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O álbum seria lançado meses antes de julho (estreou no dia do aniversário da cantora, 18 de julho), mas Sonza deu uma pausa da internet e esperou um pouco, já que sofreu duros ataques de haters, após seu ex-marido, Whindersson Nunes, e sua atual companheira, Maria Lina, terem perdido o bebê e a Luísa ter sido culpada absurdamente por isso.

Luísa transformou todo o hate e fake news recebidos em arte: o álbum possui composições de sua autoria e parceria com diversas pessoas próximas, como seu namorado Vitão, e suas amigas, contando um pouco de sua trajetória nesses últimos anos conturbados. A artista também é co-produtora e co-diretora dos clipes deste álbum.

A obra é dividida em dois lados. No lado A, as músicas são empoderadas e mais debochadas, nas quais os títulos estão todos em letra maiúscula. Já no lado B, Luísa entrega suas vulnerabilidades e os títulos estão em minúsculo.

Desde o lançamento, Doce 22 não para de bater records: foi a maior estreia nacional de um álbum na história do Spotify Brasil, com quase 30 milhões de streams em uma semana; alcançou o Top #2 Brasil e Top #37.

Portanto, refleti sobre o que nós, empreendedores e marcas, podemos aprender com essa artista surpreendente, principalmente sobre suas eficientes estratégias de Neuromarketing.

Cérebro pensa, na maior parte das vezes, de maneira inconsciente

A neurociência aplicada ao marketing (neuromarketing) tende a prever o comportamento do consumidor, com base no processamento de informação pelo cérebro, tentando identificar o impacto emocional do produto na mente do consumidor.
O cérebro é dividido em três partes (Cérebro Trino de Paul Maclean):

Reptiliano: é o cérebro primitivo, relacionado aos nossos instintos;
Límbico: é o cérebro das emoções: memória emocional e afetiva;
Neocórtex: o cérebro racional, que só os seres humanos possuem.

Atualmente, o Reptiliano e o Límbico (inconsciente) são chamados de Sistema Um e o Neocórtex (consciente), de Sistema Dois. Cerca de 90 a 95% de nossas decisões são tomadas no Sistema 1, de maneira Inconsciente, pois, ao longo de nossa evolução, o cérebro aprendeu alguns atalhos de comportamento, para que não precisássemos gastar tanta energia pensando de maneira racional.

Chamamos esses atalhos de vieses cognitivos. Um desses vieses é o de afinidade, que possui como tendência dar uma avaliação melhor para quem ou o que é parecido conosco.

Quem nunca se sentiu injustiçado, recebeu um hate, ou terminou um relacionamento de maneira conturbada? Luísa Sonza não tem medo de expor suas vulnerabilidades, assim, consegue conectar-se genuinamente com sua audiência e fãs, por meio de uma ferramenta denominada storytelling. O cérebro ama escutar histórias, nas quais essa prática se estabeleceu desde a pré-história: costumávamos sentar ao redor de fogueiras e contá-las de maneira despretensiosa.

Ademais, existe algo na neurociência chamado “neurônios-espelho”: todos temos dias que nos sentimos debochados e empoderados, e dias que acordamos mais vulneráveis, tristes e carentes. Luísa mostra isso nos dois lados do álbum e nós sentimos as dores da cantora em nós mesmos, seja chorando ao escutar a faixa “penhasco.”, ou dançando ao som de “VIP *-*” e “INTERE$$EIRA”.

Arquétipos de Carl Jung


Carl Jung, psicólogo suíço, fala que todas as culturas, contos e histórias possuem 12 personalidades (padrões de comportamento), os quais os seres humanos se reconhecem, como o herói, o fora da lei, o governante, o inocente, o romântico, o sujeito comum, o sábio, o criador, o explorador, o bobo da corte, o prestativo/caridoso e o mago.

Para Doce 22, Luísa atua com os arquétipos do governante e fora da lei, mostrando o empoderamento da mulher (Lado A), mas ao mesmo tempo traz o arquétipo do sujeito comum e do romântico, alegando que, assim como nós, Luísa Sonza também é um ser cheio de medo, dúvidas, sofre e chora e se apaixona (Lado B).

Logo, para reforçar esses arquétipos, a cantora deixa os looks mais coloridos e rosas de lado, e traz uma imagem mais dramática, com roupas escuras, olho mais marcado e cabelo mais platinado.

Deixe sempre um gostinho de “quero mais”


Luísa optou por lançar quase seu álbum todo de uma só vez, porém deixando algumas músicas para lançar nos próximos meses.

Mesmo as músicas que foram lançadas de uma vez, Luísa desperta a curiosidade de seu público, ao comunicar o lançamento dos clipes e Lyric Vídeos, praticamente um por semana.

Essa estratégia de trazer teasers, gerando curiosidade no público, é uma estratégia de Neuromarketing: o cérebro inconscientemente ama “começo, meio e fim”.

Além disso, Luísa avisou em entrevista que seus clipes e suas músicas possuem Easter Eggs: as falas soltas em músicas, as datas que aparecem em seu clipe, que têm conexão com a composição e sua história. Isso tudo deixa o nosso cérebro louco para assistir ao clipe várias vezes, além de canais de fofoca criarem conteúdo em cima dessas informações.

Portanto, Luísa Sonza ensina que, ao fazer um lançamento de uma coleção, um novo produto, ou serviço, a marca deve gerar curiosidade de maneira positiva na sua audiência e entregar algo a mais do que querem.

Boa e velha nostalgia

Sonza e sua equipe trabalham com mais um recurso de neurociência, a nostalgia, trazendo referências das divas Pop do passado (Britney Spears e Chistina Aguilera), as quais também sofreram hate, foram vítimas de fake news, pressão estética e machismo, ao longo de suas carreiras.

Por todas essas estratégias e por tudo que ainda está por vir, cabe a nós exaltarmos mais as nossas Divas Pop brasileiras, afinal, Luísa Sonza não deixou nada a desejar, entregando conteúdo, conceito e referências. Muito sucesso a Luísa nessa nova fase.

Mariana Munis é professora de Marketing e Comportamento do Consumidor da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas.

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