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Rejane Romano

Rejane Romano é jornalista, pós-graduada em Mídia, Informação e Cultura pela Universidade de São Paulo (USP) e atualmente é diretora de comunicação na agência DPZ.

Hoje quero desabafar. Falar de dores que me atormentam e me fazem pensar sobre o papel das empresas, de cada indivíduo e da soma de ações que possam mudar essa triste história.

“Juízes negros são 1,4% dos magistrados, aponta censo do CNJ”, destaca matéria do site Jusbrasil; “Conselho Federal de Medicina aponta que apenas 3% dos médicos são negros”, exibe o portal G1; “Exclusivo: 83% dos presos injustamente por reconhecimento fotográfico no Brasil são negros”, conta o Fantástico; “Empreendedor negro tem crédito negado 3 vezes mais do que branco no Brasil” e “Negros são 75% entre os mais pobres, brancos 70% entre os mais ricos”, nos apresenta o UOL.

Os exemplos acima foram utilizados em uma postagem feita por Rodrigo França, diretor de cinema e teatro e roteirista, em sua rede social, para exemplificar como no Brasil há uma segregação racial evidente.

Mas, aonde eu quero chegar? Comecei falando sobre dor e se você lê essas manchetes e não se sente tocado, partimos do princípio de que há algo de errado.

“Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista” é uma máxima que vai além das hashtags, precisa ser um sentimento. Empatia? Não, mais que isso. É preciso entender o que essa segregação causa. Quanta dor envolve cada um desses índices, que denotam um status quo que delimita acessos.

A exclusão por si só já seria suficiente para uma reflexão a respeito. Mas, se cruzarmos os dados dessas matérias com o número de pessoas pretas à margem da sociedade ou sendo assassinadas na guerra civil que acontece diariamente neste país, o chamado genocídio do povo preto, teremos uma aproximada noção do quanto o racismo adoece.

Muniz Sodré, sociólogo, em seu recente livro ‘O FASCISMO DA COR’ fala que a discriminação racial no Brasil é difícil de combater por ser institucional e intersubjetiva, tendo como marca a negação do preconceito. Ou seja, se você não consegue ver as correlações das manchetes citadas acima como uma expressão viva do racismo; se você não se questiona por que nossa sociedade caminha desta forma; se você não busca se aliar ao combate de situações como essa… então você não é antirracista.

A dor do outro (que você costuma não perceber) “não lhe diz respeito” e os privilégios aos quais goza te mantêm na zona de conforto.

Ufa… desabafo feito, quero agora te chamar à ação. Como ser antirracista? Primeiro, comece a questionar os ambientes onde frequenta. Se dê conta de quais privilégios acessa (não estou falando em abrir mão de privilégios, mas sim de incluir outres naqueles que usufrui). Observe seu ciclo de amizades e se tiver amigues pretos procure saber sobre suas histórias, sobre os desafios, como as vivências destas pessoas são. Pesquise, pesquise, pesquise… E, se comova.

As coisas não “são assim mesmo”, foram estrategicamente pensadas – e, neste ponto, me refiro ao processo de branqueamento racial que data do Brasil Colonial, que perdura até os dias atuais.

Por fim, se nenhuma destas palavras fez sentido para você, faço um desafio: pesquise no Google, em imagens, a frase “situação das pessoas pretas no Brasil”. Ler cada matéria, artigo… me causa uma tremenda dor, mas também a missão de usar a minha voz – como neste momento para falar sozinha, ou falar com alguns poucos, quiçá com muitos – que devemos ser parte da mudança.

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