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De todas as crises que estamos vivendo nos últimos meses, saúde, financeira, cidades, países, governos e, até mesmo, a crise dos influenciadores, a pior de todas é a crise da confiança.

Todas as outras eram, de certa forma, previsíveis e passíveis de acontecer em cenários como o atual. E, em mais ou menos tempo, elas perdiam sua relevância e desapareciam. Porém esta imensa crise da confiança talvez nunca cicatrize.

Ela não foi prevista, não tem remédio e não tem vacina. Quem já perdeu a confiança em algo ou alguém sabe que levará muito tempo para retomá-la: meses, anos e, mesmo assim, talvez ela nunca mais volte a ser como antes.

Este será o grande problema que a humanidade vai enfrentar, pois fomos criados quase que geneticamente em um mundo de pontos

focais, no qual tínhamos a certeza de conhecer aqueles em quem poderíamos (e, em muitos casos, deveríamos) confiar.

NYT: Você confia em quem tem o botão da bomba atômica?

 

Eram nossas bases de confiança e onde buscamos e seguíamos em nossa visão de mundo do que estava certo e do que era errado. Porém isto não existe mais. Perdemos a confiança. Praticamente em tudo.

Atualmente você confia no seu presidente? Você confia no seu governador? E no seu prefeito? Até aqui foi fácil. Infelizmente, no Brasil, por méritos próprios, naturalmente não confiamos em nenhum deles.

Mas, e nos outros lugares do mundo? Vai me dizer que você não confiava no que o Obama dizia? Ou no Tony Blair e na Angela Merkel? No presidente dos nossos amigos franceses? Podíamos até não gostar, mas confiávamos que o que vinha deles eram fatos, verdades e, mesmo que embalados de alguma forma, eram atributos confiáveis para tomadas  de decisão. O que fazer quando os Estados Unidos falam que é verdade e a França diz que é mentira? Ou quando a Alemanha fala que é, e o Canadá fala que não é?

Quer ir mais a fundo? Nem mesmo as informações e fatos de gigantes órgãos globais, antes donos das verdades mundiais, guardiões das informações que norteiam o planeta e suas decisões,  servem mais como base para qualquer análise ou ação.

Como acreditar em uma organização de sabia de tudo e deixou o mundo entrar nesse caos global, dizendo que era algo bastante simples por quase três meses? Mas poderíamos falar também de tantas outras que, em tempo, fazem lindos e competentes trabalhos, mas que também estão envoltas em tantos assuntos que não deveriam ser pauta.

OMS no início do ano: Sem evidências de contaminação entre humanos.

 

Durante mais de cem anos, no mundo moderno, fomos ensinados a ter como grande referência estas grandes organizações, mas mesmo  essas entidades, hoje, perderam seu brilho e confiança, dada à dificuldade de divulgar seus números e falta de credibilidade por tudo que está acontecendo e pelos seus grandes erros históricos. Sem contar as falcatruas, os rolos, esquemas e desvios que muitas delas acumulam nos seus quadros, em suas atuações e seus desvios de finalidade, e que elas próprias e seus dirigentes acabam sendo penalizados.

O que dizer sobre os institutos de pesquisa e seus erros bizarros sobre eleição? O que parece, a princípio, apenas um problema de análise de dados, conforme se torna recorrente e passa a ser normal em diversos lugares do mundo, abre uma imensa cratera de confiança que os dados e fontes são neutros e se podemos confiar no que estamos lendo e recebendo de resultados.


Previsões e Pesquisas totalmente furadas nos últimos anos.

 

Para complicar ainda mais essa nova crise, perdemos a confiança em diversas profissões e profissionais de referência, pois mesmo que  comparemos e coloquemos lado a lado jornalistas, médicos, comentaristas, pensadores, e outros… o confronto agora deixou de ser opinativo. O confronto passou a ser factual, e aí nunca mais teremos vencedores, pois ambos lados nunca mudarão de opinião. E quando se perde a confiança, é difícil acreditar novamente mesmo na coisa mais óbvia e real possível.

Já perguntou para seus amigos médicos sobre a percepção da pandemia? Garanto que a média vai sinalizar os pontos mais caóticos, mas boa parte vai minimizar o assunto. Ou seja, mesmo entre os especialistas, estamos sem saber para onde a bússola aponta.


A grande maioria não confia mais em dados do Covid.

 

Poderia citar jornalistas que respeito, que são de boa índole e que eu gostava muito. Porém a discussão que antes era sobre pontos de vistas e opiniões, agora passou a ser do número, do fato, do assunto em si. Um fala que devem morrer 200 mil. O outro fala em 2 milhões.


A mesma matéria, mas o título muda a cada minuto.

 

Grandes esportistas também. Um fala que dá pra voltar o campeonato. O outro diz que voltar seria a morte. Basta você ligar dois grandes canais de TV para perceber que um fala A e outro fala B. Idem para canais Jornais, Revistas, Blogs, Lives entre outros. Cada um vive em um planeta de verdades paralelas, mas que defende como a verdade absoluta.

Ou seja, a crise de confiança nos impede de ponderar para que lado vamos, e nos leva a questionar se podemos  ou não confiar no que sempre confiamos. E a resposta no momento, infelizmente: é não! 

E aqueles seus amigos que adoravam discutir sobre política, partidos e outros assuntos polêmicos? Hoje, são inimigos mortais. Por quê? Porque eles não mais contam com um dado crível, um fato oficial de fonte confiável. E não sei quanto tempo levará para termos novamente algum dia.

Vejam vocês que complexo o próximo exemplo. Poucas coisas no mundo poderiam ter uma chancela de tamanha seriedade como: Tecnologia Alemã, Capital totalmente controlado e digital e Grandes Consultorias envolvidas na auditoria. Correto? Pois é, errado.


Wirecard é considerado a nova ‘Enron da Europa’.   

Na última semana estourou um mega escândalo da empresa alemã Wirecard, em torno de quase 2 bilhões de euros. Segundo a conceituada consultoria global Ernst Young (EY), que auditava as contas da empresa, a módica quantia não foi percebida, por conta de um ‘sofisticado esquema de fraude global’. Certamente, deve ser difícil para uma empresa como a EY, que audita toneladas de grandes corporações globais, perceber uma diferença de apenas 2 bilhões de euros nos livros da empresa. Deve ter sido realmente pega de surpresa. Por isso digo, não há uma forte crise de confiança?

E sobre Sociedades? Você conhece e você confia? Será que dá pra confiar que a tão polêmica campanha do Itaú Personnalité confrontando a sua sócia XP é verdadeira? Ou foi tudo um jogo combinado entre eles, pois basicamente tudo o que se falou nessa semana no mercado foi sobre a XP, o Itaú etc. ͢Ninguém mais falou de Covid, Fake News, Queiroz e outros tantos…


Na briga entre o Personalitté e a XP, quem sai ganhando é o Itaú.

 

Literalmente dominaram o cenário, a discussão e as soluções encontradas de tweets perfeitos, respostas lindas, doação de coletes mediante TED entre empresas dos mesmo sócios, diga-se de passagem etc.. Enfim, conhecendo ambos os lados, é muito pouco provável que tenha sido combinado, mas, em um ambiente onde existe a crise de confiança, é cada vez mais difícil acreditar na confluência de tantos fatores positivos para o mesmo chefe.

Me lembra muito o final do filme (atenção ao spoiler) “Senhor da Guerra” (2005), em que o ator Nicolas Cage faz um traficante global de armas, que é preso após anos sendo procurado, mas é liberado rapidamente. Ao sair da prisão, diz para o policial que conseguiu prendê-lo: “Sabe por que eu nunca vou ficar preso? Porque nosso chefe é o mesmo”.

Mesmo entre seus grandes amigos e conhecidos, onde foi parar a confiança se cada um agora defende um lado? As pessoas comentam: “Tenho até medo de postar alguma coisa no grupo”, pois sabem que alguns vão bater, brigar e, em alguns casos, até perder ou abrir mão da amizade. Como confiar que aquele seu conteúdo, privado, enviado a um grupo restrito de amigos, não será posteriormente usado contra você ou fora do contexto? Na falta de confiança, a opção é não falar, não postar, não se posicionar.

E, se pensarmos em um mundo onde a retomada da confiança é a principal base para uma re-estabilização de quase tudo o que foi perdido nos últimos meses de crise, estamos quase em um beco sem fim.

Quem diria que a mais confiável das previsões voltaria ser a previsão do tempo!

 

Por isso, você, que é Líder de mercado, Influenciador, Chef de cozinha ou de área, Presidente de empresa ou da sua própria vida, tente restabelecer os elos de confiança com todos à sua volta.

Pequenas ações com grande impactos.

Pois o mundo inteiro precisa delas.

 

* Autor: Roberto Eckersdorff, CEO da aunica Interactive Marketing

 

aunica Interactive Marketing (www.aunica.com):

Uma das pioneiras no uso de inovações tecnológicas em campanhas de marketing digital no mercado brasileiro, a aunica Interactive Marketing é referência em Data Driven Marketing e Marketing Digital.

Nosso objetivo, em 15 anos de tradição, é ajudar outras companhias a criar valor em interações com os consumidores de maneira rentável usando estratégia, dados, tecnologia e criatividade para alcançar objetivos no meio digital com foco em inovação e performance.

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