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Pouco a pouco, as empresas começam a ensaiar o retorno aos escritórios. Opcional, gradual, com vários protocolos de segurança. Os novos modelos de trabalho ainda serão muito discutidos, mas eu gostaria de fazer um exercício aqui: vamos supor que o escritório simplesmente não exista mais. Que essa linha de despesa tenha sido cortada do orçamento da empresa. Quando a notícia chega por meio de uma videoconferência com o presidente da empresa, imediatamente todos os funcionários começam a trocar mensagens privadas ou em pequenos grupos discutindo a novidade.

Vou começar pelo lado positivo dos novos modelos de trabalho: todos teriam a liberdade de escolher a cidade ou país em que irão morar. Acho essa possibilidade incrível, principalmente quando pensamos que o Brasil tem suas vagas executivas tão concentradas em São Paulo e no Rio de Janeiro. O custo de vida seria mais baixo, mais pessoas morariam em casas e tomariam sol com maior frequência. A combinação surfista e executivo não seria rara. E, sem dúvida, felicidade é um dos principais caminhos para a produtividade.

Por outro lado, as pessoas que trabalham na mesma empresa já não teriam a possibilidade de construir o mesmo tipo de relação. Com o passar do tempo, poucos teriam o privilégio de terem se conhecido pessoalmente. Tenho um exemplo para compartilhar: durante a pandemia, trocamos de agência na Visa e, como consequência, eu nunca tive uma reunião presencial com meus novos parceiros de mídia, planejamento, criação ou atendimento. Considero isso um prejuízo grande! Acredito muito no papel do cliente de inspirar a agência e vender os nossos projetos para que, por sua vez, eles devolvam as melhores ideias.

Certa vez, um CMO com quem trabalhei disse que cada cliente tem a agência que merece. Eu concordo. Nada mais poderoso do que o olhar, um sorriso e algumas risadas para estabelecer essa conexão. E a videoconferência “filtra” boa parte disso.

Sem escritório, os encontros no café ou no corredor deixariam de existir.  E aquelas conversas informais, as cobranças rápidas, as pequenas dúvidas, tudo teria que ser substituído por uma interação planejada e agendada. É um fato: a maioria simplesmente deixaria de acontecer. Quantos convites para uma reunião de 5 minutos você recebeu no último ano?  As reuniões por Zoom ou Teams têm duração de 30, 60, 90 minutos em sua maioria. Não faz sentido agendar uma conversa curta, certo?  E, por definição, é impossível planejar um encontro casual.

Tudo isso me faz pensar no escritório como um lugar de encontros. A infraestrutura tecnológica pode ser levada para a casa facilmente: computadores, monitores, acesso a pastas compartilhadas, sem falar nos telefones fixos que já até desapareceram. O difícil é levar o quadro branco e as canetas coloridas, nos quais invariavelmente pessoas e ideias se encontram. É dessa forma que a hierarquia de mensagens da nova campanha vai ganhando corpo, uma frase desce, outra sobe, outra é apagada, outra reescrita. No final, um mosaico de cores e letras de pessoas diferentes, e alguém tira uma foto com o celular para capturar todo o valor daquele encontro tão produtivo.

Tenho certeza de que já existe um aplicativo “quadro branco” por aí. Mas, novamente, não é sobre a infraestrutura dos novos modelos de trabalho. É sobre o encontro. Minha percepção é de que se os escritórios deixarem de existir, eles precisarão ser inventados novamente. Talvez até num formato diferente, com menos salas ou baias individuais, e mais parecidos com uma loja conceito da Starbucks. Mas os encontros são insubstituíveis para a geração de valor, velocidade e engajamento nas empresas. O tempo dirá.

*Sergio Giorgetti, é VP de Marketing da Visa do Brasil.

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