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Qual foi a última vez que você pegou uma fotografia em papel? Qual foi a última vez que você ligou para um amigo, sem que precisasse de algo imediato, ou que usou papel e caneta para escrever algo que não seja anotações de trabalho? Não adianta, vivemos em um momento da nossa história em que tudo passa pelo digital. Dos meios de pagamentos, passando pelas nossas recordações e até chegando ao post-it da anotação, tudo – em algum momento – se transformou em bits e bytes. Mas o que aconteceria se a Internet sofresse um apagão?

Ou melhor, o que será do mundo quando isso acontecer? Segundo especialistas, a Internet deve, em algum momento, entrar sofrer um apagão. Um dos especialistas que compartilham desta ideia é Dan Dennett. Este senhor de barba branca e jeitão de professor é descrito como “um dos nossos filósofos vivos mais importantes, é mais conhecido por seus argumentos provocativos e controversos de que a consciência humana e o livre arbítrio são o resultado de processos físicos no cérebro.”

Durante uma de suas apresentações ao TED, Dennett afirma: “A Internet entrará em colapso e, quando isso acontecer, experimentaremos ondas de pânico global. Nossa única chance é sobreviver às primeiras 48 horas. Para isso temos que construir —se me permitem a analogia— um bote salva-vidas.” Ele completa, “a Internet é maravilhosa, mas temos que pensar que nunca dependemos tanto de alguma coisa. Nunca! Se você pensar bem, é irônico que aquilo que nos trouxe até aqui, é também o que pode nos levar de volta à idade da pedra.”

Os botes salva-vidas de Dennett são organizações de todos os tipos e que foram (quase) aniquiladas com o advento da Internet. Por exemplo, clubes sociais e/ou congregações de todos os tipos. Sabe aquele grupo do Whatsapp que você participa? É exatamente isso, só que presencial.

E quando pode acontecer um grande apagão da Internet? Segundo a jornalista e escritora Esther Paniagua, autora do livro “Error 404: ¿Preparados para un mundo sin internet?” (sem tradução para o português), este cenário “pode acontecer amanhã, daqui a cinco anos, dez anos ou nunca. Mas acredito que ‘nunca’, dentre todas, é a possibilidade menos provável.”

Apesar de não gostar muito da abordagem do livro e nem das respostas da jornalista para uma entrevista à BBC News Mundo – que, na minha opinião, além de demonstrar um conhecimento superficial sobre como a Internet funciona (chegando a dar um ar quase místico em algumas respostas, como quando ela fala sobre os “14 guardiões do sistema DNS”), parece ter feito um compilado de acontecimentos para tentar justificar o possível apagão. Então, por que trouxe como exemplo a autora? Paniagua faz uma provocação interessante. Quando perguntada se os Estados têm algum plano para evitar o caos que se seguiria a uma queda maciça da rede? Paniagua completa: “A resposta simples é não. Não existe nenhum plano específico para a internet.”

É aqui, depois de quase 500 palavras, que quero chegar ao ponto central do nosso texto. Precisamos ter um bote salva-vidas para as marcas, principalmente aquelas que dependem de espaços “alugados” na Internet. Entenda por espaço alugado as redes sociais. Eu sempre digo, não há lugar melhor do que a nossa própria casa. Se você é uma marca muito relevante dentro de uma rede social, lembre-se que este espaço é alugado. Você está à mercê das regras da casa e do seu senhorio. É por isso que os movimentos de Elon Musk no papel de proprietário do Twitter ganham tanto destaque na mídia.

Por exemplo, o @Choquei, com pouco mais de 2.8 milhões de seguidores no Twitter e 18 milhões no Instagram, além de quase 5 anos de existência, não possui um site próprio (segundo declarações do fundador, a promessa é que a conta do Twitter vire um site de notícias em breve). Enquanto isso, o que aconteceria se Elon Musk decidisse desligar a plataforma ou simplesmente deletar o arroba? Ou, como já vimos anteriormente acontecer, qual seria o plano de emergência da marca se o Instagram deletasse o seu usuário do dia pra noite?

Para quem não lembra, em 2018, o perfil @HugoGloss foi banido do Instagram por questões relacionadas à “reivindicação de direitos autorais”. Na época, a marca publicou um comunicado oficial em seu site que dizia: “O Instagram recebeu denúncias de que alguns conteúdos postados não eram autorizados pelos autores, mesmo que com os devidos créditos [Aqui vale uma observação: Quando o assunto são imagens e vídeos, não adianta apenas “dar” os créditos]. Uma das denúncias, por exemplo, diz respeito a um vídeo do BBB, de Ana Clara cantando no Karaokê. A TV Globo reivindicou os direitos autorais do vídeo. Outra denúncia foi da foto de J Balvin e Beyoncé no Coachella, postada pelo cantor. A agência do fotógrafo reivindicou os direitos.”

Acredito que este banimento do Instagram, mesmo que por pouco tempo, não deixou de impactar na marca. Não por ela ter sido excluída da plataforma, mas imagino que este tipo de perfil deva receber muitos novos seguidores todos os dias e ficar offline é a última coisa que os proprietários querem. A vantagem é que a marca Hugo Gloss, que nasceu como influenciador e hoje é uma empresa, vem de um período em que os blogs eram famosos e, por isso, a rede social era apenas um apoio ao site oficial. Algo que, como falei anteriormente, não acontece com o Choquei.

Se você chegou até aqui, o alerta que quero deixar é: Independente do medo do apagão, tenha sua casa própria na Internet. Assim como a casa do mundo real, ela provavelmente vai custar mais do que um espaço alugado, mas no final vai valer a pena. Utilize as redes sociais como plataformas de apoio para a sua marca, concentrando o fluxo de clientes/usuários onde realmente importa, na sua própria plataforma.

Dito tudo isso, afinal, a internet sofrerá um apagão algum dia? Isso ninguém sabe e talvez a web3 seja uma saída para que este cenário apocalíptico seja evitado (convido você a ler o texto “As principais tendências para 2023“). No entanto, você não precisa se preocupar com esta realidade, porque… se um dia a internet for para a cucuia, a última coisa que vamos nos preocupar é com marketing ou branding. Estes conceitos não existem na Idade da Pedra.

Imagem Destaque: Gorodenkoff/Shutterstock