention Center, com o painel “A coevolução da inteligência artificial e da humanidade“. Mas, para a surpresa de toda a plateia, quem realmente brilhou foi o entrevistador, o escritor Josh Costein, aplaudido em diversos momentos pela forma inteligente e instigadora como conduzia as perguntas.

Questionador perspicaz de aspectos morais e éticos que envolvem o uso indiscriminado da inteligência artificial, especialmente via ChatGPT, Costein conduziu a conversa com elegância e assertividade. Ao longo de uma hora, ele demonstrou que há razão na máxima dos entusiastas da IA de que estamos na era do prompt e o importante é saber perguntar. Costein representou a força do humano questionador e da arte de fazer perguntas, só que para uma pessoa de carne e osso, olho no olho. Questionou sobre o futuro da IA; a segurança em relação à deepfake, especialmente em ano eleitoral; o viés liberal norte-americano presente no ChatGPT, em escala global; o impacto nos empregos; a regulamentação; o pagamento pelo uso de dados disponíveis na internet; e sobre uma possível compensação aos artistas pela possibilidade de uso de suas obras sem respeito aos direitos autorais.

Peter Deng usou de muitos recursos exemplificativos da vida real para ressaltar os benefícios da IA para a humanidade. Furtou-se, no entanto, de responder sobre questões mais profundas e existenciais a respeito do futuro. Na verdade, respostas repetitivas os mantiveram à margem de questionamentos mais incisivos. Estava treinado, assim como Greg Brockman, cofundador da OpenAI, que no ano passado frustrou a plateia pela falta de paixão ao falar, o que relatei no artigo ‘O que o media training fez com o pai do Chat GPT‘.

Agora em 2024, Deng afirmou que a Inteligência Artificial “nos torna mais humanos. É uma ferramenta que nos permite aprofundar nossas curiosidades e é um parceiro de pensamento”. Ironicamente, Costein rebateu o argumento: “Agora temos esse professor perpétuo que vai nos ajudar a fazer perguntas mais elevadas sobre a nossa mortalidade, nosso estado de ser, estado de consciência e de onde viemos”.

Ao longo da entrevista, Deng citou os quatro filhos pequenos algumas vezes e disse que permitiria a eles utilizar o ChatGPT, antes do Google ou de redes sociais, para que explorem a criatividade. Neste aspecto, ao ser questionado por Costein, Deng não respondeu se os artistas devem ser compensados. Exaltou a aplicação da IA na saúde e no meio jurídico.

Em relação aos vieses de confirmação, disse que a IA aberta tem sido construída para assumir os ideais de cada usuário, em vez de projetar os norte-americanos, e insistiu que é o uso da ferramenta que vai aprimorá-la, garantindo que a versão básica do ChatGPT será sempre gratuita.

“Não sabemos o que o futuro nos reserva, mas encorajo a todos a ficar curiosos. Saiam, experimentem, compartilhem essas ideias, vejam o que IA pode fazer, porque isso ajudará pessoas que estão construindo a tecnologia a saber o que é valioso para você e como podemos ajudar. Então, seja curioso, mantenha a mente aberta, diga-nos o que você quer, e a coevolução vai acontecer”, disse o head do Chat GPT.

Ao final da palestra, Costein, com olhar crítico e realista, resumiu tudo o que foi abordado ao longo dos 55 minutos anteriores.

“Você fez muito melhor do que o ChatGPT poderia ter feito para resumir meus pensamentos”, assumiu Peter Deng.

Assistir a este painel reforçou a minha convicção sobre a máxima de que vai conseguir navegar neste mundo de constantes mudanças quem sabe fazer perguntas. Afinal, foi o poder das perguntas que se sobressaiu neste painel.

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do veículo

 

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