Uma das primeiras áreas a serem afetos diretamente pela pandemia foi o setor de audiovisual, no início as filmagens foram totalmente interrompidas, pequenas e grandes produções precisaram ser paralisadas.
Isso tudo fez com que pequenas produtoras tivessem de lutar para sobreviver, encontrando novos meios para continuar seus trabalhos. Mas como está o cenário hoje? Como o setor está enfrentando a crise?
Para entender melhor isso conversamos com o Leandro Alvarenga, CEO da Prime Arte, uma das produtoras que driblaram a crise e só no primeiro trimestre aumentou 65%. Confira a entrevista na íntegra:
ADNEWS – Em meio à pandemia, como ficou o cenário e as perspectivas para o setor audiovisual no Brasil?
Leandro Alvarenga: “A pandemia foi um grande baque e no início foi bem complexo para o audiovisual. Nos primeiros meses de 2020 vimos esse setor sofrer com as paralisações de todos os projetos, sobretudo na parte de gravações externas, por depender exclusivamente de fornecedores, funcionários e toda a equipe de produção juntos nessa área. Esse cenário, em específico, continua complicado por ainda estarmos em isolamento social. Produtoras que trabalhavam apenas com eventos não tinham outro alicerce para suas produções e foram deixadas de lado quando tudo passou a ser online. Para nós e para muitas outras, foi preciso uma reinvenção para garantir a sobrevivência. Começamos a trabalhar com direção remota, o que acabou se transformando em um novo modelo de negócios. O investimento em animação e tecnologia também foi essencial. As empresas que não tinham outros meios para continuar projetos, não tinham outros braços, sofreram muito e por fim, fecharam as portas. Se não houvesse um plano b para novas fontes de renda dentro da empresa, dificilmente ela conseguiria se manter.”
ADNEWS – Qual a importância da produção audiovisual para o mercado neste momento?
Alvarenga: “Para mim, ela nunca foi tão importante como agora, sobretudo na comunicação interna e endomarketing em todas as empresas. Por precisarem manter um fluxo de conteúdo contínuo em campanhas, anúncios internos e externos, estratégias, entre outros, agora de forma virtual, essas organizações se tornaram muito dependentes desse tipo de comunicação em formato de vídeo e isso aumentou muito o volume de produções audiovisuais.”
ADNEWS – Desde o início da pandemia vem se levantando movimentos de apoio aos pequenos negócios. Como você vê isso na indústria audiovisual? As pequenas produtoras estão recebendo apoio?
Alvarenga: “Relacionado aos movimentos de apoio às pequenas produtoras, não consegui ver nenhum tipo de apoio efetivo. Ao contrário, apenas vi mais e mais restrições e proibições. Acompanhei de longe alguns movimentos para produtoras que trabalham apenas com captações externas, mas foram isolados e não cobrem praticamente nenhuma parcela desse mercado. Também não vi nada vindo do governo ou empresas privadas especificamente que tenham grande relevância. O setor teve que se virar e continua se virando para atravessar a crise. Não vejo as produtoras recebendo apoio, até porque esse é um setor que não é visto como prioritário dentro de uma cadeia de consumo, de necessidades básicas. Nosso sindicato não é tão forte também.”
ADNEWS – Como a Prime Arte lidou com a crise? Os números caíram, se mantiveram ou aumentaram?
Alvarenga: “Os números efetivos de 2021 nós vamos saber apenas em maio. Mas podemos dizer que conseguimos crescer em faturamento 65% a mais no primeiro trimestre de 2021 em relação ao mesmo período dos últimos três anos. Desde junho do ano passado a equipe dobrou de tamanho e hoje conta com mais de 50 funcionários. Já o nosso 2020 foi superior à 2019, o que foi muito interessante porque tivemos três meses ali no começo do ano com um faturamento muito abaixo da nossa capacidade, o que fez muita diferença, mas conseguimos nos recuperar e os outros meses foram muito elevados. Tivemos um aumento no lucro líquido, o que foi muito importante. No ano passado nós focamos no investimento em tecnologia por ter um custo menor de produção. Também adotamos um sistema de assinatura com os nossos clientes no início da pandemia, fechando pacotes customizados semestrais e anuais, o que ajudou na expansão e em uma maior previsibilidade de crescimento.”
ADNEWS – Com o consumo de conteúdo em vídeo crescendo cada vez mais, o que você acredita que as marcas e produtores de conteúdo devem fazer para se destacar com tanta concorrência?
Alvarenga: “Como era previsto lá no começo dos anos 2000, os conteúdos iriam começar a chegar em boa parte como audiovisual, muito mais que em forma de texto, por exemplo, mas isso traz um outro problema: como se destacar no meio de tanto conteúdo? Você acessa o YouTube e começa a assistir alguma coisa do mercado financeiro, logo está vendo uma aula de culinária e de repente está em um conteúdo jornalístico. Esse algoritmo vai te levando a ver inúmeras coisas de seu interesse. Então, o destaque disso tem a ver com quem conseguir criar bons conteúdos aliados à tecnologia. Hoje em dia só fazer bons conteúdos não rende, porque fica perdido em meio a tantos outros, que não se destaca. Isso leva a outros players, principalmente esses de tecnologia, que podem brigar nesse mercado. Abriu-se um leque maior de oportunidades, até para aqueles que não possuem um background de cinema ou de TV, mas possuem um tecnológico que podem se destacar mais, colocando o audiovisual como algo secundário. É uma tendência que temos que ficar de olho.”