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Para uma empresária e designer que estava em busca de informações de mercado e futuro em 2023, acredito que consegui cumprir a missão com louvor e investimento. Em março, participei do SXSW pela primeira vez. No meio do ano, palestrei no Hacktown, e agora, acabei de voltar do Web Summit Lisboa.

E, bem, a primeira pergunta que sempre fazem sobre esses eventos é: o que você viu? Caso você não trabalhe com comunicação, isso pode ser uma incógnita, mas, se sim, a resposta também é óbvia: inteligência artificial.

No entanto, a diferença entre os eventos é que o SXSW aborda um futuro mais a longo prazo. Já os demais, inclusive o Web Summit, mostram o que já está acontecendo e como está acontecendo. Isso claramente me gerou uma certa ansiedade. Ansiedade essa que começou no evento, em que o formato das palestras, com papos de até 20 minutos, e estandes de startups (mais de 1,4 mil espalhados no espaço de seis pavilhões) levaram o meu FOMO (Fear of Missing Out), que se refere ao sentimento do “medo de ficar de fora” de algo legal que esteja acontecendo, ao estado máximo.

Os palcos se dividiam por temas e era como se eu estivesse dentro de um aplicativo gigante, rodando e indo de um espaço para outro sempre com a sensação de que eu estava perdendo alguma coisa. Só no final do primeiro dia consegui concatenar junto ao aplicativo do evento quais temas e espaços iriam me proporcionar conteúdos mais interessantes.

Uma dessas palestras foi a de um médico que criou um app open source para unificar dados médicos e informações asseguradas e de qualidade para auxiliar profissionais e pessoas em todos os cantos do mundo, inclusive os menos favorecidos. Entre as palestras sobre inteligência artificial, o que me chamou atenção foram as pautas que focaram em como regulamentar o uso da inteligência artificial, o mais breve possível, já que essas ferramentas já estão sendo muito democratizadas e utilizadas.

Essa regulamentação é muito necessária e urgente porque já estamos vendo o uso irresponsável de IAs, como, por exemplo, o incidente com as alunas de um colégio no Rio de Janeiro que, por meio do uso de uma IA, foram despidas e expostas pelos colegas de classe, sem precisar acessar a deep web.

Para além desses assuntos, eu não gostei da experiência do evento. Claro que estar em Lisboa, sair da rotina e a possibilidade de fazer networking (melhor entrega de todos esses eventos) ajuda. Porém, senti as palestras superficiais, em que os insights não necessariamente traziam nada de novo. Ainda mais considerando o meu caso, que atuo com comunicação há mais de 20 anos e falo desses temas há mais de dez anos junto aos meus clientes, quase que diariamente.

A minha crítica vai além, vai ao todo. Digo isso porque, para mim, um evento onde a maioria esmagadora é branca e tem grana para bancar essa experiência, mantém a discussão sempre na mesma bolha, resolvendo questões de produtividade e engajamento e olhando pouco para o planeta e para a sociedade. Essas pautas de cunho mais social e ambiental foram abordadas por alguns, mas minoria.

Um exemplo que ilustra o que eu quero dizer com conversas superficiais e insights mais do mesmo: um programador apresentou, no evento, a ideia de criar um super app para combater a quantidade de mini apps que só poluem nossos gadgets e nos deixam confusos, quando, nesse momento, poderiam estar trabalhando em rede para melhorar a experiência do usuário.

O meu ticket foi adquirido via Women in Tech, uma parceria do evento que propõe e conseguiu, pelo quarto ano consecutivo, levar mais mulheres para um evento majoritariamente masculino. Para quem se interessa e quer ir no ano que vem, vale muito a pena. Essa foi uma iniciativa que equilibrou um pouco a minha percepção de falta total de inclusão.

Mas nem tudo foi frustrante. Conhecer a startup brasileira Let’s Fly, que transforma lixo orgânico, como frutas e verduras desperdiçadas, em fermento para a criação de larvas da mosca soldado negra, também conhecida pela sigla BSF (do inglês Black Soldier Fly), foi um dos pontos altos da experiência no evento. A maioria dessas larvas é abatida antes mesmo de virar mosca, com a finalidade de virar alimento para animais domésticos, gerando uma cadeia que transforma lixo em proteína e inúmeros produtos, ou seja, reciclagem na veia.

Neste ano, a startup vencedora do evento na categoria de Melhor Pitch foi a brasileira Inspira, que trabalha com softwares com base em inteligência artificial voltados para o setor jurídico. Na prática, ela faz com que o trabalho desgastante e difícil de um advogado para pesquisar e montar peças tenha um ganho de 80% no tempo de trabalho de quem o usa, ao auxiliar no tratamento de dados e oferecimento de outros recursos que otimizam o tempo.

Outro ponto alto foi o fato de eu ter participado da missão da Associação Brasileira das Empresas de Design (ABEDESIGN) e do Institute for Tomorrow. Ao final de todo dia, todos os participantes desta missão discutiam os insights do evento por mais de uma hora, que se estendia no happy hour. Ou seja, uma iniciativa genial, feita por pessoas e para pessoas.

Encerro esse texto pensando que conhecer esse tipo de evento me ajuda a aumentar o meu conhecimento e, ao mesmo tempo, me traz uma perspectiva de que meu olhar para o mundo será cada vez mais humano enquanto a tecnologia avança. Isso sim, para mim, vai ser um diferencial no futuro.

Vanessa Queiroz é sócia-fundadora do Estúdio Colletivo e diretora do Brasil Design Award (ABEDESIGN) pelo 2° ano consecutivo, o qual foi responsável por ter escolhido, pela primeira vez no Brasil, 12 mulheres para ocupar a presidência do júri em suas categorias. Em 2014, foi listada como uma das 50 pessoas mais inovadoras em comunicação e marketing pela revista Proxxima, e em 2022, foi listada como uma das 30 vozes que lutam para mudar a indústria da comunicação no Brasil, pelo Papel e Caneta.

No Colletivo, Vanessa é responsável pelas áreas de Novos Negócios e Atendimento de marcas nacionais e internacionais que compõem o portfólio da empresa, como Gold&Ko, Colorado, Matilha, Netflix e Spotify. Os projetos do escritório já receberam diversas premiações, entre eles Cannes Lions, Latin American Design Awards e Brasil Design Awards.

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Adnews

 

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