Agora, a coisa realmente ficou séria. Nesta sexta-feira (2), foi realizada pela European Space Agency (ESA) a primeira transmissão ao vivo de Marte. Sim, uma live diretamente do planeta vermelho!
Por uma hora, o canal no YouTube da agência espacial transmitiu imagens de Marte captadas pela Câmera de Monitoramento Visual a bordo do orbitador marciano de longa duração e ainda altamente produtivo da ESA, chamado de Mars Express. A live ocorreu em comemoração ao 20º aniversário da missão espacial não tripulada, realizadas pela Agência Espacial Europeia e Agência Espacial Italiana, destinada a estudar o planeta Marte.
“Esta é uma câmera antiga, originalmente planejada para fins de engenharia, a uma distância de quase três milhões de quilômetros da Terra. Isso nunca foi tentado antes, e para ser honesto, não temos 100% de certeza de que funcionará. Mas, estou bastante otimista. Normalmente, vemos imagens de Marte e sabemos que foram tiradas dias antes. Estou animado para ver Marte como está agora”, explicou James Godfrey, gerente de Operações de Naves Espaciais no centro de controle de missão da ESA em Darmstadt, na Alemanha, ao comunicar a ideia.
E funcionou. A maioria das observações e dados coletados por espaçonaves são feitas quando elas não estão em contato direto com uma antena de estação terrestre. Seja por causa da geometria (do outro lado do Sol ou de Marte, por exemplo) ou porque a antena da espaçonave está apontando para longe da Terra durante a coleta de dados científicos.
Para a ciência, isso não é problema. Os dados são armazenados a bordo e transmitidos algumas horas ou até mesmo dias depois, assim que a espaçonave estiver em contato com o solo novamente. O que normalmente acontece com a Câmera de Monitoramento Visual no Mars Express é que, a cada dois dias, um novo lote é “baixado”, processado e disponibilizado para o mundo.
Com isso, os cientistas se debruçam sobre os dados que chegam por anos, descobrindo novos segredos sobre o universo. Esse processo torna as filmagens ao vivo bastante raras, fazendo com que a ESA só tivesse evidências de como Marte era no passado.
Existem apenas alguns exemplos na história de voos espaciais que filmaram acontecimentos em tempo real, com destaque para as missões Apollo, que enviaram um vídeo espetacular mostrando os astronautas caminhando sobre a superfície da Lua. Mas, todas aconteceram muito próximas da Terra. Outras, mais distantes, enviaram uma ou duas imagens quase em tempo real. Quando se trata de uma longa transmissão ao vivo do espaço profundo, esta foi a primeira vez.
Durante a transmissão ao vivo desta sexta, o tempo entre as imagens serem tiradas da órbita de Marte e aparecerem na tela foi de cerca de 18 minutos. São 17 minutos para a luz viajar de Marte para a Terra em sua configuração atual, e cerca de um minuto para passar pelos fios e servidores no solo.
Mudança de planos
A Câmera de Monitoramento Visual da Mars Express, apelidada de Mars Webcam, não foi planejada para essa finalidade. Seu trabalho principal, 20 anos atrás, era monitorar a separação da sonda Lander Beagle 2 da espaçonave MEX. Depois de fazer isso e relatar os fatos, ela foi desligada.
Essa câmera não era para ser um instrumento científico e não precisava captar imagens precisas. Em 2007, ela foi reativada e usada para atividades científicas e de divulgação, incluindo campanhas para encorajar entusiastas do espaço e escolas a propor observações de Marte.
Ela até ganhou sua própria página no Flickr. E assim nasceu a Mars Webcam.
“Desenvolvemos métodos novos e mais sofisticados de operação e processamento de imagens para obter melhores resultados da câmera, transformando-a no 8º instrumento científico da Mars Express”, explica Jorge Hernández Bernal, da equipe VMC.
Em comemoração à vida longa e produtiva da Mars Express, as equipes passaram os últimos meses testando ferramentas que permitiriam que as imagens processadas cientificamente em alta qualidade fossem transmitidas, ao vivo, por uma hora inteira.
Se você perdeu a transmissão, pode assistir agora pelo YouTube. Confira abaixo.
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